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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

JESUS E O MOÇO RICO


O encontro de Jesus com o moço rico, registrado em Mateus, 19:16 a 24; Lucas, 18:18 a 25; e, Marcos, 10:17 a 25, surge como um autêntico convite à reflexão acerca dos valores que escolhemos para serem o epicentro de nossas existências.

De início, é digno de realce o gesto do jovem rico ao se dirigir ao encontro de Jesus. Estando ele na juventude e gozando de riqueza, pertencia à elite judaica. Em contrapartida, Jesus representava um homem do povo, circulando entre as fileiras da multidão composta por desfavorecidos, enfermos e indivíduos de reputação questionável. 

Naquela época, não era frequente que um homem abastado se entrelaçasse com as massas. Ainda mais incomum era alguém de posição social proeminente, como o jovem rico, procurar o aconselhamento de um homem simples do povo.

Jesus enfrentou intensas críticas e oposições por interagir com aqueles marginalizados pela sociedade daquela época. Como resultado, indivíduos de classes sociais mais elevadas, intelectuais e eruditos evitariam buscar Jesus em público. Caso sentissem a necessidade íntima de se conectar com ele, seguindo o exemplo de Nicodemos, o doutor da lei, procurariam-no sob o manto da noite, buscando o encontro discreto a fim de minimizar a exposição.

O jovem rico, entretanto, transcende a barreira do preconceito e procura Jesus à luz do dia, revelando, por meio desse ato, a magnitude de conflitos e inquietações que carregava consigo.

Ao se aproximar de Jesus, o moço lança imediatamente uma pergunta.


- Bom Mestre, que devo fazer para conseguir a vida eterna?


A pergunta visava a obter uma resposta que desvendasse o caminho para alcançar a paz interior. Afinal, é desafiador compreender por que um jovem rico estaria em busca do significado da vida eterna, a menos que estivesse à procura dessa serenidade profunda.

Jesus fixa o olhar no íntimo do jovem e, antes de responder, lhe esclarece: "Por que me chamas de bom? Não há bom senão um só, que é Deus.”

O Mestre recusa o título de bom e o redireciona para Deus, ilustrando que diante dos desafios do mundo, a busca primordial deve ser direcionada a Deus.

Logo após, Jesus responde ao jovem: "Se desejas alcançar a eternidade, observa os mandamentos: não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, não cometerás adultério, entre outros.”

Entretanto, o jovem reage com surpresa, assegurando ter sempre obedecido aos mandamentos. E ele acrescenta, indagando: "O que mais me falta?”

A pergunta evidencia que o jovem, apesar de cumprir os mandamentos conforme a tradição, não experimentava uma realização espiritual completa. Isso reflete uma realidade comum a muitos seres humanos, que mesmo dedicando-se ao estudo do evangelho e ao auxílio ao próximo, não conseguem alcançar a plenitude.

A razão reside no persistente domínio do antigo orgulho, da vaidade arraigada, do egoísmo duradouro e do ciúme enraizado, que continuam a influenciar as dinâmicas das relações humanas.

A realização da plenitude só se torna realizável quando o indivíduo consegue libertar-se de todas as suas falhas morais, sendo este um princípio universal.

Nesse contexto, Jesus indica ao jovem que é necessário ir além do que já havia sido mencionado.


"Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me".

Ao escutar essas palavras, o jovem partiu com tristeza, pois detinha muitas posses. O chamado de Jesus representava uma demanda que ele não estava disposto a aceitar, pois sua afeição por suas posses era forte demais para abdicar delas.

Disse, então, Jesus aos seus discípulos: "em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.  E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus”.

Essas palavras frequentemente foram mal interpretadas, levando à crença de que Jesus estava condenando a riqueza e os bens materiais.

Contudo, é evidente pelo próprio contexto que Jesus não estava condenando a riqueza, uma vez que os próprios discípulos compreenderam isso e, consequentemente, questionaram: "Nesse caso, quem pode ser salvo?”

Se o Senhor estivesse de fato condenando a riqueza, a pergunta do discípulo - "Quem poderá salvar-se?" - não faria sentido, especialmente porque os discípulos eram pessoas de poucos recursos.

O cerne do texto se concentra no desapego dos bens terrenos, uma qualidade que tanto ricos quanto pobres podem alcançar.

A prática do desapego em relação aos bens materiais abre espaço na disposição interior para o interesse nos valores espirituais.

O propósito do texto é convidar o aprendiz a deslocar o foco dos interesses dos bens materiais para os interesses espirituais no cerne da vida.

A centralização dos interesses na posse de bens materiais levou a uma sociedade profundamente materialista e consumista, com um forte apego aos bens terrenos.

Esse apego aos bens materiais se manifesta de maneira óbvia em diversos momentos, inclusive nos momentos mais simples e cotidianos. Seja na satisfação e alegria ao adquirir novos objetos, na necessidade de exibi-los, ou mesmo na tristeza que surge ao perder um bem.

O materialismo também se evidencia nas ações humanas quando se empenha em múltiplas atividades com fins lucrativos, muitas vezes em detrimento do descanso e do convívio familiar, visando acumular recursos para concretizar um determinado desejo de consumo. Da mesma forma, se manifesta quando sentimentos negativos emergem diante da impossibilidade de adquirir o que se anseia.

O encontro entre Jesus e o jovem rico é um episódio repleto de convites de natureza espiritual. 

O Mestre nos convida a sempre buscar Deus como solução para nossos conflitos; nos convida a empreender uma reforma íntima, eliminando as imperfeições morais que bloqueiam o desenvolvimento de virtudes genuínas; nos chama a praticar o desapego em relação aos bens materiais, e a nutrir valores espirituais, aprimorando nossas interações com os outros.

Isso porque o maior investimento que podemos realizar nesta encarnação reside no domínio dos sentimentos.



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O SINAL DE JONAS




Os evangelhos de Lucas e Mateus relatam que, em certa ocasião, um grupo de fariseus se aproximou de Jesus pedindo-lhe um sinal que os convencesse definitivamente de que Ele era o Messias esperado. Jesus respondeu a eles afirmando que nenhum outro sinal lhes seria dado, exceto o sinal de Jonas, que passou três dias e três noites no ventre do grande peixe. 

 Trata-se de um texto que exige reflexões, porque o seu conteúdo espiritual não está aparente. Ao leitor desatento, a resposta de Jesus aos fariseus parece perfeita. Os fariseus pedem a Jesus um sinal e o Mestre lhes diz que o sinal será Sua ressurreição.

 No entanto, a resposta dada aponta para um conteúdo espiritual que deve ser meditado, pois Jesus não proferiu uma única palavra que carecesse de um profundo ensinamento, e também não recorreu a expedientes para atender à hipocrisia dos fariseus.

Por isso, a questão que se coloca é: quem é Jonas? Por que Jesus nos remete a Jonas? Que lições esse personagem possui para nos transmitir? 

A história está registrada no Velho Testamento, no livro de Jonas. Trata-se de um livro bastante breve, com apenas quatro capítulos, que narra uma história aparentemente simples, porém repleta de conteúdo espiritual profundo.

O profeta Jonas relata que Deus o incumbiu da missão de ir até a cidade pagã de Nínive, a capital da Assíria, que era habitada por pessoas perversas e más e que eram inimigas ferrenhas de Israel. A tarefa designada a Jonas consistia em pregar ao povo e adverti-los de que o Deus de Israel os destruiria devido ao seu comportamento imoral. 

Jonas, contudo, recusa essa incumbência e foge da presença de Deus. Ele segue na direção oposta e desce ao porto de Jope, onde embarca no primeiro navio disponível, com destino a Tarsis. Enquanto está em alto mar, surge uma tempestade violenta que ameaça naufragar o navio.

Os marinheiros, em estado de desespero, começam a lançar ao mar as cargas pesadas para aliviar o peso da embarcação. Enquanto isso, Jonas permanece sem se preocupar e desce ao porão do navio, onde acaba adormecendo profundamente. 

Diante da tempestade, os marinheiros, cada um invocando seu próprio deus, concluem que alguém a bordo deve estar provocando a ira divina, o que causa o caos no navio. Decidem então lançar sortes para determinar quem era o culpado por essa calamidade.

A sorte recai sobre Jonas, e eles o questionam a respeito de sua responsabilidade na situação. Jonas relata-lhes toda a sua história e a missão que Deus lhe confiara. Impressionados, os marinheiros lançam Jonas ao mar, buscando aplacar a cólera divina. Nesse exato momento, surge um grande peixe, enviado por Deus, que engole Jonas, onde ele permanece por três dias e três noites. 

Durante esses três dias e três noites dentro do peixe, Jonas sente-se imerso no abismo, nas profundezas do inferno. Profundamente arrependido de suas ações, ele suplica por misericórdia divina.

Nesse momento, o peixe vomita Jonas em terra firme. Deus, então, aparece novamente a Jonas e lhe reitera a mesma tarefa que ele havia abandonado, ordenando-o a pregar em Nínive. 

Jonas, finalmente, decide obedecer e parte para Nínive. Lá, permanece por quarenta dias, pregando ao povo sobre a vontade de Deus e alertando sobre a iminente destruição da cidade. Os ninivitas, ao ouvirem a mensagem de Jonas, sentem-se profundamente tocados e começam a crer no Deus de Israel, mudando seus caminhos de forma definitiva.

Diante desse arrependimento sincero, Deus demonstra misericórdia e não executa a destruição anunciada. No entanto, Jonas fica descontente e inconformado com o fato de Deus ter poupado os ninivitas, que eram seus inimigos declarados. Ele expressa sua frustração em oração, pedindo que Deus lhe tire a vida, pois preferiria morrer a testemunhar a compaixão de Deus para com seus inimigos. 

Deus, em resposta às súplicas de Jonas, não lhe retira a vida, mas faz crescer uma grande planta sobre sua cabana, proporcionando-lhe sombra e frescor. Jonas se alegra imensamente com isso. Entretanto, Deus envia um verme para destruir a planta, deixando Jonas novamente exposto ao sol escaldante.

Nesse momento, Jonas expressa sua frustração e pede novamente a Deus que lhe seja tirada a vida. Deus, por sua vez, questiona Jonas sobre sua intensa revolta diante da perda de uma simples árvore. Ele acentua que essa árvore não foi plantada por Jonas e surgiu e desapareceu em um único dia. Deus utiliza essa situação para fazer Jonas compreender que se ele sentiu compaixão por uma planta, quanto mais Deus deve sentir compaixão pelo povo de Nínive, que é um povo que mal conhecia a diferença entre suas mãos.

 E, assim, termina a história de Jonas. 

Alguns aspectos da história de Jonas merecem uma reflexão cuidadosa. Antes de tudo, é importante destacar que o final do texto, escrito aproximadamente entre o século V e VII a.C., apresenta uma visão de Deus diferente daquela revelada por Moisés.

O texto sugere um Deus de amor, paciente com todos, que não se cansa diante das fraquezas humanas, do egoísmo, da falta de vontade e do orgulho de seus filhos. Ele é retratado como um Deus que oferece oportunidades de recomeço e que nunca nos abandona, mesmo quando nos encontramos nas sombras devido à nossa própria rebeldia. Esse aspecto enfatiza a misericórdia e a compaixão divina, ressaltando o desejo de Deus de oferecer oportunidades para que as pessoas se redimam e se transformem. 

O final do texto ressalta um padrão mental humano equivocado, marcado pelo egocentrismo e egoísmo. Mostra como muitos buscam o amor de Deus apenas para si mesmos, acreditando merecer perdão e misericórdia, enquanto secretamente desejam a punição daqueles que os ofenderam. 

O início do texto, que apresenta a missão de Jonas, é de fato um ponto importante de reflexão. A missão atribuída a Jonas nos convida a refletir sobre nossa própria missão e propósito na vida, pois a cada ser humano é confiado  uma missão singular que está alinhada com suas necessidades evolutivas. 

Entre as diversas missões que Deus confia a Seus filhos, a mais relevante é a missão no lar, ao lado daqueles a quem Jesus colocou ao nosso lado, ou seja, nosso próximo mais próximo. 

Jonas simboliza o psiquismo que decide rejeitar a missão divina que lhe foi confiada e faz uso equivocado do livre arbítrio, optando pela fuga. Ao evadir-se de sua tarefa, Jonas imediatamente inicia um processo de queda, revelando, assim,  uma lei divina e universal. Três momentos evidenciam essas quedas de Jonas: ele desce a Jope, desce ao navio e desce ao porão da embarcação, entregando-se a um profundo sono, caracterizado pela inércia, irresponsabilidade e conformismo. 

É exatamente isso que acontece quando fugimos da missão que Deus nos confiou: fazemos um movimento de queda vibratória. 

O lar é a nossa Nínive, onde estão aqueles espíritos ligados a nós pelos laços mais santos. Perdoar e servir a esposa ou o esposo complicado, o filho rebelde, o irmão ignorante e cheio de vícios, a sogra perturbada, o genro orgulhoso, a nora cega de vaidade, o pai e a mãe muitas vezes difíceis, incompreensíveis, insensíveis, castradores, entre outros, é realmente um desafio. Diante desse quadro, muitos optam por fugir. 

Essa fuga se manifesta de diversas maneiras, como passar mais tempo fora de casa envolvido em diferentes atividades; em outras ocasiões, ocorre através do mergulho nos vícios, bem como em outros relacionamentos, ou até mesmo por meio de enfermidades. É notável quantas patologias podem ser entendidas como verdadeiras tentativas de escapar das responsabilidades e desafios que o convívio no lar e com aqueles que nos são mais próximos apresentam. No entanto, enfrentar essas situações de frente, com amor, paciência e compreensão, pode levar a um crescimento pessoal profundo e ao fortalecimento dos laços familiares, transformando o lar em um espaço de aprendizado e evolução espiritual. 

Todas as nossas quedas morais resultam do uso equivocado do livre arbítrio, nos conduzindo por um caminho de descida e queda. No entanto, Deus nunca nos abandona. Ele proporciona novas oportunidades àqueles que cometem erros e caem. O recomeço coloca o viajante na mesma encruzilhada que antes recusou seguir. A mesma tarefa é novamente confiada a ele. Isso também aconteceu com Jonas; depois de reconhecer seu erro, pedir uma nova chance e passar por um longo período de quedas, tormentos e escuridão, Deus o enviou mais uma vez a Nínive.

Analisemos o perfil de Jonas e façamos uma reflexão bastante sincera,  buscando identificar os traços de Jonas em nós. e tenhamos ânimo e coragem para sermos fiéis aos compromissos que Deus nos confiou, a fim avançarmos, deixando para traz o ponto a que temos nos demorado tanto.



domingo, 22 de janeiro de 2017

LEGIÃO, PORQUE SOMOS MUITOS!


Jesus passava pela região dos gadarenos quando um homem emergiu das sepulturas e correu ao Seu encontro assim que O avistou. Esse não era um homem comum; há muito tempo estava possuído por demônios. De aparência desgrenhada, parcialmente despido, com olhos vitrificados e alimentando-se de restos, ele habitava o local destinado às sepulturas.

Ao ver Jesus, o homem correu e prostrou-se diante da Luz do Mundo, exclamando: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? "Peço que não me atormentes." Jesus perguntou: "Qual é o teu nome?" Ele respondeu: "Legião é o meu nome, pois somos muitos."

Naquele momento, uma manada de porcos passava por ali. O homem implorou a Jesus que não os expulsasse da província. Os demônios rogaram: "Envia-nos para os porcos, para que entremos neles." Jesus consentiu, e os espíritos imundos entraram nos porcos. A manada se precipitou por um despenhadeiro no mar e se afogou.

O texto conduz a lições profundas que vão além da narrativa aparente. Literalmente, a história fala de um homem vítima de obsessão espiritual. No entanto, ao encontrar Jesus, a personificação do amor, ele corre ao Seu encontro, suplicando que o deixe em paz, pois seu tempo ainda não havia chegado (Mt 8:29).

O diálogo se estabelece com a legião de espíritos que sugavam as energias vitais do homem (Mc 5:9-13). Eles pedem a Jesus que lhes permita entrar nos porcos que passavam por ali, e o Mestre concede. Consumada a transferência, a manada se atira penhasco abaixo e se afoga no mar.

O texto nos convida a um autoexame. Questiona o cultivo de "sepulcros" internos, onde abrigamos paixões, pensamentos e emoções infelizes. O autoconhecimento é uma recomendação constante nas mensagens de Jesus. Contudo, muitos, ocupados com as trivialidades do mundo, negligenciam essa prática. E quando a morte chega, surpreendem-se ao perceber que sua mente foi um depósito de cadáveres emocionais, alimentando longos processos de auto-obsessão.

Emmanuel, no livro "Pão Nosso", capítulo 32, reflete sobre o tema: "Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição."

É preciso questionar quem está no comando de nossas ações, pensamentos e desejos. Estamos sendo guiados por nossa consciência divina ou pelas nossas imperfeições morais e vícios? Essas imperfeições consomem as energias sutis da alma e estabelecem conexões com mentes que vibram na mesma frequência, levando a processos obsessivos difíceis de romper.

Por outro lado, é crucial refletir que, embora o ser humano encarnado necessite da matéria para sua evolução, o culto ao material e ao impermanente cria amarras que o aprisionam. Isso o situa em uma faixa vibratória tão densa que sua condição se assemelha à do homem obsidiado de Gadareno. Nada conseguia libertá-lo dessa situação, pois todas as tentativas de removê-lo dali foram em vão; ele estava profundamente atado às suas próprias trevas. Ele só se libertou quando a legião de espíritos que o atormentava foi transferida para uma manada de porcos. A imagem da manada de porcos se atirando do penhasco simboliza as múltiplas reencarnações  do espírito, necessárias para a superação das imperfeições morais.

O Evangelho de Jesus é o maior tesouro enviado pelo Pai para despertar as almas do sono profundo da ignorância. No entanto, dois mil anos se passaram, e a humanidade ainda exibe os mesmos defeitos: orgulho, egoísmo, vaidade, impaciência e ignorância diante dos desafios da vida.

Quando procrastinamos a mudança de um comportamento reconhecidamente errôneo, a voz do homem de Gadareno ressoa em nosso íntimo: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?"

O momento para a mudança é agora, não amanhã. Jesus desafia as consciências daqueles que já são capazes de entender Seu Evangelho, mas relutam em viver de acordo com Seus ensinamentos. Eles preferem permanecer, como o homem de Gadareno, nos sepulcros de suas imperfeições, vivendo com uma legião de vícios e fraquezas morais.

Lembremos do apóstolo Paulo que nos convida a despertar.

 "Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Efésios 5:14)









domingo, 29 de março de 2015

Deus e a ciência


A Revolução Francesa foi um dos acontecimentos mais importantes da história do Ocidente, marcando o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea. As ideias iluministas, que a impulsionaram, instituíram o culto a razão para interpretar o mundo, questionando-se o caráter sagrado do poder, defendido pelos reis, pela aristocracia e pela Igreja. Para os iluministas, a razão poderia auxiliar todos os homens na explicação dos fenômenos da natureza e da forma de organização da sociedade.
Foi nesse período, de efervescência que precedeu a revolução francesa, que um destacado político francês, Pierre-Gaspard Chaumette, se incumbiu de projetar e organizar cerimônias nas principais igrejas no território francês, as quais foram transformadas em modernos Templos da Razão[1]. A catedral de Notre Dame, Paris, foi palco da maior de todas as cerimônias. Em 10/11/1972, o altar cristão foi desmontado e um altar à Liberdade foi instalado, proclamando-se, então, a inexistência de Deus.
Daquele marco histórico para os dias atuais, muitas foram as opiniões e manifestações filosóficas, culturais e cientificas no sentido de se negar a existência de Deus, como consciência cósmica, universal, expressão do supremo amor, que a tudo governa, com leis ainda incompreendidas pela consciência humana.
Todavia, a par das opiniões lançadas, em todos os tempos, por mentalidades apaixonadas, a atualidade registra posições ateístas de personalidades expressivas, destacando-se, nesta ocasião, a recente declaração de um dos mais notáveis cientistas que o mundo atual conheceu, o astrofísico britânico Stephen Hawking, que revelou para a imprensa mundial, em setembro de 2014, ser ateu, porquanto “não há nenhum aspeto da realidade fora do alcance da mente humana”. Acrescentou, ainda, que a religião acredita em milagres, mas estes são incompatíveis com a ciência.
É verdade! Não existem milagres, nem tão pouco fenômeno natural que possa escapar à compreensão humana. A medida que o homem progride intelectualmente passa a compreender fenômenos impossíveis de serem entendidos no passado. As ferramentas desenvolvidas pela ciência moderna, capazes de penetrar o macro e o microcosmo, permitiram ao ser humano comprovar realidades impossíveis de serem sequer imaginadas naquele período em que o culto da razão fez frente ao absolutismo da monarquia. Como conceber naqueles dias a ideia da existência de universos paralelos, da teoria das cordas, dos whormlores, dos buracos negros, dos Bóson de Higgs, e tantas outras descobertas no campo da ciência, as quais revolucionaram a compreensão do universo, permitindo-se, ainda, uma melhor qualidade e maior sobrevida ao ser humano.
Allan Kardec, em 1957, pesquisou os milagres, fenômenos naturais, até então, incompreendidos pela mente humana, e publicou o resultado de suas pesquisas no livro A gênese. Em momento algum a doutrina espírita se movimentou por caminhos desprovidos da razão. A espiritualidade explicou racionalmente, há duzentos anos, os fenômenos naturais, bem como as leis que os regem. E até hoje a ciência não conseguiu demonstrar que a doutrina dos espíritos houvesse errado em quaisquer de suas afirmações. Kardec afirmou, inclusive, que “se algum dia a ciência provar que o Espiritismo, está errado em determinado ponto, abandone este ponto, e fique com a ciência”.
A assertiva do gênio Stephen Hawking sobre a capacidade humana de compreender todos os fenômenos naturais é fato que se solidifica com o tempo. Aquilo que a física clássica não consegue explicar, vem sendo investigado e explicado pela moderna mecânica quântica.  A medida que o ser humano evoluir intelectualmente, conseguirá compreender todos os fenômenos que o cercam, antes considerados milagres, pois é assim que tem que ser: nascer, morrer, renascer e evoluir sempre. É da lei.
É preciso considerar que a fé espirita é raciocinada, e por isso não pode abrigar as teorias de alguns homens, que em nome da ciência, afirmam que o nada ou qualquer outro acidente sideral houvesse produzido todas as coisas, mantendo-as sob a governança de leis físicas perfeitas, muitas ainda desconhecida pela inteligência humana.
É possível crer de forma racional na existência de uma consciência superior, cósmica, universal, causa primaria de todas as coisas, sem que as descobertas cientificas sejam desmerecidas. E, assim, afirmar, que Deus existe, não como O conceberam as religiões que, em Seu nome, dominaram as consciências ao longo das civilizações, proclamando guerras e cometendo crimes, os mais hediondos.
Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, assim definido pelos espíritos à Allan Kardec, no livro dos espíritos, questão primeira. E essa inteligência suprema já não é mais uma entidade mitológica pontuada pelas religiões, mas a única fonte para explicar a realidade do Universo.
A propósito, vale a pena ler o artigo do ex-presidente da academia de ciência de Nova Iorque, Abraham Cressy Morrison, publicado pela primeira vez em janeiro de 1948, no Digest do Reader e republicada em novembro de 1960, com o título “Sete razões pelas quais um cientista crê em Deus”, resumidamente comentado por Divaldo Franco em suas palestras, cujo texto segue:
1º - Comecemos pelo movimento de rotação do sol, que é de cerca de 1.600 quilômetros horários. Se, por acaso, este movimento fosse 10 vezes menor, o que equivale dizer de 160Km/h, a vida na Terra seria impossível. Os dias teriam 120 horas, assim como as noites. E durante as 120 horas de calor, a vida seria totalmente destruída pelo excesso de luminosidade, pela ardência. E qualquer forma de vida que sobrevivesse morreria nas 120 horas de trevas, portanto de frio. Logo, alguém pensou sobre isso!
2º - Se, por exemplo, o sol não se encontrasse a 150 milhões de quilômetros de distância, digamos que ele estivesse a 100 milhões, a vida seria impossível, porque os raios caloríficos seriam tão terríveis que absorveriam todas as águas e a vida desapareceria. Mas, se por acaso, o sol estivesse a 200 milhões de quilômetros de distância, a vida também seria impossível por falta de calor suficiente. Se, por acaso, a lua estivesse mais próxima da Terra, a vida seria totalmente impossível, porque as pressões magnéticas sobre as águas ergueriam marés tão altas que lavariam as cumeadas das montanhas e, através da erosão, destruiriam, duas vezes ao dia, todas formas de vida. Logo, alguém – ou algo – pensou matematicamente em como manter esse equilíbrio.
3º - Se, por acaso, o fundo do mar fosse mais baixo dois metros apenas não haveria a vida na superfície da Terra, pois a água do mar absorveria o oxigênio e o gás carbônico e os seres vivos não poderiam respirar. Se, por acaso, a atmosfera da Terra, que mede 60 quilômetros, fosse menor, a vida seria totalmente impossível porque diariamente caem sobre a Terra milhões de aerólitos, pedaços de planeta. Se a atmosfera da Terra não houvesse sido necessariamente calculada, eles destruiriam a vida e provocariam milhões de incêndios diariamente. Logo, alguém pensou sobre isso!
4º - Ninguém sabe qual é a sede do instinto dos animais. É algo tão admirável que a Ciência ainda não localizou. Tomemos como exemplo o “nosso” João de Barro, pássaro que, quando chega a Primavera, sobe no galho mais alto da árvore mais elevada, coloca o bico na direção do vento e ele sabe de que direção virá o vento quando chegar o próximo inverno. Assim, o João de Barro constrói a casa colocando a porta no sentido oposto do vento de inverno. Se a porta for colocada errada, as suas crias morrerão. Mas o João de Barro não erra nunca.
5º - Vamos usar outro exemplo: o instinto das enguias, que sabem que quando procriam, elas morrem. E elas, só podem procriar em águas muito profundas. Quando chega a época da reprodução, elas nadam milhares de milhas marítimas, de todos os lados, de todos os mares, de todos os oceanos onde estão, e vão reproduzir-se nas águas abissais das Bermudas. Ali elas se reproduzem e morrem. E os seus filhos? Sem saberem de onde vieram os seus ancestrais, nadam e voltam às águas de onde vieram os seus genes. E não erram nunca. Jamais foram encontradas enguias europeias em águas americanas ou enguias americanas em águas europeias. E esse instinto foi tão caprichoso que, sabendo que a enguia europeia está mais longe do que a americana das águas das Bermudas, atrasa um ano a reprodução europeia para chegarem todas ao momento da reprodução na América Central. É maravilhoso narrar a respeito dos instintos dos animais. Mas quem ensinou primeiro pássaro fez isso. E fazem-no até hoje. E Morrison afirma crer em Deus por causa também dos instintos dos animais.
Sexta razão: Ele ainda pinça, de seus conhecimentos admiráveis, a distância que separa a Terra do sol, de aproximadamente 150 milhões de quilômetros. É ela que proporciona ao nosso mundo a tépida sensação de calor, nem insuficiente, nem exagerada para a manutenção da vida, mesmo incandescendo a superfície do astro rei 6.648 em graus centígrados. Se a Terra estivesse mais próxima do sol, seria esturricada pelo calor. Mais afastada do que na órbita elíptica atual, se perderia pela insuficiência térmica, por inadequados raios ultravioletas, infravermelhos e caloríficos, mantenedores do equilíbrio metabólico na vida vegetativa.
Sétima razão: É evidente e racional que uma inteligência matemática e superior estabeleceu e providenciou as condições de vida para a Terra, restando uma chance em bilhões de que nosso planeta fosse o resultado de um acidente filho do acaso.
Não obstante, Deus continua sendo o Grande Anônimo, incompreendido e mal interpretado pelos humanos.
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[1] Durante dois meses, Novembro e Dezembro de 1793, o Culto da razão se estendeu pela França. As igrejas foram desprovidas de seus aparatos tradicionais e a Deusa Razão foi entronizada em cerimônias festivas. Carlyle, referindo-se a cerimônia de Notre Dame, exclama indignado que a bailarina Candeille era levada em procissão, e acrescenta: "escoltada por música de sopro, barretes frígios, e pela loucura do mundo". Realmente tudo parecia loucura, naquele momento irreal. A tradição se esboroava. Os ídolos caíam. Bispos e padres renunciavam. Carlyle acentua que surgiram de todos os lados: "curas com suas recém-desposadas freiras". E uma bailarina da Ópera era transformada em deusa, embora apenas de maneira simbólica.