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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

EDUCAÇÃO PARA A MORTE

                                                                    

Apresentando uma proposta pedagógica para a compreensão do tema, Herculano Pires, no livro "Educação para a Morte", descreve nas primeiras linhas do primeiro capítulo o episódio vivenciado pelo grande filósofo grego Sócrates, quando o júri de Atenas o condenou à morte. Sua mulher, ao tomar conhecimento da sentença, correu aflita para a prisão, gritando-lhe: “Sócrates, os juízes te condenaram à morte”. O filósofo respondeu calmamente: “Eles também já estão condenados”. A mulher insistiu no seu desespero: “Mas é uma sentença injusta!” E ele perguntou: “Preferirias que fosse justa?”
A cena evidencia a serenidade com que Sócrates enfrentou a própria morte e, ao mesmo tempo, o desespero da esposa diante do mesmo fato. As reações divergentes de Sócrates e de Xantipa, sua esposa, decorrem, sem dúvida, de um processo educacional: a educação para a morte está presente em Sócrates, enquanto ausente na esposa.
É curioso notar que a vida somente educa as criaturas para a vida, jamais para a morte. Aliás, para muitos, a mera menção desse termo é causa de sofrimento. E assim, desde o nascimento, o aprendizado do ser humano circunscreve-se às necessidades apresentadas pela existência material. 
Educa-se para falar, para andar, para comer, para os relacionamentos, para cuidar da própria higiene e da própria saúde. E no quesito saúde, a educação é dirigida apenas para a saúde do corpo, sem qualquer preocupação com a saúde correspondente à parte que é eterna, como os sentimentos, pensamentos e emoções. 
Durante toda a vida, as pessoas se preparam para realizações pessoais e profissionais, sem sequer se lembrarem de que os dias as conduzem à morte, um fenômeno inevitável que surpreende a todos aqueles que não se encontram com o devido preparo emocional e espiritual para vivenciá-lo. 
Por isso, Herculano Pires, no mencionado livro, na página 15, assinala que a educação para a morte não é nenhuma forma de preparação religiosa para a conquista do Céu. É um processo educacional que visa ajustar os educandos à realidade da vida, que não consiste apenas em viver, mas também em existir e transcender.
Pondera-se, assim, que o processo de educação se inicia com o autoconhecimento, impondo ao aprendiz o trabalho de conhecer a si mesmo e identificar no campo de sua tela íntima os objetivos da vida e o significado da morte. O autoquestionamento é um exercício salutar nesse processo. Quem sou eu? Quais sentimentos sustento em meu mundo íntimo? Que sentimentos me causam sofrimento? Que sentimentos me proporcionam felicidade? Qual é o objetivo da minha encarnação? O que tenho que aprender? O que estou fazendo para atingir esse objetivo? O que é morrer? Como é morrer? Que comportamento terei no momento da morte? E logo após? O que me impediria de deixar meu corpo? 
Meditar e refletir a respeito dessas questões é uma medida que conduz ao autoconhecimento. Neste ponto, a doutrina espírita apresenta-se como uma grande aliada no processo de educação para a morte. Por isso, destaca-se a importância da leitura do Evangelho, do Livro dos Espíritos, de "O Céu e o Inferno" e, enfim, das obras básicas e subsidiárias, as quais se apresentam como facilitadoras do processo de autoconhecimento. 
A doutrina espírita permite a compreensão de que todos somos espíritos eternos, em trânsito no mundo material para a aquisição de conhecimentos e experiências, com o objetivo de desenvolver faculdades e potencialidades divinas. Portanto, a morte não é um pesadelo nem um fenômeno ruim; pelo contrário, é uma necessidade, pois encerra uma etapa para que outra se inicie. 
Herculano Pires, no livro “A Evolução Espiritual do Homem”, afirma que viver é diferente de existir. Viver é ocupar-se apenas em atender às necessidades do corpo. Existir é priorizar a satisfação dos anseios da alma. Desconhecendo a sua realidade de ser cósmico, são muitos os que vivem somente para satisfazer as demandas da matéria, especialmente comer, beber, manter relações sexuais, adquirir fortuna e poder. Não percebem que o corpo físico é apenas um instrumento de trabalho do espírito em direção à perfeição. É por isso que as pessoas que vivem apenas para a matéria frequentemente experimentam um imenso vazio no coração. 
O ser que existe é aquele que busca o autoconhecimento e, à medida que trabalha pela sua transformação moral, sente crescer no coração a necessidade de atender e amar o próximo. O ser que existe compreende melhor os erros alheios e pratica o perdão. Distribui o bem que é possível e descobre que fazer o bem o torna feliz. 
Transcender é mais do que simplesmente viver. Portanto, estamos encarnados no mundo com o propósito de transcender. A roda das reencarnações, como é sustentado no hinduísmo, não chega ao fim até que o ser aprenda a transcender, o que implica ir além e ultrapassar a esfera material por meio do exercício do desapego. Isso envolve desapego em relação aos bens materiais, desapego dos relacionamentos afetivos, das ideias e das posições intelectuais, entre outros.
Por isso, em Mateus 16, 25-26, Jesus ensina que “quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, encontrará a verdadeira vida.”
Com tais palavras, Mestre enfatizava o equívoco daqueles que atravessam a existência física entregando-se exclusivamente às realizações do mundo material, já que a verdadeira vida reside no plano espiritual. Ganhar a existência material é aproveitar ao máximo a oportunidade da atual reencarnação para enriquecer-se espiritualmente com valores e virtudes ensinados e exemplificados pelo Senhor. 
A proposta de Cristo não é fácil, especialmente em uma sociedade capitalista que exalta a riqueza, o poder, a beleza e a juventude como os maiores valores da existência. No entanto, o Mestre nunca disse que seria fácil, mas afirmou ser possível. Ele também acrescentou: “Tenham bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33). 
O espírito Emmanuel, no livro "Pensamento e Vida", conclui que morrer é mergulhar em si mesmo. Portanto, a educação para a morte é, sem dúvida, o melhor investimento que alguém pode fazer em seu próprio benefício. 
No livro "Obreiro da Vida Eterna", capítulo 19, há uma bela passagem que apresenta Bezerra de Menezes em uma tarefa de auxílio ao momento do desencarne de Adelaide. Observando a ansiedade de Adelaide nesse momento crucial, Bezerra a tranquiliza e lhe diz: "Morrer, minha irmã, é mais fácil que nascer. Quando chegou a minha hora de desencarnar, procurei manter-me tranquilo e concentrei toda a minha lembrança na passagem de Jesus e Lázaro. Pude ouvir a voz do Cristo dizer..." 
– “Lázaro, sai para fora!”
Concentrar-se na vivência dos ensinamentos do Senhor torna mais fácil ao espírito que está se desprendendo do corpo abençoado que lhe serviu como veículo de aprendizado na Terra. Isso lhe permite afastar-se do corpo e contemplar as maravilhas do sol radiante que estão reservadas para todos aqueles que vivem de acordo com as leis divinas. 
Morrer de forma tranquila e serena é, em grande parte, uma questão de educação espiritual e preparo interior.







terça-feira, 5 de setembro de 2017

ABORTO, NA VISÃO ESPÍRITA


aborto e culpa
No "Livro dos Espíritos", em resposta à questão 614, a espiritualidade destaca a observância das leis divinas como o único caminho para a conquista da felicidade humana. Esse guia espiritual indica o que o indivíduo deve ou não fazer, e argumenta que a infelicidade ocorre quando há um afastamento dessas leis divinas.
A revelação espírita proporciona clareza ao afirmar que todas as escolhas contrárias às leis morais resultam em dor e sofrimento. Portanto, segundo os espíritos imortais, o homem é o arquiteto de seu próprio destino.
O espírito, criado em simplicidade e ignorância, possui um caminho seguro inscrito em seu psiquismo para alcançar a paz e a felicidade, conforme indicado na questão 621 do "Livro dos Espíritos". Este caminho se baseia na observância das leis morais, que estão impressas em sua essência psíquica.
Contudo, dotado de livre-arbítrio, o espírito tem a prerrogativa divina de escolher entre a felicidade e a infelicidade. Esta escolha se dá conforme a sua decisão de agir em conformidade ou em desacordo com essas leis morais. Assim, Deus lhe concede a liberdade de escolher seu próprio destino, seja ele de paz e contentamento ou de dor e sofrimento.
O ser humano, contudo, frequentemente opta por desviar-se do plano de felicidade esboçado por Deus, devido às suas próprias imperfeições. Muitas vezes, ele escolhe seguir um caminho autônomo, marcado pelo imediatismo e pelas ilusões que o mundo material oferece. Essa trajetória não apenas falha em conduzi-lo a um destino significativo, mas também deixa marcas profundas em sua alma, resultantes das quedas morais ocasionadas por suas escolhas equivocadas
O dilema das escolhas equivocadas não reside apenas em suas consequências imediatas, mas também no autojulgamento que eventualmente se manifestará, despertando sentimentos de culpa na consciência. Essa culpa, se não for enfrentada de maneira madura, tem o potencial de levar ao adoecimento da alma.
O espírito Joana de Angelis, no livro "Conflitos Existenciais", psicografado por Divaldo Franco, destaca que "a culpa é o resultado da raiva que alguém sente contra si mesmo, voltada para dentro, em forma de sensação de algo que foi feito erradamente". Essa perspectiva sublinha a importância de uma abordagem introspectiva e madura para lidar com os erros e falhas, a fim de evitar o desgaste emocional e espiritual que a culpa não resolvida pode causar.
A referência literária mais antiga sobre o dilema da consciência culpada pode ser encontrada no livro de Gênesis, especificamente na narrativa de Adão e Eva. Após consumirem o fruto proibido, ambos começam a sentir o desconforto da culpa em suas consciências. Isso ocorre porque é na consciência que estão inscritas as leis divinas. Sentindo o peso de uma consciência culpada, o casal tenta esconder sua própria nudez da presença de Deus.
Este ato simbólico revela que a sensação de culpa pode desencadear no ser humano um sentimento de impureza da alma, algo que se sente compelido a ocultar. A narrativa de Adão e Eva ilustra de forma arquetípica como a culpa pode afetar não apenas nosso comportamento, mas também nossa percepção de nós mesmos e nossa relação com o divino.
A narrativa de Adão e Eva pode ser vista como uma metáfora universal para a experiência humana, ilustrando o que ocorre quando nos afastamos das leis divinas para seguir as ilusões e tentações do mundo material. 
Depois de infringirem a ordem divina, consubstanciada no consumo do fruto proibido, Adão e Eva são expulsos do Éden e experimentam uma queda moral. Passam a enfrentar todas as tribulações e sofrimentos que são típicos daqueles que fazem escolhas imprudentes, vivendo, a partir daí, com o fardo da culpa pesando em suas consciências. 
Os personagens de Adão e Eva atuam como arquétipos que representam modelos humanos de falência moral. Eles simbolizam as quedas, os erros, os equívocos e a consciência afligida pela culpa que aflige todos aqueles que se desviam dos princípios éticos e morais. Sua história oferece uma visão penetrante dos desafios que a humanidade enfrenta ao equilibrar o livre-arbítrio com a responsabilidade moral, bem como as consequências dolorosas que podem advir dessa luta interna. É uma narrativa eternamente relevante, pois alerta sobre os desdobramentos espirituais e emocionais de nossas escolhas e aponta para a necessidade contínua de crescimento e redenção moral.
Em contrapartida, o arquétipo de Jesus representa o ideal do "homem de bem", cuja consciência está em perfeita sintonia com Deus e com o universo cósmico. Ele serve como um modelo de integridade moral e espiritual, um exemplo de como viver em conformidade com princípios éticos e leis divinas.
Jesus veio ao mundo com a missão de estabelecer um novo padrão, um novo referencial para a humanidade. Seu ensinamento e sua vida oferecem um caminho alternativo ao ciclo de erros e quedas morais simbolizados pela história de Adão e Eva. Ele ilustra a possibilidade de redenção e crescimento espiritual, demonstrando que é possível viver uma vida de amor, compaixão e justiça, mesmo em um mundo marcado pelo sofrimento e pela imperfeição.
Assim, enquanto Adão e Eva nos mostram as consequências de se desviar das leis morais e éticas, Jesus nos oferece uma visão do que pode ser alcançado quando alinhamos nossas vidas com esses princípios divinos. Ele serve como um farol de esperança e orientação, mostrando o potencial humano para a grandeza moral e a união com o Divino.
O tema do aborto, considerado à luz dos arquétipos e princípios mencionados, é realmente um dos tópicos mais complexos e polêmicos no âmbito da ética e da moral. Ele converge múltiplas facetas da experiência humana — desde o direito inalienável à vida até a autonomia da mulher sobre seu corpo, passando pelas responsabilidades morais e éticas que pesam sobre a decisão.
O tema do aborto, quando considerado dentro do contexto da doutrina espírita, adquire dimensões espirituais específicas. De acordo com a visão espírita, a lei da reprodução é uma lei divina que facilita o processo de reencarnação, dando ao espírito uma nova oportunidade para aprender, crescer e se redimir de erros passados. Nesse sentido, o ato de interromper uma gestação é visto como a negação dessa oportunidade preciosa ao espírito que estava destinado a reencarnar.
Seguindo essa linha de pensamento, a decisão de realizar um aborto poderia ser comparada à desobediência simbólica de Adão e Eva às leis divinas. Em outras palavras, seria uma escolha que se afasta dos princípios morais e éticos, podendo resultar em consequências espirituais e emocionais para todos os envolvidos. 
Infelizmente, o aborto ainda é tolerado pela sociedade, que muitas vezes se organiza para pressionar as autoridades mundiais a fim de obter sua legalização. Essa pressão ocorre com irracional desprezo pelo fato, comprovado pela ciência, de que a vida se inicia no momento da concepção. A doutrina espírita é esclarecedora neste aspecto, afirmando que o aborto é sempre um crime. As consequências espirituais recairão sobre a mulher que o praticou e sobre todos aqueles que, de qualquer forma, contribuíram para sua consumação, por menor que seja a contribuição ofertada. 
Debate-se muito a respeito do direito de decidir sobre o momento de exercer a maternidade. É preciso considerar, no entanto, que esse direito, embora legítimo, encontra limite no direito à vida do espírito já ligado ao óvulo fecundado. O direito de um termina quando começa o do outro, e o maior de todos os direitos é o de viver. Abortar, mesmo que seja no dia seguinte à concepção, é matar e, portanto, comprometer-se diante da lei divina. 
Mesmo no caso de estupro, o aborto é condenável, pois a criança, fruto do estupro, é inocente e não tem qualquer responsabilidade por um delito no qual não tomou parte. Nenhuma gravidez ocorre sem a permissão divina. A gravidez é uma experiência definida no projeto reencarnatório tanto da mulher quanto do homem. 
No caso de estupro, é claro que o crime não foi planejado por Deus. É óbvio que não! No entanto, mentores espirituais aproveitam essa situação dolorosa para trazer um espírito à reencarnação. No caso do estupro, sempre será um espírito muito ligado à mulher, vítima do crime hediondo. Provavelmente, será um ente muito amado, alguém ligado a ela pelos laços mais sublimes do coração. Este aproveita o ato horrível do estupro para se ligar a ela e proporcionar-lhe, com seu amor incondicional, a alegria de viver, ajudando-a a superar o trauma do ato criminoso de que fora vítima. 
Também constitui ação contrária às leis divinas o aborto em casos de má-formação fetal. A má-formação fetal está relacionada com a condição espiritual do espírito que busca desesperadamente, na reencarnação, a oportunidade de reconstruir os padrões energéticos que compõem as tessituras de seu perispírito, danificadas por ações violentas, no passado, provocadas por ele mesmo. 
Negar-lhe a oportunidade de reencarnar é como negar socorro a alguém extremamente necessitado de internação hospitalar. Para esses espíritos, a reencarnação é um tratamento intensivo e de urgência. Para uma melhor compreensão do tema, vale a pena ler o livro "Memórias de um Suicida", da inesquecível médium Yvonne do Amaral.
Somente no caso em que a mãe corre risco de vida é que o aborto é tolerado. 
Todavia, após a escolha equivocada e a consumação do triste ato, é claro que todos os envolvidos colherão, no futuro, os frutos da semeadura que optaram por plantar. Urge, no entanto, que se reergam perante Deus desde agora, pois se o aborto é um crime aos olhos das leis divinas, somente o amor cobre uma multidão de pecados, conforme nos ensinou o Apóstolo Pedro.
Impõe-se, desde já, uma mudança nos padrões mentais, alterando-se o estado de consciência de culpa para o estado de consciência de responsabilidade. A culpa engessa o ser, paralisa-o no caminho e leva-o a agir como Adão e Eva, que fogem da presença de Deus, como se fosse possível a alguém fugir da presença do Pai. A responsabilidade, por sua vez, convida o ser que errou ao trabalho de soerguimento.
Jesus recomendou pegar no arado e não olhar para trás. O arado, à época de Cristo, era um instrumento pesado que exigia força e sacrifício do trabalhador para remover as imperfeições do solo, preparando-o para a semeadura. A imagem é perfeita. 
Urge remover as imensas imperfeições que se têm cultivado no solo dos próprios corações, com sacrifício, coragem e força, para que a semente divina encontre condições emocionais para florescer. 
Diante do erro, a doutrina espírita recomenda trabalho intenso em favor de si mesmo, em busca da própria transformação moral, pois Jesus precisa de todos, mas precisa de todos transformados. 
Trabalhar, amar e servir. Eis as ferramentas para a própria transformação moral, a fim de que o ser se prepare espiritualmente para enfrentar, no futuro, as experiências em que falhou hoje e que serão necessariamente repetidas amanhã.











domingo, 22 de janeiro de 2017

LEGIÃO, PORQUE SOMOS MUITOS!


Jesus passava pela região dos gadarenos quando um homem emergiu das sepulturas e correu ao Seu encontro assim que O avistou. Esse não era um homem comum; há muito tempo estava possuído por demônios. De aparência desgrenhada, parcialmente despido, com olhos vitrificados e alimentando-se de restos, ele habitava o local destinado às sepulturas.

Ao ver Jesus, o homem correu e prostrou-se diante da Luz do Mundo, exclamando: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? "Peço que não me atormentes." Jesus perguntou: "Qual é o teu nome?" Ele respondeu: "Legião é o meu nome, pois somos muitos."

Naquele momento, uma manada de porcos passava por ali. O homem implorou a Jesus que não os expulsasse da província. Os demônios rogaram: "Envia-nos para os porcos, para que entremos neles." Jesus consentiu, e os espíritos imundos entraram nos porcos. A manada se precipitou por um despenhadeiro no mar e se afogou.

O texto conduz a lições profundas que vão além da narrativa aparente. Literalmente, a história fala de um homem vítima de obsessão espiritual. No entanto, ao encontrar Jesus, a personificação do amor, ele corre ao Seu encontro, suplicando que o deixe em paz, pois seu tempo ainda não havia chegado (Mt 8:29).

O diálogo se estabelece com a legião de espíritos que sugavam as energias vitais do homem (Mc 5:9-13). Eles pedem a Jesus que lhes permita entrar nos porcos que passavam por ali, e o Mestre concede. Consumada a transferência, a manada se atira penhasco abaixo e se afoga no mar.

O texto nos convida a um autoexame. Questiona o cultivo de "sepulcros" internos, onde abrigamos paixões, pensamentos e emoções infelizes. O autoconhecimento é uma recomendação constante nas mensagens de Jesus. Contudo, muitos, ocupados com as trivialidades do mundo, negligenciam essa prática. E quando a morte chega, surpreendem-se ao perceber que sua mente foi um depósito de cadáveres emocionais, alimentando longos processos de auto-obsessão.

Emmanuel, no livro "Pão Nosso", capítulo 32, reflete sobre o tema: "Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição."

É preciso questionar quem está no comando de nossas ações, pensamentos e desejos. Estamos sendo guiados por nossa consciência divina ou pelas nossas imperfeições morais e vícios? Essas imperfeições consomem as energias sutis da alma e estabelecem conexões com mentes que vibram na mesma frequência, levando a processos obsessivos difíceis de romper.

Por outro lado, é crucial refletir que, embora o ser humano encarnado necessite da matéria para sua evolução, o culto ao material e ao impermanente cria amarras que o aprisionam. Isso o situa em uma faixa vibratória tão densa que sua condição se assemelha à do homem obsidiado de Gadareno. Nada conseguia libertá-lo dessa situação, pois todas as tentativas de removê-lo dali foram em vão; ele estava profundamente atado às suas próprias trevas. Ele só se libertou quando a legião de espíritos que o atormentava foi transferida para uma manada de porcos. A imagem da manada de porcos se atirando do penhasco simboliza as múltiplas reencarnações  do espírito, necessárias para a superação das imperfeições morais.

O Evangelho de Jesus é o maior tesouro enviado pelo Pai para despertar as almas do sono profundo da ignorância. No entanto, dois mil anos se passaram, e a humanidade ainda exibe os mesmos defeitos: orgulho, egoísmo, vaidade, impaciência e ignorância diante dos desafios da vida.

Quando procrastinamos a mudança de um comportamento reconhecidamente errôneo, a voz do homem de Gadareno ressoa em nosso íntimo: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?"

O momento para a mudança é agora, não amanhã. Jesus desafia as consciências daqueles que já são capazes de entender Seu Evangelho, mas relutam em viver de acordo com Seus ensinamentos. Eles preferem permanecer, como o homem de Gadareno, nos sepulcros de suas imperfeições, vivendo com uma legião de vícios e fraquezas morais.

Lembremos do apóstolo Paulo que nos convida a despertar.

 "Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Efésios 5:14)









quinta-feira, 14 de julho de 2016

REFLEXÃO SOBRE A MORTE

Com o surgimento do Espiritismo há mais de duzentos anos, o fenômeno da morte foi amplamente desmistificado. No entanto, o medo da morte ainda persiste, especialmente em relação ao momento em que ocorre.

Obras como "O Céu e o Inferno" de Allan Kardec e diversas outras psicografadas por Chico Xavier destacam que a experiência da morte varia de pessoa para pessoa. Essas variações dependem do grau de apego à matéria que o desencarnante possui. O estado moral da alma é o principal fator que determina a facilidade ou dificuldade desse desprendimento.

Segundo o livro "O Céu e o Inferno", a afinidade entre o corpo e o perispírito é proporcional ao apego à matéria. Nas almas mais elevadas, que já se identificam com a vida espiritual, esse apego é quase nulo. Portanto, a qualidade do desprendimento depende do grau de pureza e desmaterialização da alma.

O "Livro dos Espíritos" também oferece orientações valiosas, especialmente em sua parte introdutória. Ele afirma que o mundo espiritual é o mundo verdadeiro e eterno, enquanto o mundo físico é secundário. O apego excessivo ao material torna o desprendimento no momento da morte mais difícil.

Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier no livro "Caminho, Verdade e Vida", alerta que tudo que é material está morto ou vai morrer. Portanto, buscar felicidade nas coisas do mundo é ilusório.

O ser humano pode ser considerado materialista dependendo do foco que dá às atividades do mundo material em detrimento do seu "eu interior". Embora a vida terrena exija atenção ao mundo material, negligenciar a autotransformação moral é um erro que pode levar a experiências desagradáveis no momento da morte.

Jesus, em Mateus 8:22, e o apóstolo Paulo em suas epístolas, também alertam sobre os perigos do materialismo. Muitas pessoas vivem no mundo físico como se estivessem "mortas" para a realidade espiritual, o que pode levar a surpresas dolorosas no momento da morte.

O maior desafio do ser encarnado é viver no mundo físico sem esquecer sua natureza espiritual eterna. O autoconhecimento e a reforma íntima são objetivos evolutivos que devem ser perseguidos durante a vida terrena. A morte do corpo físico é inevitável, mas a qualidade dessa transição depende de cada um.

sábado, 14 de janeiro de 2012

A importância da Bíblia para a Doutrina Espírita





A Humanidade já foi contemplada com três revelações. A primeira, quando da vinda de Moisés. Nela, o monoteísmo tomou forma e Deus foi apresentado como o único Deus verdadeiro, em oposição ao politeísmo. Na segunda, quando do advento de Jesus Cristo, foi Deus apresentado como Pai de infinita misericórdia e amor, substituindo o Jeová dos Exércitos, temível e justiceiro. A terceira revelação surge com o advento do Espiritismo, cuja finalidade básica é restabelecer em princípios as primícias dos ensinamentos de Jesus Cristo.
A História conta que, no decorrer dos séculos que sucederam o advento de Cristo, houve numerosas tentativas no sentido de comprovar a realidade dos Espíritos e sua manifestação no plano material. É inegável que algumas chegaram a ser reveladas. Contudo, com maior amplitude, isso se tornou possível apenas no século 19, quando os homens estavam mais preparados para uma nova revelação. Um sopro de vida nova parecia agitar o planeta neste momento de efervescência intelectual, onde as ciências tomavam grande impulso, onde tudo era revelado à luz natural da razão. Surge assim a Doutrina Espírita, marcando a passagem das religiões formais para uma filosofia racionalista. Trata-se, portanto, não de uma negação do passado histórico, mas constitui antes uma síntese dialética de todo o processo da história do pensamento, colimando sempre uma busca de racionalização das concepções fideístas dogmáticas. Seu esforço, portanto, consiste em trazer a religião do domínio mítico para o plano cultural.
Pode-se afiançar que os primeiros precursores do Espiritismo foram os famosos médiuns Emmanuel Swendeborg e Andrew Jachson Davies. Muitos fenômenos marcaram o início da Doutrina Espírita, atraindo a atenção de numerosos sábios de renome mundial. Surgiu, então, no cenário do mundo a figura exponencial de Allan Kardec que buscou estudar e fundamentar cientificamente esses fenômenos, assim como organizar de forma sistemática e metódica os ensinamentos revelados pelos Espíritos.
Conseguiu assim lançar o arcabouço de uma nova doutrina, dando à publicidade O Livro dos Espíritos, em 1857, contendo os fundamentos filosóficos da Doutrina. Em seguida publicou O Livro dos Médiuns, em 1861, contendo a parte científica das relações do plano espiritual com o mundo material, e por último O Evangelho Segundo o Espiritismo, em 1864, contendo a parte religiosa e essencial da Doutrina. É assim que a Doutrina Espírita possui um aspecto tríplice. Ela consiste em uma Ciência —que tem por objeto os fenômenos; uma Filosofia— que tem por objeto as causas primárias do Universo, a natureza dos Espíritos e as Leis Morais; e em uma Religião —que tem por objeto resgatar a essência dos ensinamentos cristãos. Sob esse aspecto o Espiritismo diferencia-se das demais religiões, pelo fato de não possuir nenhuma formalidade ou culto exterior, mas a religiosidade deve dar-se na intimidade do próprio indivíduo, através da prece e da doação de si. O que interessa não é a exterioridade dos ritos e do culto convencional, por vezes precários, mas sim o pensamento e o sentimento do homem.
Há uma sequência histórica que não se pode esquecer ao tomar a Bíblia nas mãos. Quando o mundo se preparava para sair do caos das civilizações primitivas, surgiu Moisés, como o condutor de um povo destinado a traçar as linhas de um novo mundo e, de suas mãos surgiu a Bíblia. Não foi Moisés quem a escreveu, mas foi ele o motivo central dessa primeira codificação do novo ciclo de revelações: o cristão. Mais tarde, quando a influência bíblica já havia modelado um povo, e quando este povo já se dispersava por todo o mundo gentio espalhando a nova lei, apareceu Jesus e, de suas palavras, recolhidas pelos discípulos, surgiu o Evangelho.
A Bíblia é a codificação da primeira revelação, o código hebraico em que se fundiram os princípios sagrados e as grandes lendas religiosas dos povos antigos. É a grande síntese dos esforços da antiguidade em direção ao espírito. O Evangelho é a codificação da segunda revelação, a que brilha do centro da tríade dessas revelações, tendo na figura de Cristo o sol que lança sua luz sobre o passado e o futuro. Mas assim como na Bíblia (Antigo Testamento), já se anunciava o Evangelho, também neste aparecia a predição de um novo código, o do Espírito da Verdade: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Sua finalidade é esclarecer os ensinos anteriores de acordo com a mentalidade moderna, já suficientemente arejada e evoluída para entender as alegorias e símbolos contidos na Bíblia e no Evangelho. Enganam-se os que pensam que a codificação do Espiritismo contraria ou reforma o Evangelho.
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo são abordados textos desde os decálogos de Moisés e essencialmente os ensinamentos de Jesus em sua maioria até as cartas de Paulo, de forma didática e esclarecedora. São estudadas as Leis Morais tratando-se especificamente da aplicação dos princípios da moral evangélica, bem como das questões religiosas acerca da adoração, da prece e da prática da caridade. Nessa parte o leitor encontrará inclusive as primeiras formas de instruções dos Espíritos, com a transcrição de comunicações por extenso e assinadas, sobre questões evangélicas.
Assim sendo, o Espiritismo tem como base as escrituras, tem seus fundamentos na Bíblia. A essência de sua doutrina é o Evangelho, a religiosidade. Trata-se, portanto, de uma religião positiva, baseada nas leis naturais, destituída de aparatos misteriosos e de conotação mítica ou mística. Trata-se, ainda, de uma religião dinâmica, pois coloca a prática da caridade acima de qualquer virtude (I Cor 13:1). Sem dúvida, a prática da caridade guarda íntima relação com os princípios universais de Jesus Cristo, ao sintetizar o Decálogo neste mandamento maior: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22:34). Ser cristão não é um rótulo, mas uma vivência (Mt 7:21), é imprescindível que o homem se revele pelas suas obras: a fé sem obras é morta.
Com relação à fenomenologia mediúnica, a Doutrina Espírita não aceita o milagre ou o sobrenatural, mas explica tudo à luz da naturalidade. O ministério dos anjos, esse ministério divino, a que o Apóstolo Paulo se referiu tantas vezes, é exercido através da mediunidade. A própria Bíblia nos relata uma infinidade de comunicações mediúnicas. Veja-se as palavras do Rei Samuel, em Provérbios 31:1-9, que, segundo o texto bíblico são "a profecia com que lhe ensinou sua mãe". Temos ali uma comunicação espírita integralmente reproduzida na Bíblia.
É importante distinguir o fato de que os estudos bíblicos se processam em duas direções diversas: há o estudo normativo das instituições religiosas, legados a várias igrejas e que seguem as regras da hermenêutica; há o estudo livre dos institutos universitários independentes, que seguem os princípios da pesquisa científica e da interpretação histórica. O Espiritismo não se prende a nenhum dos dois sistemas pois sua posição é intermediária. Reconhecendo o conteúdo espiritual da Bíblia, o Espiritismo estuda à luz dos seus princípios em harmonia com os métodos da antropologia natural e dos estudos históricos.
Segundo afirmação de Jesus em João, capítulo 10 "eu e o Pai somos um". Desta forma todos os homens possuem uma unidade essencial. Daí a importância de viver uma religião unitária em essência e verdade - o ecumenismo - apesar da variedade das formas em que se expressam.

Fonte: Portal do Espirito (Astrid Sayegh)