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segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Jesus e a Ansiedade

Não Vos Inquieteis - Reflexão sobre Ansiedade na Visão Espírita | Ceifa de Luz

Não Vos Inquieteis: o roteiro de Jesus para vencer a ansiedade

Eis por que vos digo: "Não vos inquieteis por saber onde achareis o que comer para sustento da vossa vida nem de onde tirareis veste para cobrir o vosso corpo. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que as vestes?" Olhai os pássaros do céu: não semeiam, não ceifam, não guardam em celeiros, mas vosso Pai celestial os alimenta. Não valeis muito mais do que eles? E qual, dentre vós, o que pode, com todos os seus esforços, aumentar sequer alguns instantes de sua vida? Por que, também, vos inquietais pelo vestuário? Olhai como crescem os lírios dos campos; não trabalham nem fiam; entretanto, Eu vos declaro que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como um deles.

Ora, se Deus tem o cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, que existe hoje e amanhã será lançada na fornalha, quanto maior cuidado não terá em vos vestir, ó homens de pouca fé! Não vos inquieteis, pois, dizendo: Que comeremos? Ou: que beberemos? Ou: com que nos vestiremos? como fazem os pagãos, que andam à procura de todas essas coisas; porque vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo. Assim, pois, não vos inquieteis pelo dia de amanhã, porque o amanhã cuidará de si. A cada dia basta o seu mal.

(Mateus, 6:19 a 21; 25 a 34)

A Repetição Significativa do "Não Vos Inquieteis"

A leitura do texto, narrado por Lucas, denota que a expressão 'não vos inquieteis' aparece quatro vezes no texto. Esta repetição não é casual - ela nos convida a uma profunda reflexão sobre como a inquietação e a ansiedade têm se tornado obstáculos em nossa jornada evolutiva espiritual.

Consultando o dicionário, encontramos o termo 'inquietação' definido como perturbação, falta de tranquilidade ou calma - um sentimento de apreensão ou preocupação que se aproxima da ansiedade.

A Ansiedade e Seus Desdobramentos

A ansiedade, em sua manifestação natural, é uma emoção que nos prepara para enfrentar desafios ou ameaças. No entanto, quando se torna persistente e excessiva, transforma-se em uma verdadeira armadilha mental, aprisionando-nos em preocupações constantes com o futuro, sejam elas reais ou imaginárias. Nesse estado, pode evoluir para um transtorno de ansiedade, comprometendo significativamente nosso equilíbrio e qualidade de vida.

Foi sobre os perigos dessa preocupação excessiva com o futuro que Jesus, há mais de dois mil anos, nos alertou. Não por acaso, repetiu várias vezes 'não vos inquieteis', enfatizando a importância desse ensinamento.

O Equilíbrio Entre o Material e o Espiritual

Não vos inquieteis com a busca por coisas materiais que excedam as necessidades reais para uma sobrevivência digna. Jesus não nos pede para sermos negligentes com nossas responsabilidades familiares ou necessidades materiais básicas, mas nos convida a reavaliar o peso que essas preocupações exercem sobre nosso bem-estar.

O ensinamento não propõe o abandono de nossas obrigações, mas sim seu enfrentamento com serenidade e confiança, impedindo que as inquietações materiais nos subtraiam a paz interior. Trata-se de encontrar o justo equilíbrio entre o cumprimento de nossos deveres e a preservação de nossa harmonia espiritual.

As Metáforas da Natureza

Para ilustrar sua mensagem, Jesus recorre a exemplos simples da natureza. Ele nos fala sobre os pássaros, que não semeiam nem colhem, mas são sustentados pelo Pai, e sobre os lírios do campo, que não trabalham nem fiam, mas são revestidos de uma beleza que transcende qualquer riqueza material. Esses exemplos revelam a ordem perfeita que rege a Criação, um sistema divino em que cada elemento é amorosamente cuidado e sustentado.

Através dessas metáforas, o Mestre nos ensina que, assim como os pássaros e os lírios, também somos parte integrante dessa ordem divina. Ao afirmar que 'a vida é mais que o alimento, e o corpo mais que as vestes', Jesus estabelece uma hierarquia de valores que nos auxilia a reorientar nossas prioridades em um mundo cada vez mais dominado pelo consumismo e pela busca incessante de bens materiais.

A Ansiedade na Era Digital

Este ensinamento mostra-se especialmente relevante em nossa era de profundas incertezas e ansiedades crescentes. Vivemos um tempo em que o futuro é frequentemente percebido como ameaçador, sob a constante pressão social e o imediatismo que caracterizam nosso cotidiano. A exigência de estarmos continuamente conectados, respondendo instantaneamente a mensagens e atendendo a inúmeras demandas externas, intensifica nosso sentimento de sobrecarga e exaustão mental.

A 'síndrome do pensamento acelerado' reflete nossa realidade atual, onde a avalanche de estímulos rápidos e incessantes impede reflexões mais profundas e significativas. A busca desenfreada por conquistas materiais e validação externa contribui para a formação de um vazio existencial que nenhum bem material consegue preencher.

Agravando esse cenário, a exibição de vidas supostamente 'perfeitas' nas redes sociais alimenta a ansiedade coletiva, levando muitos a perseguirem padrões irreais de felicidade e sucesso. Essa busca perpetua frustrações e promove a desconexão com a própria essência, numa sociedade que privilegia as aparências e valoriza o 'ter' em detrimento do 'ser'.

O Reino de Deus Interior

O Reino de Deus, tal como apontado por Jesus, não diz respeito a um lugar físico ou a uma condição externa a ser alcançada, mas a uma realidade espiritual que reside dentro de cada um de nós. No Evangelho de Lucas (17:21), o Mestre declara: "O Reino de Deus está dentro de vós", reforçando a ideia de que esse Reino é uma dimensão interna, acessível por meio de um mergulho no próprio ser — um encontro com nossa alma, em uma jornada profunda de autoconhecimento.

Reflexões Fundamentais

  • Quem realmente somos?
  • O que estamos fazendo da oportunidade de estarmos encarnados neste mundo de provas e expiações?
  • Que valores morais já conquistamos?
  • Quais dificuldades superamos e quais ainda precisamos vencer?

Sobretudo, somos convidados a olhar com clareza e humildade para nossas próprias limitações, aprendendo a nos amar em nossa humanidade e pequenez. Afinal, somos eternos aprendizes da vida, em constante processo de crescimento espiritual.

A Prática da Serenidade

Tudo na vida é prática e repetição. Nossa mente está habituada a viver no futuro, e não será repentinamente que conseguiremos mudá-la. É preciso, gradualmente, disciplinar nossos pensamentos, substituindo hábitos mentais perturbadores por aqueles saudáveis que propiciam a vivência do amor. Assim, manter-nos-emos serenos, com a mente focada em ideais elevados.

Conclusão

Sigamos o conselho de Jesus e aprendamos com a natureza, observando os pássaros no céu e os lírios do campo. Ela nos ensina a realizar um pouco a cada dia, respeitando nossos limites, com serenidade, sem a ansiedade de transformações imediatas. As construções do Espírito são eternas e, justamente por isso, demandam tempo. Aquilo que perdurará pela eternidade precisa receber o selo sagrado do tempo, do esforço persistente, da perseverança incansável e da paciência amorosa.

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sábado, 9 de novembro de 2019

O cego e Jericó

O Cego de Jericó - Uma Análise Espiritual Profunda

O Cego de Jericó - Uma Análise Espiritual Profunda

Jericó, uma cidade importante situada no Vale do Jordão, prosperou graças à sua agricultura e economia, o que a tornou atrativa para os negociantes em busca de lucro material. No contexto simbólico do evangelho, essa ênfase no materialismo fez com que Jericó fosse associada à busca humana por prazeres transitórios no mundo.

Talvez por isso, o Evangelho de Marcos 10, 46-52, inicia pontuando que Jesus entrou e saiu rapidamente de Jericó. Depois, retornou com seus discípulos e uma grande multidão (Mc 10, 46). Este movimento do Cristo, entrar, sair rapidamente e entrar novamente, nos convida a uma reflexão com os olhos voltados para as questões materiais, em especial ao uso que fazemos dos recursos materiais que a providência divina nos emprestou nesta atual encarnação.

O Simbolismo dos Movimentos de Jesus

Neste início do texto nos propomos a nos questionar a respeito do quanto estamos envolvidos com as riquezas materiais de que dispomos, em especial nos questionarmos se estamos nos permitindo dominar por esses recursos.

Notemos o movimento do Cristo. Ele entra em Jericó, mas dali sai rapidamente. Mas, logo em seguida, entra novamente na cidade, devidamente acompanhado de seus discípulos e uma multidão. Podemos captar desta cena a seguinte mensagem: usar os bens materiais de que dispomos (entrar em Jericó) sem nos apegar a eles (sair rapidamente), e empregá-los em benefício do bem comum (entrar novamente com os discípulos e uma multidão).

Bartimeu e a Cegueira Espiritual

E é justamente em Jericó, na cidade símbolo das riquezas materiais, que encontramos Bartimeu, o cego de nascença, mendigando à beira do caminho.

Tudo o que está nos textos sagrados possui uma transcendência fundamental. Nenhuma palavra foi escrita sem um propósito espiritual.

O cego, mendigando à beira do caminho, na cidade símbolo das riquezas materiais, é um convite direto para refletirmos sobre nossa cegueira espiritual, que se manifesta quando estamos excessivamente focados nos aspectos materiais do mundo, imersos no materialismo egoísta que a cidade simbolicamente representa.

Entretanto, chega um momento em nossa jornada evolutiva em que sentimos a necessidade de enxergar e compreender além do que está diante de nós.

O Simbolismo da Inércia e do Movimento

Mateus, inicia texto informando que "Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto ao caminho, mendigando" (Mc 10, 46).

Sob o ponto de vista espiritual, podemos estabelecer um paralelo entre o cego que permanece sentado à beira do caminho mendigando e a postura muitas vezes adotada por nós diante das experiências que a vida nos propõe. Preferimos permanecer inertes, cegos, esperando que algo seja feito por nós ou para nós. A condição de pedinte ou servo, escravo ou liberto, é sempre uma questão de escolha e posicionamento individual diante da vida. No texto, Bartimeu representa o ser humano inerte, sem movimento. Por outro lado, Jesus representa o movimento da alma lúcida, que não se detém frente aos obstáculos da vida. O movimento desta alma desperta é de caminhar, avançar e servir a todos, uma atitude oposta à passividade representada pelo personagem de Bartimeu.

O Clamor da Alma

Prossegue o texto: "... e ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar e a dizer: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! (Mc 10, 47)"

Clamar é mais do que simplesmente pedir, é implorar. Ao clamar, Bartimeu demonstra seu profundo sofrimento e suplica a Jesus com todo o sentimento de sua alma. O sofrimento desperta a humildade naquele que sofre. E a dor educa quando o amor, ainda não descoberto, não pode desempenhar a mesma função.

A Perseverança na Fé

E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! (Mc 10, 48)

Repreender é censurar. Muitos são os censores da conduta alheia, porque ainda não compreenderam o verdadeiro significado do "amai-vos uns aos outros", tornando assim o caminho mais difícil.

Mas, Bartimeu, por sua vez, clamava cada vez mais alto, sem se intimidar com aqueles que não o compreendiam. Diante de todas as dificuldades em sua vida, ele escolheu perseverar. E aqueles que perseverarem até o fim receberão o auxílio divino.

O Encontro com o Cristo

E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama (Mc 10, 49)

O Mestre, que seguia em sua jornada, interrompe seu caminho ao deparar-se com a dor de Bartimeu, demonstrando sua compaixão e prontidão em socorrer o necessitado. O comportamento do Cristo, neste trecho, é um valioso ensinamento para a alma humana, que não deve se manter indiferente diante das necessidades do próximo. A atitude de Jesus reflete a obrigação de sempre auxiliar aqueles que se apresentam em nosso caminho.

A Transformação Interior

E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se e foi ter com Jesus (Mc 10, 50)

Levantar-se é sair da posição de inércia, colocando-se em movimento. Lançar de si a capa da indigência é despir-se dos conflitos espirituais que mantêm a pessoa presa ao passado, abandonando as máscaras que a tornam doente. Para encontrar o Cristo interno, é imprescindível que a pessoa se levante, saia da posição psíquica de quem espera ser servido e comece a agir, abandonando os velhos hábitos, sentimentos e pensamentos que a mantêm em uma condição espiritual infeliz.

O Pedido e a Cura

E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista (Mc 10, 51)

A pergunta feita por Jesus ao cego Bartimeu revela um profundo respeito pela Lei da Vida e pelo livre-arbítrio. Ouvir a resposta de Bartimeu era fundamental, pois são as respostas que damos às experiências da vida que determinam se permaneceremos aprisionados ou nos libertaremos dos estágios dolorosos a que nos entregamos deliberadamente. Diante do Cristo, o cego teve a oportunidade de pedir várias coisas, mas escolheu humildemente pedir apenas a capacidade de enxergar, de ver além das limitações físicas.

A Fé que Salva

E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho (Mc 10, 52)

A fé que cura é uma força dinâmica, enraizada na confiança plena. A fé que salva vai além das imperfeições morais que causam enfermidades na alma, capacitando-a a expandir sua visão interna. Com uma visão ampliada, a alma é capaz de refletir sobre si mesma e iniciar um processo ascendente de transformação moral, gradualmente libertando-se dos vícios que a mantinham inerte, cega e mendigando.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

O Cego de Betsaída

O Cego de Betsaída - Uma Análise Espiritual Profunda

O Cego de Betsaída - Uma Análise Espiritual Profunda

Betsaída era uma aldeia de pescadores situada ao nordeste do Mar da Galiléia, próxima a cidade de Cafarnaum, muitas vezes visitadas por Jesus.

Certa vez, quando o Mestre estava passando por aquele lugar, Ele foi solicitado a curar um cego, como é relatado no Evangelho de Marcos 8:22-26.

O texto não menciona o nome do homem, apenas relata que ele enfrentava a dura provação da cegueira, que o impedia de se relacionar com o mundo exterior por meio do sentido mais significativo, a visão.

A Dimensão Simbólica da Cegueira

O tema central do texto é a cegueira, que representa a ausência de um dos sentidos primordiais para a expressão do espírito em evolução no mundo material.

No entanto, ao refletirmos sobre a cegueira física, somos conduzidos a examinar uma outra dimensão de obscuridade: a cegueira espiritual.

Enquanto a privação da visão física afasta alguém do mundo externo, a cegueira espiritual é uma barreira que impede a verdadeira autoconsciência, tornando difícil a percepção das próprias imperfeições morais, que podem se converter em obstáculos em nossa jornada de evolução.

O Método Singular de Jesus

É notável observar que a forma de agir de Jesus neste caso especial do cego de Betsaida difere dos outros relatos de cura de cegos encontrados nos evangelhos. Segundo o texto, em Betsaída, diante do cego, Jesus não o cura imediatamente, como de costume, mas gentilmente toma-lhe pelas mãos e o conduz para fora da aldeia.

De fato, ao refletirmos sobre o modo de atuação de Jesus com o cego de Betsaida, somos levados a considerar o significado simbólico da aldeia. No contexto espiritual, a aldeia pode representar não apenas um local físico, mas também as limitações e estreitezas da vida material. É como se a aldeia simbolizasse as restrições impostas pelo mundo material e suas preocupações mundanas, que podem dificultar nossa visão espiritual e nosso progresso interior.

O Simbolismo da Jornada Espiritual

Certamente, o gesto de Jesus ao conduzir o homem para fora da aldeia pode ser interpretado como um convite espiritual. Ele está simbolicamente convidando a humanidade a buscar uma conexão íntima com Ele no âmago do coração, afastando-se dos interesses imediatistas, mundanos e superficiais.

Ao levar o homem para fora da aldeia, Jesus indica que a verdadeira transformação espiritual ocorre quando nos desprendemos das preocupações terrenas e nos voltamos para uma busca interior mais profunda. Ele nos convida a estabelecer uma relação pessoal com Ele, transcendendo os aspectos superficiais e transitórios da vida material.

O Processo de Cura Espiritual

Somente após retirar o cego da aldeia, Jesus deu início ao processo de cura, simbolizado pelo ato de aplicar Sua saliva nos olhos do cego. Isso nos revela que somente quando nos dispomos a nos desvincular das frivolidades da vida mundana e nos entregamos à introspecção psíquica, podemos alcançar uma comunhão íntima com Cristo (Self). Essa comunhão profunda, que ocorre por meio do mergulho em nossa intimidade psíquica, nos permite reconhecer e enxergar aspectos de nós mesmos que antes permaneciam ocultos.

Prosseguindo no texto, observamos que após receber a cura proporcionada por Jesus, o homem que antes era cego passa a enxergar de forma distorcida, não compreendendo a realidade observada. Isso sugere ao estudante do evangelho que o verdadeiro entendimento das coisas requer mais do que simplesmente a capacidade de enxergar. Nem sempre o que nossos olhos veem corresponde à verdadeira realidade. É por essa razão que Jesus nos aconselhou a evitar fazer julgamentos precipitados ("não julgueis..."), pois nossa visão ainda é limitada para compreender plenamente as situações que observamos.

A Transformação Final

Diante da dificuldade em enxergar corretamente, Jesus impôs novamente as mãos sobre os olhos do homem e o fez olhar para cima, restaurando completamente sua visão (Marcos 8:25).

Por mais habilidoso que seja o terapeuta, sua ação serve apenas para despertar no necessitado suas próprias capacidades regenerativas. A verdadeira cura depende da transformação interna do indivíduo. Jesus impôs as mãos, realizando ajustes energéticos em seu aparelho visual, mas a plena restauração do cego ocorreu somente quando ele direcionou seu olhar para cima.

Se o coração é considerado símbolo dos sentimentos, é pelos olhos que o ser humano revela a que sentimentos está conectado. Olhar para cima simboliza a busca por esferas mais elevadas de consciência e compreensão. Para enxergar além das sombras e ilusões, é essencial erguer os olhos, elevar o entendimento e purificar os pensamentos.

A Mensagem Final

O texto termina com uma instrução intrigante. Após a cura do homem que antes era cego, Jesus o orientou a voltar para casa, sem passar pela aldeia (Marcos 8:26).

Essa instrução desperta questionamentos sobre o propósito e o significado por trás dessa ordem específica de Jesus. Por que Ele instruiu o homem a evitar a aldeia? Sem dúvida, há uma mensagem profunda e subliminar a essa orientação.

É bastante plausível considerarmos que o Mestre deseja transmitir a mensagem de que, uma vez que nossa visão tenha sido ajustada para compreender propósitos mais elevados, é essencial redirecionar nossa vida para um novo caminho. Isso implica evitar o retorno aos antigos padrões de comportamento e pensamento que, embora possam persistir em nossa intimidade, não são mais benéficos para nosso crescimento espiritual.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O Cego de Nascença

O Cego de Nascença

O Cego de Nascença

O capítulo 9 do Evangelho de João inicia destacando a postura dinâmica de Jesus, que está sempre em movimento. Ele não apenas está fisicamente em movimento, percorrendo diferentes lugares e encontrando pessoas em suas necessidades, mas também está constantemente em movimento espiritual, buscando estender Sua luz e amor a todos.

Naquele dia, conforme registrado em João 9:1-3, Jesus, ao passar, viu um homem que era cego de nascença. E, de forma intrigante, seus discípulos o interrogaram: "Rabi, quem pecou, ele ou seus genitores, para que fosse gerado cego?" A resposta do Mestre é profunda: "Nem ele pecou nem seus genitores, mas para que fossem manifestadas nele as obras de Deus."

A Concepção Judaica de Deus

Primeiramente, devemos nos deter na pergunta elaborada pelos discípulos. De imediato, a pergunta revela a ideia que o povo judeu mantinha em relação a Deus naquela época. Sem dúvida, eles concebiam a ideia de Deus como um ser vingativo, que punia a humanidade por seus desvios, impondo enfermidades, limitações físicas e mentais como castigo, conforme relatado em grande parte dos textos bíblicos.

A pergunta feita a Jesus também denota que, para o povo da época, Deus não era apenas visto como vingativo, mas principalmente como injusto, pois punia não apenas os pecadores, mas também sua descendência.

A Reencarnação na Tradição Judaica

Por outro lado, a pergunta formulada pelos discípulos deixa transparecer a crença dos judeus na reencarnação. Eles acreditavam, sem dúvida alguma, que o ser humano nasce, morre e renasce em novas vidas sucessivas.

Essa ideia se torna evidente na pergunta feita pelos discípulos, pois se a cegueira do homem era desde o nascimento, não faria sentido lógico perguntar quem havia pecado, se o cego ou seus pais. Isso sugere que eles reconheciam a possibilidade de que as consequências dos atos e escolhas de vidas passadas pudessem refletir na situação atual de uma pessoa. Afinal, nascido cego, em razão de suposto castigo que lhe fora infligido pelo Deus vingador, os discípulos queriam saber quando aquele homem havia pecado.

Referências Bíblicas à Reencarnação

Aliás, a questão da reencarnação era o pensamento da época, sendo, inclusive, abordada em outros episódios da Bíblia, como, por exemplo, em Mateus 17:10-13, onde Jesus afirma que João Batista é Elias reencarnado. É verdade que o termo "reencarnação" não foi empregado especificamente no texto, uma vez que se trata de um termo mais contemporâneo. No entanto, a declaração de Jesus sobre João Batista ser Elias indica claramente a ideia de uma nova manifestação ou retorno de uma mesma entidade espiritual em uma nova vida. Elias, como profeta, havia desaparecido cerca de nove séculos antes de Jesus, e a profecia em Malaquias 5:4 previa seu retorno antes da vinda do Messias.

Outra passagem referente a reencarnação está descrita em João 3, 1-12, no episódio que narra o encontro de Nicodemos com Jesus. Nicodemos procurou Jesus com o objetivo de obter esclarecimentos sobre uma questão que o perturbava. Ele buscava respostas para suas dúvidas e ansiava por compreender melhor as verdades espirituais. Ele queria saber o que era necessário fazer para alcançar o Reino de Deus. Ao sondar a intimidade de Nicodemos, Jesus afirma ao fariseu, que era mestre e doutor da lei, a necessidade de nascer de novo para alcançar conquistas espirituais significativas. Diante do espanto de Nicodemos em relação ao tema, Jesus expressa surpresa, dizendo-lhe que seria difícil explicar-lhe sobre as coisas celestiais se ele, sendo um mestre em Israel, não compreendia plenamente as coisas terrenas.

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A Lei de Causa e Efeito

O texto de João também aponta que, além do tema das vidas sucessivas, a pergunta feita pelos discípulos a Jesus indica que os judeus tinham um entendimento sólido da lei de causa e efeito como manifestação da justiça divina. Eles compreendiam que os males enfrentados na vida presente estavam relacionados a faltas cometidas no passado. No entanto, sua compreensão da justiça divina estava permeada pela ideia de castigos e punições.

A Verdadeira Natureza de Deus

Jesus veio ao mundo para ensinar aos homens que Deus é amor, cuja justiça é toda fundamentada na misericórdia. Um Pai Amoroso que não pune, nem castiga, mas educa os filhos que muito ama para que aprendam igualmente a amar.

É por isso que Jesus responde aos discípulos que a cegueira do homem não tinha qualquer relação de causa e efeito com seu passado, não sendo, portanto, resultado de punição divina, porque Deus não pune, Deus educa.

A Autopunição e Suas Manifestações

A punição é uma manifestação da imperfeição humana. Como seres imperfeitos e frágeis, carregamos em nossa consciência as leis divinas, e mais cedo ou mais tarde somos levados a confrontar nossas ações registradas em nosso íntimo. Diante dos desvios cometidos, a punição se impõe como forma de buscar alívio da culpa que nos atormenta e nos rouba a paz.

A mente humana, quando desequilibrada pela culpa, pode interferir nas estruturas sutis do corpo físico e espiritual, resultando em enfermidades, problemas e aflições. Essa autopunição pode manifestar-se por meio de aflições e doenças que surgem como consequência das emoções negativas e dos padrões de pensamento dissonantes. A carga emocional não resolvida e a autocrítica podem desencadear um ciclo de autopunição, afetando tanto o bem-estar físico quanto o espiritual. Quantas aflições e doenças são resultados da autopunição.

O Mecanismo da Autopunição

A autopunição é uma resposta emocional e mental que muitas vezes surge como uma tentativa ilusória de resolver conflitos com as leis divinas. É uma forma infantil e limitada de lidar com a culpa e a busca pela reconciliação interior. Ao escolher a autopunição, o ser humano acredita que está pagando por seus erros e se redimindo, mas na verdade essa abordagem não traz uma verdadeira cura ou transformação.

É assim que o ser humano, frágil e imperfeito, diante de um crime cometido contra seu próximo, para livrar-se da consciência de culpa, escolhe renascer sem os braços que outrora usou para ferir, porque ainda é incapaz de pensar na possibilidade de embalar nos braços, como filho, aquele que no passado feriu. Renascer sem os braços é escolha humana, jamais Justiça Divina.

A Verdadeira Justiça Divina

A justiça divina, segundo Emmanuel, no livro O consolador, opera-se de forma diversa. Na resposta à questão 135, Emmanuel diz que todo aquele que interferir indevidamente na harmonia divina, expressão do belo e do harmonioso, terá que recompor os elos sagrados que foram rompidos. Emmanuel usa o verbo recompor, que significa recuperar, reorganizar.

Ao voltarmos ao texto de João para examinar a resposta dada por Jesus aos discípulos, nos deparamos com uma nova revelação. Jesus ao responder aos discípulos, acrescentou que: "Nem ele pecou nem seus pais; mas foi assim para que se manifestem nele as obras de Deus."

As Obras de Deus

Notemos que nem toda dor e sofrimento são mecanismos de operação da lei de causa e efeito. Jesus nos apresenta uma outra verdade: a cegueira do homem era manifestação das obras de Deus.

E o que são as obras de Deus? Obras são resultados de uma ação. A cegueira do homem era resultado de uma ação e não de uma punição, como acreditavam equivocadamente os discípulos. Na verdade, a cegueira do homem, funcionava como um instrumento para impulsionar seu progresso espiritual.

Este tema está tratado no Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo V, item 09:

"Não se deve crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo seja necessariamente indício de uma determinada falta. Muitas vezes são simples provas escolhidas pelo Espírito para concluir a sua depuração e acelerar o seu adiantamento.

Casos Ilustrativos

No livro Missionários da Luz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, capítulo 12, o espírito André Luiz, narra casos semelhantes, dentre os quais cita-se o caso de Silvério e de uma moça, cujo nome ficou no anonimato.

Silvério, quando da análise de seu projeto reencanatório, acolhe a sugestão de seus mentores, em nascer com um problema na perna, a fim de que o problema de saúde da perna se lhe apresentasse como um "antídoto à vaidade, uma sentinela contra a devastação do amor próprio".

A moça, cujo nome ficou no anonimato, solicita ajustes em seu modelo de corpo físico, para que desenvolvesse problemas na tireoide e na paratireoide, a fim de não se apresentar na Terra com uma forma física perfeita, acrescentando que preferia a fealdade corpórea, para não sucumbir aos apelos da vaidade.

Conclusão

O diálogo entre Jesus e seus discípulos, assim como os exemplos dos personagens do livro "Missionários da Luz", nos esclarece que as deficiências físicas e outras dificuldades enfrentadas durante uma encarnação não sejam apenas flagelos expiatórios, mas também oportunidades de crescimento espiritual. Essas experiências desafiadoras podem ser vistas como ferramentas de ascensão, permitindo que o espírito imortal avance em seu caminho evolutivo.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

A Parábola do fermento

A Parábola do fermento

A Parábola do Fermento

No relato da parábola do fermento, presente em Lucas 13:21, Jesus utiliza símbolos e imagens singelas para veicular ensinamentos espirituais. Estes temas, conectados à neuroespiritualidade, foram mais tarde elucidados à humanidade através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier no livro "No Mundo Maior".

A que é semelhante o Reino de Deus e com o que posso compará-lo? É semelhante a um fermento que uma mulher tomou e misturou em três partes da massa, até a massa toda ficar levedada.

O Conceito do Reino de Deus

A expressão "Reino de Deus" é uma das mais recorrentes nas palavras de Jesus, conforme registrado nos quatro evangelhos. Isso por si só sinaliza a centralidade e a profundidade desse conceito em sua mensagem, convidando-nos a uma reflexão profunda sobre seu significado.

A Perspectiva Transcendental

No episódio mencionado em Lucas 17, 20-21, um fariseu, que representa aqui uma compreensão mais literal e expectante da vinda do Reino, indaga a Jesus sobre o tempo e o modo de sua manifestação. Muitos, na época, ansiavam por um reino tangível, um evento espetacular na sequência histórica que mudaria a ordem das coisas.

A resposta de Jesus, contudo, desconstrói essa expectativa. Ele declara que o Reino de Deus não se manifesta através de indicativos externos visíveis. Não é um evento que possamos apontar e dizer: "Veja, está aqui!" ou "Lá está!". Em vez disso, Jesus apresenta uma perspectiva transcendental e, ao mesmo tempo, profundamente pessoal: o Reino de Deus está intrinsecamente ligado à intimidade do ser humano, à sua essência e consciência.

Em outras palavras, não é apenas um fenômeno exterior a ser observado, mas uma realidade interna a ser vivenciada e realizada dentro de cada indivíduo. A forma como Jesus responde ao fariseu revela que o termo "Reino de Deus", de fato, guarda uma profunda conexão com a dimensão imaterial do ser, refletindo a consciência e o psiquismo humano.

A Simbologia do Fermento e do Pão

A Parábola do Fermento se torna um paralelo instrutivo para este entendimento. Fermento, por sua natureza, é um agente de transformação. Ele trabalha de dentro para fora, modificando a essência da massa, tornando-a mais leve e expansiva. Ao fazer referência a três medidas de fermento, Jesus não apenas destaca a ideia de transformação, mas também a ideia de completude.

A metáfora do pão, especialmente no contexto judaico-cristão, é rica em significados e implicações. Na tradição bíblica, o pão tem sido frequentemente associado à providência divina e ao sustento espiritual.

A Parábola do Fermento, com sua ênfase na transformação da massa por meio do fermento, oferece-nos uma visão do processo de desenvolvimento e maturação espiritual. Assim como o pão precisa passar por várias etapas - desde a escolha dos ingredientes, a mistura, o tempo de fermentação e, finalmente, o cozimento - a jornada espiritual de um indivíduo também é marcada por fases distintas de crescimento, aprendizado e transformação.

É intrigante notar que o texto apresenta uma fórmula – adição de fermento em três partes da massa – que garante a fermentação de toda a massa até que esteja pronta para ser assada e transformar-se em pão.

A simbologia do pão na tradição cristã é profundamente enraizada e multifacetada. O pão, em muitas culturas e tradições, é visto como o sustento básico da vida. Em um contexto mais amplo, representa a satisfação das necessidades humanas – tanto físicas quanto espirituais.

Provavelmente, esse era o intuito de Jesus ao se proclamar o "pão da vida" (João 6:48). Assim como o pão alimenta e fornece energia ao corpo, a presença e os ensinamentos do Cristo buscam nutrir e revitalizar o espírito humano. Nesse contexto, "vida" refere-se a uma existência enriquecida e plena, não apenas em termos de longevidade, mas de qualidade e profundidade espiritual.

Se o pão é o alimento que sacia a fome, Jesus, ao se autodenominar o "pão da vida" (João 6:48), faz, sem dúvida, uma alusão a um padrão psíquico. Nesse caso, o pão pode ser interpretado como um símbolo do espírito que atingiu a plenitude espiritual e mantém uma conexão íntima e perfeita com Deus.

A Parábola do Fermento aborda o processo pelo qual o espírito (psiquismo humano) se desenvolve por meio das inúmeras experiências encarnatórias, até atingir o padrão de Cristo e ser comparado ao pão, elemento que nutre e sacia a fome.

A Casa Mental: O Modelo dos Três Andares

No terceiro capítulo da obra "No Mundo Maior", o benfeitor espiritual Calderaro aborda o tema "Casa Mental" ou "Castelo de Três Andares". Esta analogia é utilizada para exemplificar o psiquismo humano, dividido em "três andares". Essa divisão encapsula toda a trajetória evolutiva do ser, bem como as potencialidades que são intrínsecas a ele.

Esclarece, assim, Calderaro: "O cérebro é o órgão sagrado de manifestação da mente, em trânsito da animalidade primitiva para a espiritualidade humana. Nessa penosa romagem, inúmeros milênios decorreram sobre nós. Estamos, em todas as épocas, abandonando esferas inferiores, a fim de escalar as superiores."

Os Três Níveis da Casa Mental

No PRIMEIRO ANDAR, encontram-se as conquistas do espírito no domínio dos instintos, que garantiram sua sobrevivência ao longo dos milênios. Esse andar é um arquivo do passado. Nele estão armazenadas as energias mais primitivas, os hábitos, automatismos, impulsos e tendências. Pode-se afirmar que o primeiro andar representa o "homem velho", prisioneiro de suas paixões, vícios e perturbações instintivas. Quando o ser age por impulso ou de forma automática, está acessando as energias desse primeiro patamar da casa mental.

No SEGUNDO ANDAR encontram-se as conquistas recentes. Esse é o departamento do esforço e da vontade, onde as qualidades nobres estão sendo construídas e solidificadas. É deste segundo patamar que surgem os esforços necessários para domar as más tendências, adquiridas ao longo da evolução e arquivadas no primeiro andar da casa mental.

Quando o ser desperta para a realidade de sua natureza imortal em direção a Deus e entende que Jesus é o modelo, deixando-se guiar por Suas lições, estabelece-se uma verdadeira sintonia com as energias que emanam, em forma de convites e inspirações, do terceiro andar.

O segundo andar é o departamento que abriga as conquistas recentes no âmbito da virtude e dos sentimentos.

Por fim, o TERCEIRO ANDAR é o refúgio das noções mais elevadas. Representa o futuro e o ser cósmico que está latente dentro do ser humano, conforme as palavras de Jesus: "Vós sois deuses".

Nesse terceiro nível da mente residem os ideais nobres e as aspirações elevadas que o indivíduo busca alcançar. É a representação do homem novo, já consolidado. É ali que se encontram gravadas as leis divinas, como mencionado na questão 621 do Livro dos Espíritos.

Quando Paulo de Tarso proferiu a famosa frase, ao final de sua vida, "não sou eu mais quem vive, mas o Cristo que vive em mim", ele estava sob as energias inspiradoras do terceiro andar de sua casa mental.

O Cérebro Triuno e a Neurociência

O tema não ficou restrito apenas à esfera do espiritismo. A neurociência também se debruça sobre ele. Em 1970, o neurocientista Paul MacLean, após pesquisar a estrutura encefálica, propôs o conceito do cérebro triuno. Este conceito também sugere uma estrutura cerebral dividida em três regiões, que se sobrepuseram durante a evolução da espécie humana, muito alinhado ao que foi mencionado anteriormente em "No Mundo Maior", publicado em 1947.

A análise das estruturas que formam a mente, constituindo a 'casa mental', e aquelas presentes no corpo físico, como o cérebro, é crucial para a compreensão da Parábola do Fermento.

Essa conexão entre a visão espiritual e científica é fascinante e ajuda a criar um diálogo entre as duas áreas, mostrando que, em muitos casos, elas podem estar apontando para a mesma verdade a partir de perspectivas diferentes.

As três porções de fermento mencionadas na parábola fazem referência às três estruturas que compõem o modelo da casa mental. Esses andares ou estruturas representam conquistas do espírito ao longo de seu processo evolutivo.

A analogia é perfeita. A massa só fermenta quando se adicionam as três porções de fermento. Da mesma forma, o espírito só atinge a perfeição, à semelhança do Cristo (Pão da Vida), quando suas conquistas estão solidificadas em sua casa mental. Além disso, é essencial manter a harmonia entre as três estruturas que a compõem. Não estamos falando de três cérebros, mas de um único cérebro com três departamentos que interagem constantemente.

Conclusão: O Processo de Transformação Espiritual

Neste prisma, pode-se afirmar que todos os conflitos humanos, as enfermidades e as dificuldades que experimentamos na vida decorrem da nossa inércia em educar essas energias psíquicas, especialmente aquelas que se encontram no porão da consciência, o primeiro andar da casa mental.

O maior desafio de nossa atual encarnação é desenvolver o segundo andar da casa mental. Para isso, devemos utilizar as ferramentas do esforço e da vontade, a fim de superarmos tendências inferiores, hábitos animalizados e paixões asselvajadas. Assim, damos aos instintos — forças da alma — uma direção nobre, colocando-os a serviço de nossa evolução moral.

Do terceiro andar, por enquanto, apenas recebemos inspirações e convites voltados à prática do bem. Ao estabelecer harmonia entre as energias que emanam do primeiro e segundo andares, nos capacitamos a viver segundo o padrão mental presente no terceiro andar. Dessa maneira, alcançamos a consciência cósmica em plena sintonia com Deus.

É neste ponto que a massa é levedada e está pronta para se tornar pão, saciando a fome. "Pois àquele que vai ao Cristo, de modo algum sentirá fome" (João 6:35).

O Grão de Mostarda

O Grão de Mostarda - Uma Análise Espiritual

O Grão de Mostarda - Uma Análise Espiritual

A que é semelhante o Reino de Deus e com o que posso compará-lo? É semelhante a um grão de mostarda que um homem semeou no campo e que é a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos.

A Parábola e seu Significado

Na pequena parábola do grão de mostarda, narrada em Lucas 13, 18-19, em apenas dois versículos, Jesus utiliza, novamente, a expressão "Reino de Deus", para transmitir conteúdos espirituais que dizem respeito à evolução do espírito imortal.

A escolha do grão de mostarda, considerada uma das menores sementes conhecidas naquele tempo, teve como propósito traçar um paralelo entre essa semente e a evolução do espírito. Assim, a menor das sementes, quando plantada em solo fértil, pode transformar-se em uma árvore frondosa.

A Criação Divina

As árvores não surgem prontas das mãos do Criador. Deus espalha pelo mundo sementes repletas de potencialidades, destinadas a se tornarem árvores majestosas.

Nesse contexto, o Livro dos Espíritos, em resposta às questões 115 e 118, elucidou que Deus criou todos os Espíritos de forma simples e ignorante, isto é, sem conhecimento. O objetivo é que todos alcancem a perfeição, um destino do qual ninguém poderá se esquivar.

O Processo de Evolução

Da mesma forma que as sementes, os espíritos, criados em sua simplicidade e ignorância, são lançados nos mundos materiais para que possam evoluir e, eventualmente, se tornarem espíritos puros.

Essa é a essência da parábola. A semente, ao longo de várias etapas de desenvolvimento, transforma-se em árvore. Ela começa seu trajeto na obscuridade da terra, rompendo a casca que a confina. Superando obstáculos do solo, surge como um tênue broto verde e, com o passar e repetição das estações, fortalece-se e cresce imponente.

No Capítulo 2 de "O Livro dos Espíritos", é elucidado que a jornada rumo à perfeição espiritual é trilhada através das incontáveis reencarnações em diferentes mundos materiais. É através destas sucessivas vivências corpóreas que o espírito desabrocha suas potencialidades intrínsecas, cultivando inteligência e refinando sua sabedoria.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A Candeia Debaixo do Alqueire

A Candeia Debaixo do Alqueire

A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE

Na parábola da Candeia, Jesus encoraja cada indivíduo a ser o arquiteto de sua própria evolução espiritual, enfatizando a importância da autotransformação moral. Este ensinamento convida-nos a refletir profundamente sobre nossa trajetória e responsabilidades, destacando que, em nossas mãos, está a capacidade de moldar nosso caráter e destino através da introspecção e do compromisso moral.

Ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com um vaso, ou a coloca debaixo de um leito, mas coloca-a sobre o candeeiro para que os que entram vejam a luz. Porque não há algo escondido que não se torne manifesto, nem oculto que não venha a ser conhecido e manifesto. Vede, pois, como ouvis; pois quem tiver, a ele será dado, e quem não tiver, até o que parece ter será tirado dele.

Lucas 8, 18 a 18

Análise do Primeiro Versículo

Candeia era um instrumento essencial de iluminação durante a época de Jesus, alimentada por óleo e comumente encontrada em todas as residências. Era tradicionalmente posicionada em lugares elevados dentro das casas, a fim de garantir uma iluminação uniforme e eficiente no ambiente.

Jesus utiliza essa simbologia para nos convidar a direcionar a luz de nossa consciência para o nosso mundo íntimo, explorando a inconsciência onde se acumulam densas sombras. Por serem desconhecidas por nós, essas sombras frequentemente dão origem a atitudes, comportamentos, reações, pensamentos e palavras que podem surpreender e perturbar quem as manifesta.

Não são raras as ocasiões em que nos surpreendermos com nossos próprios pensamentos, marcados por rancor, inveja, ciúme, ódio ou desejos de vingança. Quantas vezes nos vemos envergonhados por nossas palavras, ações ou comportamentos? Tais manifestações revelam que o psiquismo humano, frequentemente, está mergulhado em profundas sombras, clamando por iluminação.

Esse conteúdo interno obscuro tende a se conectar à espiritualidade inferior, como destacado em O Livro dos Espíritos. Emmanuel, no livro Pensamento e Vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier, também ressalta: "Todos nós somos capazes de captar as emissões mentais daqueles que pensam como nós."

Por isso, o processo do autoconhecimento se faz urgente, sobretudo neste tempo de transição planetária.

A Busca pela Verdade

Na parábola, a candeia depende do óleo como combustível para gerar luz. No campo íntimo, o combustível de que necessitamos para a iluminação das nossas sombras internas,é apontado por Jesus, em João 8:32:,

Conhecereis a verdade e ela vos libertará

João 8:32

Mas, afinal, o que é a verdade?

Essa pergunta foi feita a Jesus, há dois mil anos, pelo governador da Judeia, Pôncio Pilatos, conforme registrado no Evangelho de João (18:38). No entanto, o Mestre respondeu com silêncio. Segundo o espírito Humberto de Campos,no livro Lázaro Redivivo, (capítulo 32), psicografado por Chico Xavier, o silêncio de Jesus revela que a verdade não é um bem transmissível. Ela não pode ser adquirida por meio de informações externas, mas deve ser conquistada ao longo da vida. A verdade é uma realização pessoal e eterna, que precisa ser gradativamente assimilada dentro de cada ser, através de experiências, reflexões e da consciência individual.

Se a verdade é o combustível capaz de iluminar e libertar a alma de suas trevas internas, pavimentando o caminho para o autoconhecimento, surge uma pergunta inevitável: como alcançá-la.

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6). Com estas palavras, Jesus estabelece sua conexão direta com Deus e nos mostra que é através de seus ensinamentos que nos aproximamos do Pai. O Evangelho, fonte de amor e sabedoria, guia as almas em busca da comunhão divina. Porém, apenas conhecê-lo superficialmente não é suficiente para a verdadeira transformação interior.

Na obra Renúncia, psicografada por Chico Xavier, o espírito Emmanuel, através da personagem Alcione, ensina que o Evangelho é um caminho de ascensão espiritual. Não basta apenas conhecer suas palavras - é preciso meditá-las e, principalmente, vivenciá-las. O primeiro passo dessa jornada é o conhecimento. Como uma candeia que ilumina a escuridão, o estudo do Evangelho acende a luz interior que guiará o espírito em sua evolução.

O Processo de Autoiluminação

A autoiluminação é o convite expresso na Parábola da Candeia, permitindo ao ser evoluir de forma consciente, já que lhe permite ampliar sua visão íntima. Isso o capacita a reconhecer suas falhas morais para transformá-las, alinhando seu psiquismo ao modelo de Jesus.

Assim como não se deve ocultar uma candeia acesa sob o leito, não basta apenas estudar os ensinamentos de Jesus sem aplicá-los na vida. Para manter viva essa luz interior, é fundamental meditar sobre o conhecimento adquirido, permitindo que os ensinamentos ecoem em nosso coração.

A meditação nos leva a questionar como podemos aplicar as lições do Evangelho no dia a dia: como praticar o perdão setenta vezes sete, como amar verdadeiramente ao próximo, como evitar julgamentos e como exercer o autoperdão.

São inúmeros ensinamentos que, quando verdadeiramente compreendidos e praticados, guiam nossa evolução espiritual.Meditar sobre o Evangelho significa refletir e visualizar sua aplicação prática. Sentir e vivenciar seus ensinamentos demanda esforço e persistência, pois envolve a transformação de emoções e sentimentos.

O Caminho da Transformação

O processo de evolução consciente, que leva a conquista da transformação moral, por meio do autoconhecimento, é gradativo, longo e bastante difícil, mas é o único caminho que nos libertará de todo sofrimento e de toda dor.

A Parábola da Candeia convida à autoiluminação, um processo que amplia a visão interior e permite reconhecer falhas morais para transformá-las segundo o modelo de Jesus.

"Brilhe a vossa luz diante dos homens!" - mas para que isso ocorra, é preciso libertar essa luz das sombras que a encobrem.

"Não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz

Por meio do autoconhecimento e da introspecção, nossas imperfeições morais e sentimentos egoístas tornam-se evidentes. É fundamental aceitar essas descobertas, pois são próprias da condição humana. Como espíritos em evolução, devemos trabalhar pacientemente para superar as falhas identificadas, não as negando ou mascarando, mas reconhecendo-as como parte do processo de construção íntima guiado por Jesus.

"Vede, pois, como ouvis; porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado

À medida que avançamos no autoconhecimento, trazendo à luz e transformando nossos sentimentos mais grosseiros, recebemos mais força e clareza para prosseguir em nossa jornada de iluminação.Esse processo nos permite identificar falsas virtudes que apenas mascaram nossas imperfeições reais. Como disse Jesus: "aquilo que parece ter lhe será tirado" - referindo-se a essas pseudo-virtudes que adotamos para aparentar o que não somos. A transformação moral conquistada por meio do autoconhecimento é um processo gradual e desafiador, mas é o único caminho para a verdadeira libertação do sofrimento.

Conclusão

Vinde a mim, todos vós que sofreis, e eu vos aliviarei.

O caminho que nos conduz a Jesus começa com o entendimento de seu Evangelho de Amor. Ao refletirmos e aplicarmos seus ensinamentos, somos convidados a vivenciá-los em sua plenitude. Apenas ao incorporarmos verdadeiramente a mensagem de Jesus é que chegaremos até Ele, encontrando alívio e uma felicidade genuína. O percurso é árduo, mas tenhamos coragem. É possível triunfar!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A Parábola da Semente

A Parábola da Semente que Cresce em Segredo

A Parábola da Semente que Cresce em Segredo

"O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra. Quer ele esteja acordado, quer ele esteja dormindo, ela brota e cresce, sem ele saber como isso acontece. É a própria terra que dá o seu fruto: primeiro aparece a planta, depois a espiga, e, mais tarde, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas ficam maduras, o homem começa a cortá-las com a foice, pois chegou a hora da colheita." (Marcos 4:26–29)

Introdução à Parábola

Nesta parábola, Jesus compara o Reino de Deus a uma semente que cresce em segredo. Uma vez semeada, ela se desenvolve independentemente de o semeador estar acordado ou dormindo.

No Reino de Deus, que abrange todo o universo infinito, sementes são lançadas à terra pelo cultivador divino e se desenvolvem sem qualquer chance de fracassar. No mundo material, contudo, nem todas as sementes lançadas pelo agricultor germinarão.

A Lei Divina da Evolução

Por meio desta parábola, Jesus elucida uma lei divina; a lei da evolução. Esta determina que, uma vez criado o espírito, simples e ignorante, está destinado a perfeição, sem qualquer chance de retrocesso.

Pergunta 118 - Os Espíritos podem se degenerar?

"Não; à medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito acaba uma prova, fica com o conhecimento que adquiriu e não o esquece mais. Pode ficar estacionário, mas retroceder, não retrocede."

O Simbolismo da Semente

Por essa razão, a semente cresce e se desenvolve além da compreensão do semeador. Isso ocorre porque, uma vez criado, o espírito nunca morre; ao invés disso, ele é lançado às experiências existenciais e continuará a evoluir, mesmo que não tenha consciência de sua própria trajetória evolutiva sob a tutela de Deus.

A figura do homem na parábola simboliza o espírito em seu trajeto evolutivo. A semente lançada ao solo é uma metáfora para o potencial divino intrínseco a cada ser. Assim como a minúscula semente contém em seu interior o potencial para se tornar uma árvore ou planta, o espírito carrega consigo as potencialidades divinas que gradualmente se revelarão à medida que ele evolui.

Estados de Consciência

Aprofundando-se nos ensinamentos transmitidos pela parábola, percebe-se que o espírito, criado à imagem e semelhança de Deus, caminhará em direção a Ele, cumprindo o propósito para o qual foi criado – orbitar ao redor de Deus. Isso ocorre independentemente de seu estado de consciência, seja ele desperto ou adormecido, fenômeno que se manifesta tanto de dia quanto de noite.

Na parábola, o verbo 'dormir' carrega um significado espiritual, não se referindo a um estado fisiológico, mas a um estado de sono psíquico. Da mesma forma, 'desperto' alude a um estado de consciência alerta.

Referências Evangélicas

Esses estados de consciência são mencionados diversas vezes no Evangelho de Jesus. Um exemplo é a passagem em Mateus 8:22, que diz "deixe os mortos enterrar seus mortos". Essa frase só pode ser compreendida considerando-se que Jesus se referia a estados psíquicos, e não fisiológicos.

O Sono Espiritual

Deve-se considerar que muitas pessoas encarnadas se encontram em um profundo estado de sono espiritual. Estas são aquelas que nascem e reencarnam repetidamente com a consciência insensível aos valores espirituais. Por não compreenderem que as vivências são lições valiosas para seu amadurecimento espiritual, enfrentam suas experiências evolutivas com grande sofrimento. Assim, sem essa compreensão, sofrem, adoecem e se tornam infelizes.

Assim, esse ser, em estado de consciência adormecida, não compreende por que adoece e se revolta contra Deus. Não entende por que a vida colocou em seu lar pessoas desafiadoras e, muitas vezes, acaba por abandoná-las. Não consegue discernir por que seus sonhos não se concretizam, tampouco por que é vítima de violência ou foi abandonado por quem ama, entre outras adversidades.

O Processo Evolutivo

Sem entender as experiências da vida, o ser humano passa por inúmeras existências físicas, acumulando ressentimentos, desafios, sofrimento e dor. Contudo, mesmo assim, evolui, muitas vezes de maneira inconsciente, pois mesmo em um estado de consciência adormecida, segue avançando. As experiências árduas e dolorosas da vida possuem justamente esse propósito: romper a casca que protege a essência divina presente em cada ser.

Pergunta 118 - Os Espíritos podem se degenerar?

"Não; aquele que caminha rápido se poupa das provas."

O Despertar Espiritual

A semente realiza parte de seu desenvolvimento no interior da terra, rompe a casca que a envolve na escuridão do solo, e, como diz Emmanuel, em Fonte Viva, cap. 171, para isso sofre a ação dos detritos da terra, afronta a lama, o frio, a resistência do chão, mas somente quando rompe todos os obstáculos passa a se orientar para cima, na direção do Sol. E a partir daí nascem-lhe as folhagens e depois os frutos.

Os Estados de Consciência na Parábola

A imagem do ser em um estado de consciência adormecida é análoga ao desenvolvimento da semente sob a terra. Na parábola, isso é representado pela semente que cresce durante a noite, enquanto o homem está adormecido.

Por outro lado, a imagem da semente que cresce durante o dia, enquanto o homem está acordado, faz uma analogia à segunda etapa do desenvolvimento da semente. Nesta fase, ela se liberta da casca protetora, rompe o solo e se volta em direção ao Sol. Isso representa o estado de consciência desperta.

O Caminho da Evolução Consciente

Caminhar desperto significa orientar-se pelo grandioso Sol que ilumina a humanidade: Jesus. É compreender a finalidade das adversidades, como a doença, aceitando-as com gratidão e buscando aprender a partir da experiência. Significa amar e compreender aqueles que caminham ao nosso lado, seja no lar, no trabalho ou em qualquer ambiente de aprendizado e serviço. Devemos reconhecer que, em um planeta de provas e expiações, o mal ainda prevalece. Por isso, a violência pode surgir como uma visita inesperada, servindo como uma lição valiosa ou uma oportunidade de exercitar virtudes, conforme exemplificado por Jesus.

Conclusão: Os Frutos do Despertar

Para concluir a parábola, Jesus enfatiza que é a terra que produz seus frutos: primeiro surge a folha, em seguida a espiga e, finalmente, o grão que preenche essa espiga. Quando o fruto atinge sua maturidade, chega o momento da colheita.

É este o destino da humanidade: evoluir gradualmente até atingir a essência do Cristo, a máxima expressão do amor. A capacidade de doação desinteressada é a mais nobre manifestação desse amor. Ao vivenciar genuinamente o amor por si mesmo, pelo próximo e por Deus, o ser torna-se semelhante à espiga repleta de grãos, pronta para ser colhida e saciar a fome alheia.

Somente ao elevar-se a Deus, através do amor incondicional por todos, é que o ser humano se torna instrumento de Jesus, o Pão da Vida. Assim, ele passa não apenas a saciar sua própria fome espiritual, mas também a auxiliar o próximo a fazer o mesmo. Esse, afinal, é o objetivo maior da vida: produzir frutos em abundância.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A Parábola dos Vinhateiros Homicidas

A Parábola dos Vinhateiros Homicidas e a Missão do Brasil

A Parábola dos Vinhateiros Homicidas e a Missão do Brasil

A Parábola dos vinhateiros homicidas, registrada por Mateus, capítulo 21, v. 33 a 45, interpretada à luz da doutrina espírita, permite identificar o porquê da reencarnação no Brasil.

Espíritos milenares, egressos de centenas de outras civilizações, muitas das quais nem mais existem, foram reunidos em terras brasileiras para cumprir um compromisso anunciado na Parábola dos vinhateiros homicidas.

A parábola dos vinhateiros homicida fala diretamente aos corações dos brasileiros sobre compromisso que temos com Jesus.

A Parábola Segundo Mateus

Um homem, chefe de família, plantou uma vinha, circundou-a com uma cerca, cavou nela um lagar para pisar uvas e construiu uma torre de guarda. Em seguida, arrendou a vinha a agricultores e viajou para o estrangeiro. Quando se aproximou o tempo dos frutos, enviou seus servos aos agricultores para receber seus frutos. Os agricultores, porém, agarraram os servos, espancaram a um, mataram a outro e a outro apedrejaram. Novamente o dono da vinha enviou outros servos, em maior número que os primeiros. Mas eles os trataram do mesmo modo. Por fim, enviou-lhes o próprio filho, dizendo: respeitarão a meu filho. Mas os agricultores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro. Vamos matá-lo e tomemos posse de sua herança! Então, agarraram-no e lançaram-no fora da vinha e o mataram. Então, quando o senhor da vinha voltar, que fará com esses agricultores? Perguntou Jesus aos que o ouviam. Eles responderam. Dará triste fim a esses criminosos e arrendará a vinha a outros agricultores, que lhe entregarão os frutos no tempo certo. Então, Jesus lhes diz: "Vocês nunca leram nas Escrituras? 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é admirável aos nossos olhos? Por isso vos digo que o Reino de Deus vos será tirado e será dado a uma nação que produza seus frutos.

Interpretação Espírita da Parábola

O espiritismo aponta Deus como o Senhor da Vinha. A vinha é o campo de trabalho que Deus nos arrendou, nos emprestou, para que a cultivemos, fazendo-a frutificar. Corresponde, ainda, ao nosso psiquismo, vasto campo de trabalho aguardando o serviço do lavrador.

A vinha, no plano físico, corresponde a todas as nossas possibilidades de trabalho no mundo, como família, emprego, nossas atividades sociais, enfim. No plano íntimo, a vinha corresponde aos nossos sentimentos, emoções, vontade.

Pela lei do progresso material devemos cultivar a vinha no plano físico, contribuindo pelo aprimoramento do mundo. Pela lei do progresso moral devemos cultivar a vinha no plano íntimo, trabalhando pelo nosso adiantamento moral.

Elementos Simbólicos da Parábola

O lagar de pisar uvas é o instrumento para trabalhar na vinha, extraindo dela os frutos que correspondem, sob o ponto de vista espiritual, ao Evangelho ensinado por Jesus. Somente pela vivência do Evangelho poderemos transformar o mundo. O Evangelho de Jesus e a revelação espírita são os instrumentos que Deus nos enviou para que possamos cultivar a vinha nos nossos corações, a fim de produzir os frutos que Deus espera colher.

A Parábola informa que a vinha estava cercada e havia nela uma torre de guarda. Estes elementos remetem a ideia de um Pai cuidadoso, que zela de toda sua criação.

Na interpretação simbólica da parábola, os agricultores, que eram locatários da vinha, representam a humanidade em sua jornada evolutiva. Os servos enviados pelo proprietário para colher os frutos simbolizam os profetas do Antigo Testamento, mensageiros divinos que, antes da vinda de Cristo, foram enviados por Deus para orientar a humanidade. Estes profetas, conforme narrado nas escrituras, foram perseguidos, apedrejados, espancados e mortos.

O filho do senhor da vinha, enviado por último, representa o próprio Jesus Cristo - a pedra angular rejeitada pelos construtores, que também teve um destino trágico nas mãos dos homens. Diante destes acontecimentos, Jesus apresenta uma pergunta crucial aos seus ouvintes: "O que vocês acham que o senhor da vinha fará com esses agricultores?" A resposta é significativa: "Dará triste fim a esses criminosos e arrendará a vinha a outros agricultores, que lhe entregarão os frutos no tempo certo."

A conclusão da parábola traz uma profecia quando Jesus anuncia que o Reino de Deus seria retirado daquela geração e concedido a uma nação que produzisse os frutos esperados. Segundo a revelação espírita, esta nação mencionada na parábola é o Brasil, escolhido para ser o solo onde os ensinamentos do Cristo frutificariam em sua plenitude.

A Missão Espiritual do Brasil: Da França ao Coração do Mundo

O início da doutrina espírita teve seu marco em Paris, França, através da codificação realizada por Allan Kardec. Porém, conforme revelado no livro "Obras Póstumas", no capítulo "Primeira notícia de uma nova encarnação", os próprios espíritos comunicaram a Kardec que a semente plantada na França não alcançaria imediatamente sua plenitude. De fato, Kardec desencarnou em março de 1869 sem presenciar a ampla disseminação de seus ensinamentos.

Foi somente quarenta e um anos após sua partida, em 2 de abril de 1910, que nasceu em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, Francisco Cândido Xavier. Através de sua mediunidade extraordinária, que resultou em 504 obras psicografadas, o espiritismo finalmente encontrou terreno fértil para florescer e se espalhar pelo mundo, tendo o Brasil como centro irradiador.

A Parábola da Vinha e sua Significação Espiritual

A trajetória do espiritismo pode ser compreendida através da Parábola da Vinha, mencionada por Jesus. A vinha, que simboliza os ensinamentos espirituais, foi retirada de Jerusalém, temporariamente cultivada na França, para finalmente estabelecer suas raízes definitivas no Brasil. Assim como o Evangelho foi um legado divino confiado inicialmente ao povo hebreu, o espiritismo tornou-se um legado especialmente destinado ao povo brasileiro, para ser vivenciado e exemplificado.

Brasil: Coração do Mundo, Pátria do Evangelho

A missão espiritual do Brasil começou a ser revelada em 1938, através da obra "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", psicografada por Chico Xavier. No primeiro capítulo, um diálogo significativo entre Jesus e Helil, um de seus elevados assessores espirituais, revela o destino especial reservado ao Brasil:

"Para esta terra maravilhosa e bendita será transplantada a árvore do meu Evangelho de piedade e de amor", afirmou Jesus, complementando que "sob a luz misericordiosa das estrelas da cruz, ficará localizado o coração do mundo!"

A Proteção Divina e a Missão dos Brasileiros

Quando Helil expressou preocupação com possíveis interferências de nações ambiciosas, Jesus respondeu com convicção:

"A região do Cruzeiro, onde se realizará a epopeia do meu Evangelho, estará, antes de tudo, ligada eternamente ao meu coração."

Embora todas as nações recebam a proteção divina, o Brasil possui uma ligação especial com o coração de Jesus. Esta conexão única traz consigo uma responsabilidade igualmente especial: os espíritos que reencarnam em solo brasileiro têm a oportunidade de trabalhar em sua transformação moral sob a orientação do conhecimento espírita.

Nossa Responsabilidade Espiritual

Para nós que reencarnamos no Brasil, com débitos de múltiplas existências, esta é uma oportunidade singular de evolução. Sob a orientação do conhecimento espírita e o amparo direto do Cristo, temos a chance de cultivar em nossos corações os frutos espirituais que o Mestre espera de nós.

Esta missão representa não apenas um privilégio, mas também uma grande responsabilidade: a de transformar o Brasil no verdadeiro Coração do Mundo e Pátria do Evangelho, conforme o planejamento divino.

Trabalhadores da última hora, mãos à obra! Possamos nos esforçar incansavelmente para transmudar sentimentos e emoções e, assim, permanecer caminhando com o Mestre amado, sob Sua inspiração direta.

No entanto, se abandoarmos o compromisso assumido, com certeza a vinha nos será tirada e dada a quem produza os frutos no tempo certo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O Rico e Lázaro

A Parábola do Rico e Lázaro

A Parábola do Rico e Lázaro

A parábola do rico e Lázaro, registrada no Evangelho de Lucas, capítulo 16, versos 19 a 31, ressalta a possibilidade da comunicação entre os mortos e os vivos, as diferenças vibratórias entre os espíritos e a lei de causa e efeito. O cerne dessa parábola, entretanto, é a indiferença moral, que se revela como uma característica predominante nos habitantes do planeta Terra, dificultando o seu progresso em direção a Deus.

A Indiferença como Cristalização do Sentimento

Emmanuel, no livro "O Consolador", na questão 180, afirma que a indiferença é a cristalização do sentimento. O benfeitor ressalta que a indiferença é um dos piores estados psíquicos da alma, uma vez que anula as possibilidades de progresso do espírito, bloqueando os germes de sua perfeição.

Reflexões no Evangelho Segundo o Espiritismo

No capítulo IX, item 8, do "Evangelho Segundo o Espiritismo", o espírito comunicante, coincidentemente chamado Lázaro, registra que a civilização planetária atualmente apresenta a atividade intelectual como virtude, enquanto mantém a indiferença moral como vício.

Progresso Intelectual e Indiferença Moral

A humanidade, sem dúvida, tem progredido de maneira admirável no campo do conhecimento, na pesquisa científica e na tecnologia. Entretanto, juntamente com essas conquistas tecnológicas surpreendentes, a indiferença moral em relação às necessidades dos outros também é impressionante.

A indiferença moral pode ser observada nas ruas tanto dos pequenos quanto dos grandes centros urbanos, acompanhando em silêncio a ativa atividade intelectual humana. Entre prédios, veículos, construções e equipamentos públicos, permanecem invisíveis os necessitados que estão presentes por toda parte: nos semáforos, nas calçadas, nas portas de bancos, lojas e restaurantes, estendendo suas mãos em busca de ajuda, enquanto aqueles que passam por eles seguem indiferentes.

A indiferença moral também se manifesta nos comportamentos humanos que optam por não cumprimentar um conhecido, agindo como se não o vissem. Ela está presente nos comportamentos que negam a um pai, irmão, filho, amigo ou até a um desconhecido qualquer forma de auxílio, seja material ou intelectual.

A Parábola Contada por Jesus

Foi por isso que Jesus contou esta parábola:

“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado.

No Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio. E, clamando, disse: Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu, atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá.

E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, Abraão, meu pai; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.”

Parábolas de Jesus: Convites à Reflexão e Transformação Moral

As parábolas de Jesus são convites à reflexão, orientados para o processo de transformação moral. Diante deste texto, é relevante questionarmo-nos se nos identificamos com algum dos personagens ou com os conteúdos e símbolos apresentados.

O personagem rico na parábola representa a indiferença diante das necessidades alheias. Apesar de ser retratado como alguém rico em recursos materiais, é crucial considerar todas as demais riquezas que Deus concede ao espírito para sua jornada evolutiva bem-sucedida. Todas as pessoas possuem talentos e possibilidades diversificadas, muitas vezes não compartilhadas com os outros devido à indiferença e ao egoísmo que as aprisionam.

Por outro lado, os "Lázaros" das necessidades podem ser qualquer pessoa em dificuldade ou necessidade, buscando auxílio dos outros, mas encontrando apenas indiferença e frieza por parte daqueles a quem pedem ajuda. São indivíduos que Deus espera serem socorridos por meio do auxílio de outros, mas que não encontram nos corações daqueles que possuem a capacidade de ajudar a boa vontade necessária para se tornarem instrumentos de apoio aos necessitados.

O Desafio da Transformação Interior

O grande desafio apresentado pela parábola é a capacidade de reconhecer, no íntimo de cada ser, a presença da indiferença, buscando dissolvê-la. Essa ação permitirá libertar-se das correntes do egoísmo, um vício de caráter que colocou o rico da parábola em um estado doloroso de consciência, que se assemelha ao inferno. Este é o destino de todos aqueles que conduzem suas vidas na direção oposta à lei do Amor

O Despertar do Rico no Mundo Espiritual

O rico, da parábola, desperta no mundo espiritual em uma situação dolorosa, resultado direto do egoísmo que guiou o uso dos talentos que Deus lhe concedeu. Ele percebe que Lázaro está em uma condição melhor do que a sua e é informado de que isso ocorre porque Lázaro enfrentou as provações de sua vida miserável com resignação. Em meio à profunda amargura, ele suplica por ajuda a Abraão, que na parábola representa um benfeitor espiritual.

Os Desígnios Divinos e o Abismo Entre as Almas

Contudo, Abraão não pode socorrê-lo naquele momento, sendo-lhe impossível. Um abismo existe entre aqueles que se atormentam com a culpa em suas consciências e aqueles que aprenderam a amar e a servir.

Deus cuida de todos os Seus filhos, atendendo às suas necessidades verdadeiras, não aos seus desejos superficiais. No caso do rico, sua impossibilidade de receber socorro naquele momento decorre dos desígnios da lógica divina, que muitas vezes são desconhecidos e inacessíveis aos seres humanos. Em algumas ocasiões, a maior dor e o mais intenso sofrimento na vida de uma pessoa podem ser os instrumentos que a conduzirão a uma conexão mais profunda com Deus.

O apóstolo Paulo, na segunda carta aos Coríntios, capítulo 12, versos 7 e 8, faz referência a um "espinho na carne" que o atormentava constantemente. Ele havia suplicado a Deus para ser libertado desse sofrimento. Contudo, a resposta divina foi negar seu pedido, pois esse "espinho" era aquilo que o mantinha espiritualmente vigilante e atento.

Isso ilustra que nem sempre a remoção imediata do sofrimento é o melhor caminho, pois às vezes é através dessas dificuldades que somos impulsionados a crescer espiritualmente e a desenvolver uma maior proximidade com Deus.

A Dor Como Ferramenta de Renovação

Léon Denis, no livro "O Problema do Ser, do Destino e da Dor", destaca a importância da dor no processo de renovação moral. Ele descreve a dor como uma ferramenta divina capaz de purificar o coração humano, eliminando o mal que a consciência não reconheceu.

O egoísmo do rico na parábola se manifesta mesmo quando ele está enfrentando o sofrimento. Ele está disposto a rogar por bênçãos divinas somente para seus entes queridos, demonstrando esquecimento em relação às demais criaturas humanas, que também são filhas do mesmo Pai. Ele pede a Lázaro, em espírito, que retorne para alertar seus irmãos sobre as verdades da vida após a morte. No entanto, sua preocupação está apenas com sua família, ignorando as necessidades de todas as outras criaturas. O egoísmo ainda prevalece em seus impulsos, e ele não percebe que é exatamente esse egoísmo que é a raiz de toda a dor e sofrimento que está vivenciando.

Os Ensinamentos de Moisés e os Profetas

Abraão respondeu, afirmando que os familiares do rico já tinham à disposição Moisés e os Profetas, e que eles deveriam estudar esses ensinamentos, pois nada do que estava ocorrendo era novo; todas essas verdades já haviam sido transmitidas pelos missionários que vieram antes de Jesus.

O rico possuía as revelações divinas deixadas pelos Profetas, mas negligenciou a oportunidade de se aprofundar nessas sábias palavras e permitir que elas guiassem sua vida.

O Evangelho de Jesus e a Doutrina Espírita

A humanidade tem no Evangelho de Jesus um guia para a sua evolução espiritual, e na Doutrina Espírita um manual para percorrer esse caminho. Conhecer, refletir e aplicar os ensinamentos que Jesus nos deixou é uma escolha individual que compete a cada um fazer.

terça-feira, 3 de julho de 2018

Os Trabalhadores da Vinha

A Parábola dos Trabalhadores da Vinha

A Parábola dos Trabalhadores da Vinha

Pois o Reino dos Céus é semelhante ao homem, pai de família, que saiu de ao raiar do dia a assalariar trabalhadores para a sua vinha. Depois de ajustar com os trabalhadores um denário por dia, os enviou para sua vinha. E tendo saído por volta da terceira hora, viu outros, que estavam de pé na praça, desocupados, e disse a esses: Ide vos também para a vinha, e o que for justo vos darei. E, eles foram. Novamente, saindo por volta da sexta e nona hora, procedeu da mesma forma. Tendo saído por volta da undécima hora, encontrou outros, que estavam de pé, e diz para eles: por que ficastes de pé, aqui, o dia inteiro, desocupados? Eles lhe dizem: Porque ninguém nos assalariou. Ele lhe diz: Ide vos também para a vinha. Chegado ao fim da tarde, o senhor da vinha diz ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando dos últimos até os primeiros. Vindo os da undécima hora, receberam um denário, cada um. Vindo os primeiros, pensaram que receberiam mais; todavia, também eles receberam um denário, cada um. Ao receberem, murmuraram contra o senhor da casa, dizendo: Estes últimos fizeram só uma hora, e tu os fizestes iguais a nós, que carregamos o peso do dia e o calor ardente. Em resposta, disse a um deles: Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não ajustaste comigo um denário? Toma o teu e vai-te; quero dar a este último tanto quanto a ti. Não me é lícito fazer o que quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau, por que eu sou bom? Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serões últimos. Mateus 20:1-16.

O Significado Espiritual do Trabalho e da Vinha

Nas parábolas de Jesus, o Reino dos Céus frequentemente é equiparado a um estado íntimo de consciência. Esta condição de plenitude espiritual, no contexto da parábola, se assemelha ao trabalho: enquanto no plano material ele impulsiona o progresso do mundo, no âmbito interno, catalisa o desenvolvimento espiritual. A vinha, ao representar o âmbito de atuação do espírito imortal, simboliza tanto o mundo tangível quanto o universo íntimo de cada ser.

Em todos os planos da vida, Deus nos convida ao trabalho. No mundo, somos encorajados a contribuir para o progresso material; internamente, somos convocados a laborar no terreno de nossos corações, cultivando virtudes que nos elevam a níveis superiores.

Na parábola, o trabalho assume um matiz espiritual, refletindo como Jesus fala aos nossos corações. O Pai de família, que busca trabalhadores em diferentes momentos do dia, ilustra que Deus, incessantemente, convoca seus filhos ao árduo trabalho de transformação moral.

A Transição Planetária e o Momento Atual

No entanto, há aqueles que acolhem o chamado divino mais cedo, enquanto outros o fazem mais tarde. Porém, todos, inevitavelmente, despertarão. E a recompensa para todos os trabalhadores será a mesma, independentemente de quando começaram sua jornada de regeneração.

O versículo 08 destaca o momento do pagamento aos trabalhadores: a noite. Como a noite simboliza o término do dia, a parábola sugere o final de um ciclo ou etapa evolutiva.

No capítulo 20 do 'Evangelho Segundo o Espiritismo' (ESE), a parábola é analisada por quatro espíritos, incluindo o Espírito da Verdade. Eles afirmam que ela antecipa momentos decisivos que a humanidade enfrentará, visto que está nos planos divinos a transição da Terra para a categoria de mundo de regeneração. Isso significará que nosso planeta deixará de ser um refúgio para espíritos que precisam de um mundo de provas e expiações para evoluírem.

O Trabalho de Transformação Moral

Os espíritos destacam que novos tempos se aproximam para a humanidade. Estamos, assim, nas últimas horas de um ciclo, aguardando o alvorecer de uma nova era, e é por isso que Jesus enfatiza tanto a importância do trabalho de transformação moral.

No "Evangelho Segundo o Espiritismo" (ESE), na página 221, ao discorrer sobre esta parábola, o espírito Erasto exorta: "Arme-se de decisão e coragem, ó vossa legião! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra, preparada: Arai."

A 'terra preparada', moldada pelas lutas e experiências de inúmeras encarnações passadas, simboliza o coração. O 'arado', por sua vez, representa a vontade. Portanto, com a vontade determinada, podemos trabalhar nosso interior, removendo imperfeições que obstruem o desenvolvimento de virtudes. Estas virtudes nos preparam para herdar a Terra.

A Inveja como Obstáculo Espiritual

Na parábola, Jesus sinaliza a iminência dos tempos delineados por Deus. A Terra está predestinada aos mansos e pacíficos, conforme proclamou no Sermão do Monte. Este é, de fato, o ponto ápice da parábola, ressaltando a imperativa necessidade de reflexão sobre esse ensinamento.

Os primeiros trabalhadores, apesar de sua prolongada dedicação na vinha, ainda não haviam cultivado a mansidão e a paz interior. Embora tenham atendido ao chamado do Senhor da Vinha e se dedicado por mais tempo, não estavam aptos a herdar a terra.

O tratamento igualitário dispensado pelo Senhor da Vinha aos trabalhadores que chegaram posteriormente causou inconformismo nos que haviam chegado mais cedo, levando-os a questionar o Senhor. Esse ato revelou um coração tomado pela inveja. Assim, a resposta veio: 'Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não ajustaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai. Quero dar a este último tanto quanto a ti. Não posso fazer o que desejo com o que é meu? Teu olho é invejoso porque eu sou generoso?

A Natureza da Inveja e Suas Consequências

Um coração dominado por inveja e ciúme não vibra em sintonia com a mansidão. A parábola nos convida a refletir sobre esta imperfeição moral, que ainda marca presença em muitos de nós que habitam a Terra.

A inveja difere da cobiça. Enquanto a cobiça é o desejo de possuir o que pertence a outro — e, apesar de negativa, é um mal menor — a inveja é a perversa satisfação em ver ou causar a ruína da felicidade alheia, seja em conquistas morais ou materiais.

A inveja é uma profunda falha de caráter, um veneno que corrompe o coração. É uma enfermidade altamente nociva, pois é matriz de muitos males. Inclusive, foi essa falha que motivou o exílio de muitos espíritos para nosso planeta, incluindo os capelinos.

A Superação da Inveja e o Caminho para a Evolução

O canto de dor dos espíritos exilados de Capela, encontra-se representada nos primeiros capítulos da Bíblia. As imagens simbólicas de Adão e Eva, expulsos do paraíso, e de Caim, que mata Abel movido pela inveja, servem como advertências às futuras gerações: um aviso para não caírem nos mesmos padrões comportamentais que os distanciaram de Deus.

A inveja é um sentimento presente apenas nos corações dos espíritos menos evoluídos. Isso é evidenciado na resposta à questão 970 do 'Livro dos Espíritos'. Como a Terra está destinada a elevar-se na hierarquia dos mundos, cabe a nós aprimorar nosso padrão vibratório. Apenas assim estaremos aptos a continuar nossas reencarnações neste planeta.

À medida que nosso planeta avança rumo a uma nova Era, apenas os espíritos que se libertarem das amarras do mal continuarão a reencarnar aqui. A inveja, destacada na parábola, é uma raiz do mal, surgindo do orgulho, vaidade e egoísmo.

O Combate à Inveja e a Busca pela Evolução Espiritual

Na questão 933 do 'Livro dos Espíritos', é afirmado que a inveja e o ciúme são como torturas da alma; são como vermes que corroem e destroem psicologicamente quem os sente.

Dessa forma, a parábola funciona como um chamado de Jesus para superarmos a inveja dentro de nós, assumindo, com humildade, o reconhecimento de que ainda carregamos essa imperfeição em nossos corações.

Reconhecer a existência do mal, sua magnitude e esfera de influência, é essencial para compreendê-lo e, consequentemente, dominá-lo. Um guerreiro está preparado para combater apenas os inimigos que reconhece. Admitir a presença do mal em nosso coração é o primeiro passo rumo à sua superação.

O Papel da Fé e da Graça Divina

O subsequente e crucial passo para subjugar esse adversário interno é a conscientização de nossa dependência da graça divina. Ao orarmos a Deus, solicitando Sua ajuda para superar as mazelas da inveja e do ciúme, conectamo-nos às forças cósmicas que sustentam a harmonia do universo.

Joana de Angelis, no livro 'Em Busca da Verdade', aconselha-nos a cultivar sentimentos nobres com genuína alegria. Devemos encontrar satisfação na felicidade alheia, especialmente se almejamos seguir os ensinamentos de Jesus.