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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR

Conta-nos Mateus, 22:15-22, que um grupo de fariseus, observando Jesus falar às multidões sobre o reino de Deus, confabularam entre si com o propósito de encontrar uma forma para criar uma situação desfavorável a Jesus perante o povo e perante Roma. 

Juntaram-se a um grupo e de herodianos e, então, dirigiram-se a Jesus, perguntando-lhe: Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e ensinas o caminho de Deus segundo a verdade, e de ninguém se te dá, porque não olhas a aparência dos homens. Dize-nos, pois, que te parece? É lícito pagar o tributo a César, ou não? 

Jesus, porém, conhecendo a sua malícia, disse: Por que me experimentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda do tributo. E eles lhe apresentaram um dinheiro. E ele diz-lhes: De quem é esta efígie e esta inscrição? Dizem-lhe eles: De César. Então ele lhes disse: Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus. E eles, ouvindo isto, maravilharam-se, e, deixando-o, se retiraram.

Os fariseus constituíam um grupo de judeus extremamente conservadores, responsáveis por zelar pela pureza dos rituais prescritos na Torá. Atuavam como fiscais da conduta alheia e, muitas vezes, eram vistos como hipócritas, pois, apesar de manterem uma aparência virtuosa, tinham corações repletos de rancor.

Jesus frequentemente criticava os fariseus, que, por sua vez, não simpatizavam com Ele e faziam de tudo para descredenciá-lo perante o povo. Naquela época, o Império Romano dominava grande parte do mundo conhecido, incluindo a Palestina, que havia sido conquistada pelos romanos.

O título 'César' era um símbolo de nobreza e poder usado por diversos imperadores romanos que sucederam Júlio César, o pioneiro a quem esse título é frequentemente associado. Ao todo, doze imperadores marcaram a história do Império Romano com esse título. Na época de Jesus, o imperador era Tibério César. Sob seu domínio, Roma impunha pesados impostos aos territórios conquistados, incluindo os judeus, que enfrentavam altas cargas tributárias.

As dívidas tributárias com Roma frequentemente resultavam na escravidão do devedor e de toda a sua família. Esse fato pressionava o povo judeu a trabalhar arduamente, entregando ao Império grande parte do que ganhavam. Essa situação gerava uma profunda revolta, levando muitos judeus a formar grupos rebeldes para se opor ao domínio romano.

A narrativa bíblica também faz menção aos herodianos. Naquele tempo, Herodes era reconhecido como rei dos judeus, mas não foi escolhido pelo próprio povo judeu; em vez disso, foi nomeado por Roma. Embora tolerado, Herodes não era verdadeiramente aceito pelos judeus, pois claramente defendia os interesses romanos. Diferente dos fariseus, que eram um grupo religioso, os herodianos eram de natureza política. Foram formados para consolidar e fortalecer a autoridade de Herodes entre o povo judeu. Em várias ocasiões, seus membros manifestaram forte hostilidade em relação a Jesus Cristo.

Embora os fariseus e os herodianos não se entendessem, eles se uniram em seu objetivo comum de combater Jesus

Neste contexto, a pergunta foi formulada para colocar Jesus em uma situação delicada. Se a resposta fosse positiva, ele contrariaria seus próprios seguidores; se fosse negativa, seria preso pelas autoridades romanas sob acusação de conspiração. A questão era, na verdade, uma cilada bem elaborada. No entanto, a resposta de Jesus tornou-se um dos maiores ensinamentos que o Mestre deixou para a humanidade.

Transportando essa questão para os dias atuais, torna-se imperativo refletir: o que temos a ver com 'César'? Qual é a relação da sociedade contemporânea com essa figura histórica? César simbolizava o poder político, o poder econômico e o sistema legal de sua época. Assim, como um símbolo de poder, a figura de César representaria, nos dias atuais, o Estado e o sistema de tributação que têm como objetivo financiar os serviços essenciais à população

No entanto, o Estado frequentemente falha em garantir igualdade e bem-estar para todos, o que contribui para a persistência de injustiças em diversas esferas da vida. Este é um fato que perturba profundamente a população. As pessoas são submetidas a uma alta carga tributária, e ainda assim, o mundo continua marcado por desigualdades e injustiças. Essa situação é ainda mais agravada pela corrupção nos escalões de poder, onde administradores públicos desviam recursos que deveriam ser destinados ao bem comum,

Essa realidade, amplamente divulgada pela imprensa, leva muitas pessoas a se fazerem a mesma pergunta que os fariseus fizeram a Jesus: É correto pagar todos os impostos que o Estado exige? Diante de tanta corrupção e má gestão dos recursos públicos, seria legítimo, do ponto de vista espiritual, optar pela sonegação fiscal?

Ainda hoje, a voz de Cristo, que ecoa através dos milênios, ressoa claramente: 'Dai a César o que é de César'

É importante ressaltar que, embora muitas traduções usem o verbo 'dar', no texto original em grego o verbo empregado é 'restituir'. Portanto, Jesus teria dito para 'restituir a César o que é de César', implicando que só se pode devolver algo que, de fato, não pertence a quem o detém.

Questiona-se, no entanto, o salário do empregado, fruto dos serviços prestados, não lhe pertenceria? A riqueza acumulada não seria propriedade legítima de quem a detém? E os recursos materiais, quando acumulados honestamente, não pertenceriam a quem os reuniu?

A doutrina espírita postula que 'a matéria pertence à matéria'. Os espíritos, sendo viajantes do universo cósmico, apenas possuem os bens e valores que podem ser levados consigo para qualquer dimensão do infinito cósmico.

Por isso, Jesus recomenda devolver.

Ainda que as leis e os tributos possam ser injustos, é importante que sejam honrados, pois são frutos de um mundo também injusto, de provas e expiações, onde o mal frequentemente prevalece. Além disso, na Terra encarnam apenas espíritos que, de alguma forma, também são injustos.

São injustos os comportamentos que sonegam impostos, que descumprem as leis, que desrespeitam o meio ambiente, que atiram lixo nas ruas, que estacionam em local proibido ou reservado,  que furam a fila, que retém o troco que foi dado por equivoco, que reservam lugares e cadeiras em ambientes públicos ao amigo que ainda não chegou. Injustos, igualmente, os comportamentos apelidados de “jeitinho brasileiro”  que captam ilegalmente a água, a energia, os sinais de tv à cabo, telefone, internet, etc. São pequenos comportamentos igualmente injustos como aqueles outros cometidos, em maior escala, pelos políticos e governantes injustos.

Com esses comportamentos, amplamente adotados pelos cidadãos—além de outros não mencionados—a construção de um mundo melhor fica cada vez mais distante.

É isso que Jesus ensina no texto. O mundo pode ser injusto, mas cabe a cada um de nós ser justo e cumprir todas as obrigações estabelecidas pelas organizações do mundo em que vivemos. O verdadeiro discípulo de Cristo não é aquele que apenas aparenta ser virtuoso, como eram os fariseus; é aquele que vive de acordo com seus ensinamentos.

Dar a César o que é de César significa cumprir todas as exigências do mundo material, por mais severas ou injustas que possam parecer.

Descumprir as exigências e as regras do mundo, especialmente aquelas que impõem obrigações, usando o argumento de que são injustas, muitas vezes esconde um outro objetivo que reside na intimidade do indivíduo e que precisa ser confrontado: o interesse pessoal.

Na questão 895, do livro dos espíritos, Allan Kardec pergunta:

 Além dos defeitos e vícios sobre os quais ninguém se enganaria, qual o sinal mais característico da imperfeição? Resposta: o interesse pessoal.

Os imortais concluem que o apego às coisas materiais é um sinal evidente de inferioridade espiritual. Quanto mais o ser humano se apega aos bens deste mundo, menos ele compreende sua verdadeira destinação. Pelo contrário, o desinteresse pelas posses materiais demonstra uma compreensão do futuro sob uma perspectiva mais elevada.

Esta é a grande lição que Jesus nos deixou ao recomendar que devolvamos ao mundo o que pertence ao mundo. Jesus convida cada ser humano a evoluir em direção a Deus, pois é de Deus que viemos. Cumprir as obrigações que o mundo impõe é uma regra de ouro para aqueles que aspiram a viver em um mundo melhor. Honrar as regras de um mundo injusto serve como exercício de desapego. E o desapego, por sua vez, representa a libertação das imperfeições e atua como um cartão de embarque para um mundo melhor.




segunda-feira, 31 de julho de 2017

ENDIREITAI OS CAMINHO

O apóstolo João, nas primeiras linhas de seu Evangelho, faz referência a outro João, o Batista. João Batista, precursor de Jesus, assumiu a tarefa de anunciar a vinda do Cristo ao mundo e, consequentemente, a chegada de uma nova era: a era Cristã. 

A vinda de Jesus ao mundo foi um acontecimento transcendental e revolucionário, sobretudo do ponto de vista dos sentimentos, pois nunca mais o mundo foi o mesmo. Tanto é assim que a história humana se dividiu entre antes e depois dele.

Por isso, João Batista, na tarefa que lhe foi confiada por Deus e tocado pelas claridades da Nova Era que já se fazia sentir, conclamava as multidões para o exercício da transformação moral. Utilizava a frase que ficou imortalizada nas páginas do Evangelho: "Endireitai os caminhos". 

O convite de João Batista se fazia urgente. A vinda do Cristo ao mundo pedia renovação. Era preciso lapidar os sentimentos e desintoxicar hábitos doentes, gerados pelas larvas mentais nascidas de pensamentos desarmonizados. Era necessário preparar o solo do coração, pois o agricultor divino iria iniciar seu trabalho. 

Então, João Batista era a voz que clamava no deserto das consciências, propondo a renovação da paisagem íntima, tal como ocorre na natureza com as flores que deixam suas folhas envelhecidas no outono para florescerem radiosas na primavera. Jesus, com sua mensagem de amor incondicional, trouxe a primavera. 

Deixou para o mundo um roteiro de felicidade e os instrumentos luminosos para a edificação de um templo de paz e amor na intimidade dos corações. Trata-se de um trabalho individual e desafiador a todos os espíritos na atual encarnação. 

Vive-se, atualmente, na Terra, um período de grande turbulência moral. Nunca foi tão necessária a reforma íntima. O mundo está sedento de paz e amor, que só poderão existir à medida que brotarem nos corações humanos. O mundo é o reflexo de cada criatura nele encarnada, conforme ensina Emmanuel no livro "Pensamento e Vida". Para que o mundo seja melhor, impõe-se o aprimoramento de cada criatura que nele habita. 

Emmanuel, no livro Caminho, Verdade e Vida, esclarece: 

"Para que alguém sinta a influência santificadora do Cristo, é preciso retificar a estrada em que tem vivido. Muitos choram em veredas do crime, lamentam-se nos resvaladouros do erro sistemático, invocam o céu sem o desapego às paixões avassaladoras do campo material. Em tais condições, não é justo dirigir-se a alma ao Salvador, que aceitou a humilhação e a cruz sem queixas de qualquer natureza. Se queres que Jesus venha santificar as tuas atividades, endireita os caminhos da existência, regenera os teus impulsos. Desfaze as sombras que te rodeiam e senti-Lo-ás, ao teu lado, com a sua bênção". 

Ao utilizar o termo "desfazer as sombras", Emmanuel refere-se ao processo de autoconhecimento, uma tarefa árdua que exige disciplina constante, vontade firme e ânimo forte. É uma missão para várias existências, uma vez que não se consegue facilmente se libertar das sombras acumuladas ao longo dos séculos. Todavia, ainda que o primeiro passo não conduza o ser, de imediato, ao destino desejado, é suficiente para afastá-lo do ponto de partida.