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sábado, 9 de novembro de 2019

O cego e Jericó

O Cego de Jericó - Uma Análise Espiritual Profunda

O Cego de Jericó - Uma Análise Espiritual Profunda

Jericó, uma cidade importante situada no Vale do Jordão, prosperou graças à sua agricultura e economia, o que a tornou atrativa para os negociantes em busca de lucro material. No contexto simbólico do evangelho, essa ênfase no materialismo fez com que Jericó fosse associada à busca humana por prazeres transitórios no mundo.

Talvez por isso, o Evangelho de Marcos 10, 46-52, inicia pontuando que Jesus entrou e saiu rapidamente de Jericó. Depois, retornou com seus discípulos e uma grande multidão (Mc 10, 46). Este movimento do Cristo, entrar, sair rapidamente e entrar novamente, nos convida a uma reflexão com os olhos voltados para as questões materiais, em especial ao uso que fazemos dos recursos materiais que a providência divina nos emprestou nesta atual encarnação.

O Simbolismo dos Movimentos de Jesus

Neste início do texto nos propomos a nos questionar a respeito do quanto estamos envolvidos com as riquezas materiais de que dispomos, em especial nos questionarmos se estamos nos permitindo dominar por esses recursos.

Notemos o movimento do Cristo. Ele entra em Jericó, mas dali sai rapidamente. Mas, logo em seguida, entra novamente na cidade, devidamente acompanhado de seus discípulos e uma multidão. Podemos captar desta cena a seguinte mensagem: usar os bens materiais de que dispomos (entrar em Jericó) sem nos apegar a eles (sair rapidamente), e empregá-los em benefício do bem comum (entrar novamente com os discípulos e uma multidão).

Bartimeu e a Cegueira Espiritual

E é justamente em Jericó, na cidade símbolo das riquezas materiais, que encontramos Bartimeu, o cego de nascença, mendigando à beira do caminho.

Tudo o que está nos textos sagrados possui uma transcendência fundamental. Nenhuma palavra foi escrita sem um propósito espiritual.

O cego, mendigando à beira do caminho, na cidade símbolo das riquezas materiais, é um convite direto para refletirmos sobre nossa cegueira espiritual, que se manifesta quando estamos excessivamente focados nos aspectos materiais do mundo, imersos no materialismo egoísta que a cidade simbolicamente representa.

Entretanto, chega um momento em nossa jornada evolutiva em que sentimos a necessidade de enxergar e compreender além do que está diante de nós.

O Simbolismo da Inércia e do Movimento

Mateus, inicia texto informando que "Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava assentado junto ao caminho, mendigando" (Mc 10, 46).

Sob o ponto de vista espiritual, podemos estabelecer um paralelo entre o cego que permanece sentado à beira do caminho mendigando e a postura muitas vezes adotada por nós diante das experiências que a vida nos propõe. Preferimos permanecer inertes, cegos, esperando que algo seja feito por nós ou para nós. A condição de pedinte ou servo, escravo ou liberto, é sempre uma questão de escolha e posicionamento individual diante da vida. No texto, Bartimeu representa o ser humano inerte, sem movimento. Por outro lado, Jesus representa o movimento da alma lúcida, que não se detém frente aos obstáculos da vida. O movimento desta alma desperta é de caminhar, avançar e servir a todos, uma atitude oposta à passividade representada pelo personagem de Bartimeu.

O Clamor da Alma

Prossegue o texto: "... e ouvindo que era Jesus de Nazaré, começou a clamar e a dizer: Jesus, Filho de Davi, tem misericórdia de mim! (Mc 10, 47)"

Clamar é mais do que simplesmente pedir, é implorar. Ao clamar, Bartimeu demonstra seu profundo sofrimento e suplica a Jesus com todo o sentimento de sua alma. O sofrimento desperta a humildade naquele que sofre. E a dor educa quando o amor, ainda não descoberto, não pode desempenhar a mesma função.

A Perseverança na Fé

E muitos o repreendiam, para que se calasse; mas ele clamava cada vez mais: Filho de Davi, tem misericórdia de mim! (Mc 10, 48)

Repreender é censurar. Muitos são os censores da conduta alheia, porque ainda não compreenderam o verdadeiro significado do "amai-vos uns aos outros", tornando assim o caminho mais difícil.

Mas, Bartimeu, por sua vez, clamava cada vez mais alto, sem se intimidar com aqueles que não o compreendiam. Diante de todas as dificuldades em sua vida, ele escolheu perseverar. E aqueles que perseverarem até o fim receberão o auxílio divino.

O Encontro com o Cristo

E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama (Mc 10, 49)

O Mestre, que seguia em sua jornada, interrompe seu caminho ao deparar-se com a dor de Bartimeu, demonstrando sua compaixão e prontidão em socorrer o necessitado. O comportamento do Cristo, neste trecho, é um valioso ensinamento para a alma humana, que não deve se manter indiferente diante das necessidades do próximo. A atitude de Jesus reflete a obrigação de sempre auxiliar aqueles que se apresentam em nosso caminho.

A Transformação Interior

E ele, lançando de si a sua capa, levantou-se e foi ter com Jesus (Mc 10, 50)

Levantar-se é sair da posição de inércia, colocando-se em movimento. Lançar de si a capa da indigência é despir-se dos conflitos espirituais que mantêm a pessoa presa ao passado, abandonando as máscaras que a tornam doente. Para encontrar o Cristo interno, é imprescindível que a pessoa se levante, saia da posição psíquica de quem espera ser servido e comece a agir, abandonando os velhos hábitos, sentimentos e pensamentos que a mantêm em uma condição espiritual infeliz.

O Pedido e a Cura

E Jesus, falando, disse-lhe: Que queres que te faça? E o cego lhe disse: Mestre, que eu tenha vista (Mc 10, 51)

A pergunta feita por Jesus ao cego Bartimeu revela um profundo respeito pela Lei da Vida e pelo livre-arbítrio. Ouvir a resposta de Bartimeu era fundamental, pois são as respostas que damos às experiências da vida que determinam se permaneceremos aprisionados ou nos libertaremos dos estágios dolorosos a que nos entregamos deliberadamente. Diante do Cristo, o cego teve a oportunidade de pedir várias coisas, mas escolheu humildemente pedir apenas a capacidade de enxergar, de ver além das limitações físicas.

A Fé que Salva

E Jesus lhe disse: Vai, a tua fé te salvou. E logo viu, e seguiu a Jesus pelo caminho (Mc 10, 52)

A fé que cura é uma força dinâmica, enraizada na confiança plena. A fé que salva vai além das imperfeições morais que causam enfermidades na alma, capacitando-a a expandir sua visão interna. Com uma visão ampliada, a alma é capaz de refletir sobre si mesma e iniciar um processo ascendente de transformação moral, gradualmente libertando-se dos vícios que a mantinham inerte, cega e mendigando.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A Candeia Debaixo do Alqueire

A Candeia Debaixo do Alqueire

A CANDEIA DEBAIXO DO ALQUEIRE

Na parábola da Candeia, Jesus encoraja cada indivíduo a ser o arquiteto de sua própria evolução espiritual, enfatizando a importância da autotransformação moral. Este ensinamento convida-nos a refletir profundamente sobre nossa trajetória e responsabilidades, destacando que, em nossas mãos, está a capacidade de moldar nosso caráter e destino através da introspecção e do compromisso moral.

Ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com um vaso, ou a coloca debaixo de um leito, mas coloca-a sobre o candeeiro para que os que entram vejam a luz. Porque não há algo escondido que não se torne manifesto, nem oculto que não venha a ser conhecido e manifesto. Vede, pois, como ouvis; pois quem tiver, a ele será dado, e quem não tiver, até o que parece ter será tirado dele.

Lucas 8, 18 a 18

Análise do Primeiro Versículo

Candeia era um instrumento essencial de iluminação durante a época de Jesus, alimentada por óleo e comumente encontrada em todas as residências. Era tradicionalmente posicionada em lugares elevados dentro das casas, a fim de garantir uma iluminação uniforme e eficiente no ambiente.

Jesus utiliza essa simbologia para nos convidar a direcionar a luz de nossa consciência para o nosso mundo íntimo, explorando a inconsciência onde se acumulam densas sombras. Por serem desconhecidas por nós, essas sombras frequentemente dão origem a atitudes, comportamentos, reações, pensamentos e palavras que podem surpreender e perturbar quem as manifesta.

Não são raras as ocasiões em que nos surpreendermos com nossos próprios pensamentos, marcados por rancor, inveja, ciúme, ódio ou desejos de vingança. Quantas vezes nos vemos envergonhados por nossas palavras, ações ou comportamentos? Tais manifestações revelam que o psiquismo humano, frequentemente, está mergulhado em profundas sombras, clamando por iluminação.

Esse conteúdo interno obscuro tende a se conectar à espiritualidade inferior, como destacado em O Livro dos Espíritos. Emmanuel, no livro Pensamento e Vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier, também ressalta: "Todos nós somos capazes de captar as emissões mentais daqueles que pensam como nós."

Por isso, o processo do autoconhecimento se faz urgente, sobretudo neste tempo de transição planetária.

A Busca pela Verdade

Na parábola, a candeia depende do óleo como combustível para gerar luz. No campo íntimo, o combustível de que necessitamos para a iluminação das nossas sombras internas,é apontado por Jesus, em João 8:32:,

Conhecereis a verdade e ela vos libertará

João 8:32

Mas, afinal, o que é a verdade?

Essa pergunta foi feita a Jesus, há dois mil anos, pelo governador da Judeia, Pôncio Pilatos, conforme registrado no Evangelho de João (18:38). No entanto, o Mestre respondeu com silêncio. Segundo o espírito Humberto de Campos,no livro Lázaro Redivivo, (capítulo 32), psicografado por Chico Xavier, o silêncio de Jesus revela que a verdade não é um bem transmissível. Ela não pode ser adquirida por meio de informações externas, mas deve ser conquistada ao longo da vida. A verdade é uma realização pessoal e eterna, que precisa ser gradativamente assimilada dentro de cada ser, através de experiências, reflexões e da consciência individual.

Se a verdade é o combustível capaz de iluminar e libertar a alma de suas trevas internas, pavimentando o caminho para o autoconhecimento, surge uma pergunta inevitável: como alcançá-la.

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6). Com estas palavras, Jesus estabelece sua conexão direta com Deus e nos mostra que é através de seus ensinamentos que nos aproximamos do Pai. O Evangelho, fonte de amor e sabedoria, guia as almas em busca da comunhão divina. Porém, apenas conhecê-lo superficialmente não é suficiente para a verdadeira transformação interior.

Na obra Renúncia, psicografada por Chico Xavier, o espírito Emmanuel, através da personagem Alcione, ensina que o Evangelho é um caminho de ascensão espiritual. Não basta apenas conhecer suas palavras - é preciso meditá-las e, principalmente, vivenciá-las. O primeiro passo dessa jornada é o conhecimento. Como uma candeia que ilumina a escuridão, o estudo do Evangelho acende a luz interior que guiará o espírito em sua evolução.

O Processo de Autoiluminação

A autoiluminação é o convite expresso na Parábola da Candeia, permitindo ao ser evoluir de forma consciente, já que lhe permite ampliar sua visão íntima. Isso o capacita a reconhecer suas falhas morais para transformá-las, alinhando seu psiquismo ao modelo de Jesus.

Assim como não se deve ocultar uma candeia acesa sob o leito, não basta apenas estudar os ensinamentos de Jesus sem aplicá-los na vida. Para manter viva essa luz interior, é fundamental meditar sobre o conhecimento adquirido, permitindo que os ensinamentos ecoem em nosso coração.

A meditação nos leva a questionar como podemos aplicar as lições do Evangelho no dia a dia: como praticar o perdão setenta vezes sete, como amar verdadeiramente ao próximo, como evitar julgamentos e como exercer o autoperdão.

São inúmeros ensinamentos que, quando verdadeiramente compreendidos e praticados, guiam nossa evolução espiritual.Meditar sobre o Evangelho significa refletir e visualizar sua aplicação prática. Sentir e vivenciar seus ensinamentos demanda esforço e persistência, pois envolve a transformação de emoções e sentimentos.

O Caminho da Transformação

O processo de evolução consciente, que leva a conquista da transformação moral, por meio do autoconhecimento, é gradativo, longo e bastante difícil, mas é o único caminho que nos libertará de todo sofrimento e de toda dor.

A Parábola da Candeia convida à autoiluminação, um processo que amplia a visão interior e permite reconhecer falhas morais para transformá-las segundo o modelo de Jesus.

"Brilhe a vossa luz diante dos homens!" - mas para que isso ocorra, é preciso libertar essa luz das sombras que a encobrem.

"Não há coisa oculta que não haja de manifestar-se, nem escondida que não haja de saber-se e vir à luz

Por meio do autoconhecimento e da introspecção, nossas imperfeições morais e sentimentos egoístas tornam-se evidentes. É fundamental aceitar essas descobertas, pois são próprias da condição humana. Como espíritos em evolução, devemos trabalhar pacientemente para superar as falhas identificadas, não as negando ou mascarando, mas reconhecendo-as como parte do processo de construção íntima guiado por Jesus.

"Vede, pois, como ouvis; porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver até o que parece ter lhe será tirado

À medida que avançamos no autoconhecimento, trazendo à luz e transformando nossos sentimentos mais grosseiros, recebemos mais força e clareza para prosseguir em nossa jornada de iluminação.Esse processo nos permite identificar falsas virtudes que apenas mascaram nossas imperfeições reais. Como disse Jesus: "aquilo que parece ter lhe será tirado" - referindo-se a essas pseudo-virtudes que adotamos para aparentar o que não somos. A transformação moral conquistada por meio do autoconhecimento é um processo gradual e desafiador, mas é o único caminho para a verdadeira libertação do sofrimento.

Conclusão

Vinde a mim, todos vós que sofreis, e eu vos aliviarei.

O caminho que nos conduz a Jesus começa com o entendimento de seu Evangelho de Amor. Ao refletirmos e aplicarmos seus ensinamentos, somos convidados a vivenciá-los em sua plenitude. Apenas ao incorporarmos verdadeiramente a mensagem de Jesus é que chegaremos até Ele, encontrando alívio e uma felicidade genuína. O percurso é árduo, mas tenhamos coragem. É possível triunfar!

sábado, 19 de maio de 2018

As Dez Virgens:

A Parábola das Dez Virgens: Uma Análise Espiritual e Psicológica

A Parábola das Dez Virgens: Uma Análise Espiritual e Psicológica

A Parábola Original

O reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco insensatas. As insensatas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia e nem a hora. Mateus 25, 1-13.

Interpretação e Contexto

Embora muitas interpretações desta parábola tenham um enfoque escatológico, as palavras de Jesus oferecem múltiplas perspectivas. É plenamente possível entendê-la não apenas como uma visão do fim dos tempos, mas também como um convite ao autoconhecimento.

Ao utilizar elementos de um casamento tradicional judeu como pano de fundo, Jesus destaca a ideia de uma união cósmica e de uma conexão profunda, como um pilar que sustentará todas as outras imagens e mensagens contidas no texto.

A parábola descreve o encontro de dez virgens com o noivo. Segundo a tradição judaica, durante a cerimônia de casamento, a noiva era acompanhada por suas amigas no trajeto até o noivo. Este, por sua vez, também caminhava em direção à casa da noiva, ladeado por seus amigos.

Simbolismo Espiritual

No entanto, na parábola, Jesus omite qualquer menção à noiva, focando apenas em suas amigas, as virgens. Isso se dá porque Jesus não alude a um casamento terreno, mas sim à união entre a humanidade — o Seu rebanho — e Ele mesmo, o divino pastor.

Simbolicamente, Jesus é retratado como o noivo da humanidade, conforme evidenciado em Mateus 9:14-17. Essa representação também é reforçada na resposta à questão 309 do livro "O Consolador", ditado pelo espírito Emmanuel e psicografado por Chico Xavier.

O Reino dos Céus

Um dos pontos centrais da parábola é a analogia do reino dos céus com as dez virgens que se dirigem ao encontro do noivo. Jesus frequentemente se referiu ao "reino dos céus", utilizando diversas metáforas e elementos cotidianos da vida do povo judeu para facilitar a compreensão. Em Lucas 17:20-21, o Mestre clarifica sua mensagem, declarando que o reino não se localiza externamente, mas reside no interior de cada indivíduo. Isso sublinha que o "reino dos céus" não é um lugar físico, mas sim um estado interno de harmonia, equilíbrio e regência pelo amor incondicional.

Observamos, também, que as virgens, ao serem comparadas ao reino dos céus, avançam em direção ao noivo. Isso sugere que esse estado interno de harmonia, equilíbrio e domínio pelo amor incondicional não é algo que se recebe passivamente, mas uma conquista que exige esforço ativo.

O Simbolismo do Número Dez

A escolha do número dez na parábola também é significativa. Na tradição judaica, os números carregam profundos significados simbólicos. O número dez, em particular, representa perfeição e totalidade. Assim, as dez virgens podem ser vistas como um símbolo da busca completa e perfeita pela harmonia interior e pelo amor incondicional.

Na parábola, as dez virgens não representam uma unidade perfeita e coesa, pois enquanto metade delas é descrita como prudente, a outra metade é caracterizada como imprudente. Assim, a imagem das dez virgens ilustra uma totalidade que, apesar de completa, possui suas metades em desequilíbrio.

Psicologia Profunda e Autoconhecimento

Esta analogia pode ser estendida à humanidade atualmente encarnada no planeta. Em um mundo de provas e expiações como o nosso, o psiquismo humano, devido aos seus inúmeros conflitos internos, apresenta-se fragmentado. Existe uma parte de nós que é consciente e conhecida, enquanto outra permanece oculta e misteriosa. Há uma faceta que age com prudência e discernimento, e outra que pode ser impulsiva e até assustadora. Da mesma forma, enquanto uma parte de nós consegue controlar e dominar nossas tendências, a outra pode estar repleta de imperfeições e vícios que, por vezes, sobrepõem-se à nossa razão. Esta dualidade reflete a contínua luta interna que muitos enfrentam em sua jornada espiritual e evolutiva.

Joana de Angelis, através da série psicológica psicografada por Divaldo Franco, faz alusão ao pensamento de Carl Jung para elucidar aspectos profundos da psique humana. Segundo essa perspectiva, a parte desconhecida da personalidade abriga conteúdos psíquicos que o EU (ou SELF, conforme a terminologia junguiana) não reconhece conscientemente. Estes conteúdos estão armazenados no que é chamado de inconsciente profundo.

Este repositório oculto do inconsciente frequentemente exerce uma influência poderosa sobre nossas ações e decisões, levando-nos a agir de maneiras surpreendentes que, por vezes, contradizem nossa própria compreensão consciente. É como se existisse uma força interior, raramente reconhecida, capaz de direcionar aspectos significativos de nossa existência.

Considerando a influência profunda e misteriosa do inconsciente sobre o comportamento humano, compreende-se por que o autoconhecimento tornou-se um tema central nas parábolas de Jesus. O Mestre enfatizou a importância do olhar interior, do reconhecimento e da integração de todas as dimensões do ser, como caminho para uma vida mais plena e alinhada com o amor e a verdade divinos.

O Sono Espiritual e o Despertar

Outro aspecto marcante da parábola é o sono que acomete todas as virgens. Mesmo estando equipadas com suas lamparinas, em determinado ponto da espera pelo noivo, todas adormecem devido à sua demora.

O sono, neste contexto, pode ser interpretado como uma metáfora para a inércia espiritual. Representa a estagnação e a inatividade do espírito, simbolizando a ausência do esforço contínuo e necessário para o autoconhecimento. Esse estado de "sono" reflete o comodismo, o desinteresse e o descaso na jornada de despertar da consciência. É uma postura passiva diante da vida e da evolução espiritual.

Essa inércia, simbolizada pelo sono, prende o ser humano ao estágio evolutivo em que se encontra, atuando como uma espécie de anestesia para a vontade e o ímpeto de crescimento. Em vez de avançar e buscar a iluminação e o entendimento, a alma permanece adormecida, perdendo oportunidades valiosas de evolução e aprendizado.

O Despertar da Consciência

O momento em que as virgens são despertadas pela chegada inesperada do noivo é, sem dúvida, o clímax da parábola. Jesus, em sua maestria, utiliza simbolismos profundos e transcendentais para transmitir seus ensinamentos. A chegada do noivo à meia-noite não é um detalhe trivial. A meia-noite, marcada pelo encontro dos ponteiros do relógio, simboliza o fim de um ciclo e o início de outro.

Dentro desse contexto, a chegada do noivo nesse momento específico sugere que o despertar espiritual pode ocorrer justamente quando menos esperamos, no limiar entre duas fases de nossa existência. É um lembrete de que a oportunidade para a transformação e o crescimento espiritual pode surgir a qualquer momento, e que devemos estar sempre preparados e vigilantes para recebê-la.

Nas cartas de Paulo aos Romanos, capítulo 13, versos 11-12, destaca-se a advertência do apóstolo do Cristo: "Reconheceis o momento em que viveis, já é hora de despertar do sono. A noite está avançada, o dia se aproxima. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz."

A parábola aponta para o despertar da consciência, pois a humanidade já se encontra em condições de realizá-lo. Ao despertarem, as virgens percebem que não podem mais seguir juntas, pois durante o sono suas lâmpadas se apagaram e metade delas não tinha azeite suficiente para mantê-las acesas.

O Confronto com as Máscaras Psicológicas

As virgens insensatas representam as máscaras que criamos para sustentar nossas pseudovirtudes. Quando o ser humano não busca o autoconhecimento, quando se recusa a aceitar-se, quando não se perdoa, alimenta para si falsas virtudes, numa tentativa ilusória de compensar-se, acreditando ser o que não é.

Todo movimento ilusório, do ponto de vista psicológico, um dia perde o combustível e não consegue sustentar-se, levando o ser a experimentar, muitas vezes, um despertar doloroso, como aconteceu com as virgens que, só então, perceberam o quanto se equivocaram.

Surge, novamente, a necessidade de se autodescobrir, para o trabalho de transformação moral, abandonando as máscaras e todos os outros artifícios psicológicos que evitam o despertar da consciência, rumo à plenitude espiritual.

Por fim, considere-se que a separação das virgens retrata a divisão de um todo. No caso da parábola, metade luz, metade trevas. Neste aspecto, já advertira o Cristo: "Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir". Mateus 12:25.

Conclusão

Jesus termina a parábola recomendando orai e vigiai porque não sabemos o dia e a hora.

Aproveitar a encarnação para o exercício do autoconhecimento é missão de todos aqueles que buscam os patamares superiores da vida. O relógio da imortalidade já marcou meia noite. É chegada a hora!

domingo, 22 de abril de 2018

O Grande Banquete

A Parábola do Grande Banquete - Uma Análise Espiritual Profunda

A Parábola do Grande Banquete: Uma Análise Espiritual

Um certo homem preparou um grande banquete e convidou a muitos. Na hora do banquete, enviou seu servo avisar os convidados: Vinde, já está preparado. E todos, um após um, foram se desculpando. O primeiro disse: Comprei um terreno e preciso examiná-lo; por favor, aceite minhas desculpas. O segundo disse, comprei cinco juntas de bois e vou prová-los por favor, aceite minhas desculpas. O terceiro disse: acabo de casar e não posso ir. O Servo voltou para informar o senhor. Então o senhor da casa, irritado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e vielas da cidade e trazei para cá os pobres, mutilados, cegos e coxos. O servo lhe disse: Senhor, foi feito como ordenastes, e ainda sobra lugar. O senhor disse ao servo: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga-os a entrar, para que a minha casa se encha. Lucas 14:16-24.

A Essência da Parábola

Esta parábola nos apresenta uma profunda ilustração da realidade do espírito imortal em sua jornada evolutiva. Em sua estrutura, encontramos elementos que revelam como o amor divino se manifesta de diferentes formas para alcançar todos os seus filhos. O homem que organiza o banquete simboliza Deus, e o servo único representa a manifestação constante da vontade divina, que se adapta às diferentes circunstâncias mas mantém seu propósito fundamental: trazer todos ao banquete da comunhão com o Criador.

Todos os seres criados por Deus têm como destino a perfeição. É uma fatalidade da qual ninguém pode escapar. O ser humano pode estacionar temporariamente em sua jornada, mas não pode evitar o progresso, pois Deus exerce sobre todos os seus filhos uma força magnética à qual, cedo ou tarde, ninguém consegue resistir. O caminho em direção a Deus é inevitável, embora possa se manifestar através de diferentes experiências.

O Significado do Banquete

Na cultura judaica, um banquete representava muito mais que uma simples refeição. Era uma ocasião de profunda significação espiritual e social, reservada para estabelecer vínculos importantes e comunhão íntima. Ao utilizar esta metáfora, Jesus ilustra o desejo de Deus de estabelecer uma relação próxima com todas as suas criaturas.

Esta comunhão plena só será alcançada quando o espírito atingir a perfeição necessária, conforme esclarecido na questão 11 do Livro dos Espíritos:

"Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?"

"Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá."

O Servo e as Três Missões

Na parábola, vemos um único servo que recebe três missões diferentes. Esta estrutura é fundamental para compreendermos como a vontade divina se manifesta de formas diferentes, adaptando-se às circunstâncias e à receptividade dos espíritos, mas mantendo sempre sua essência amorosa.

Primeira Missão: O Chamado pelo Amor

O servo primeiramente é enviado para avisar aos convidados que o banquete está pronto. Os dois verbos iniciais, "convidar" e "avisar", simbolizam os chamados e os alertas do amor. Este momento representa o chamado inicial de Deus, que oferece a todos a oportunidade de evolução por meio do amor. As recusas dos convidados ilustram como frequentemente as pessoas priorizam questões materiais em detrimento do crescimento espiritual.

As Três Áreas de Provação

É importante compreender que as experiências fundamentais dos espíritos em mundos de provas e expiações, como a Terra, manifestam-se principalmente através de três esferas essenciais da vida: o trabalho, as relações afetivas e a gestão do patrimônio. Estas não são meras áreas de atividade humana, mas representam campos de aprendizado onde os princípios divinos podem ser exercitados e compreendidos em profundidade.

No campo do trabalho, o espírito aprende sobre cooperação, responsabilidade, criatividade e serviço ao próximo. Através das relações afetivas, desenvolve o amor incondicional, a compaixão, o perdão e a superação do egoísmo. Na gestão do patrimônio, exercita o desapego, a generosidade, a justiça e a administração sábia dos recursos que lhe são confiados.

Estas três esferas não são escolhidas arbitrariamente, mas constituem os campos naturais onde o espírito pode desenvolver virtudes essenciais ou, quando mal orientado, desviar-se temporariamente de seu caminho evolutivo. São como salas de aula onde cada experiência, seja ela considerada positiva ou negativa, oferece oportunidades de aprendizado e crescimento espiritual.

É por meio destas vivências cotidianas que o espírito tem a oportunidade de transformar conhecimento em sabedoria, teoria em prática, e compreensão intelectual em vivência moral. Cada situação apresenta escolhas que podem aproximá-lo ou afastá-lo temporariamente de seu objetivo evolutivo, embora o progresso final seja inevitável.

Segunda Missão: O Chamado pela Expiação

Após as recusas iniciais, o mesmo servo é enviado às ruas e vielas para trazer os pobres, mutilados, cegos e coxos.

Ao desperdiçar oportunidades de evolução através do exercício de virtudes e da aquisição de conhecimentos nas experiências vividas no âmbito do trabalho, patrimônio e relações afetivas, o indivíduo acumula sérios débitos para consigo mesmo. Assim, mais tarde, ele é conduzido, e não apenas convidado, a evoluir por meio de experiências expiatórias.

O segundo servo simboliza a expiação. Por essa razão, Jesus emprega o verbo 'trazer' (ou 'buscar', dependendo da tradução do texto) ao se referir a ele. Esse uso verbal destaca uma certa imposição. Daí a menção aos pobres, cegos, coxos e mutilados. Estes não representam deficiências físicas, mas sim espirituais. Em expiação, encontram-se aqueles que são pobres em amor ao próximo, cegos de espírito, mutilados de coração e coxos em seus sentimentos, todos por não terem aproveitado adequadamente as oportunidades de caminharem em direção a Deus por meio do amor.

A Resposta à Expiação: Resignação ou Revolta

As experiências agora são difíceis porque o orgulho cegou a alma, a vaidade mutilou os sentimentos e o egoísmo impediu o amor de expressar-se fraternalmente como Jesus ensinou.

As experiências expiatórias despertam na alma humana dois sentimentos distintos: resignação e revolta.

A resignação conduz o espírito de volta ao caminho do amor, pois reconhece que os desafios presentes são reflexos de erros passados. Essa aceitação diante das adversidades é a manifestação da compreensão profunda das palavras de Cristo: "Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.

Já a revolta tem um efeito paralisante sobre o espírito, fazendo-o estagnar em sua jornada. Esse estado perdura até que, eventualmente, o espírito seja compelido a prosseguir em sua caminhada evolutiva.

Terceira Missão: O Chamado pela dor

Na última missão, o servo é enviado aos caminhos e atalhos para compelir todos a entrarem. Esta fase representa a universalidade do amor divino, que não desiste de nenhum de seus filhos e utiliza diferentes meios para alcançá-los.

O emprego do verbo 'forçar' por Jesus não foi aleatória. Ele quis enfatizar que todas as criaturas, inevitavelmente, alcançarão a perfeição, seja pelo caminho do amor ou pelo da dor.

Quando as oportunidades de evolução pelo amor são negligenciadas, o ser é impelido a crescer através de experiências expiatórias. Estas, gradualmente e por meio da resignação,reconduzirão ao caminho do amor.

Contudo, se, diante da expiação, a alma opta por nutrir uma revolta silenciosa contra todos e contra Deus, resistindo ao crescimento espiritual, ela será compelida a avançar sob o peso da dor e do sofrimento, em múltiplas vivências, até que reencontre o caminho do amor.

Por isso, na parábola, a última missão do servo foi consuzir,por meio do sofrimento, todas as almas revoltadas, rebeldes e persistentes no erro a marcharem rumo a Deus.

A Manifestação do Amor Divino

A progressão das missões do servo demonstra como o amor divino se adapta às diferentes necessidades e resistências dos espíritos. Não há uma divisão entre amor e expiação, mas sim diferentes manifestações do mesmo amor divino, que busca alcançar cada espírito da maneira mais adequada ao seu estado evolutivo.

Quando as oportunidades iniciais não são aproveitadas, novas circunstâncias são criadas, não como punição, mas como novas expressões do amor divino, buscando despertar a consciência espiritual através de diferentes experiências e desafios.

O Caminho Inevitável

A progressão das missões do servo ilustra uma verdade fundamental: todos os espíritos, em algum momento, responderão ao chamado divino. A escolha do verbo "compelir" na última missão não sugere uma imposição punitiva, mas sim a inevitabilidade do progresso espiritual.

Esta compreensão nos permite perceber que todas as experiências, sejam elas aparentemente fáceis ou difíceis, são manifestações do mesmo amor divino, adaptando-se às necessidades evolutivas de cada espírito. O objetivo final permanece constante: conduzir todos os espíritos ao banquete divino, à comunhão plena com o Criador.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

O Sinal de Jonas

O Sinal de Jonas: Uma Análise Espiritual Profunda

O Sinal de Jonas: Uma Análise Espiritual Profunda

Os evangelhos de Lucas e Mateus relatam que, em certa ocasião, um grupo de fariseus se aproximou de Jesus pedindo-lhe um sinal que os convencesse definitivamente de que Ele era o Messias esperado. Jesus respondeu a eles afirmando que nenhum outro sinal lhes seria dado, exceto o sinal de Jonas, que passou três dias e três noites no ventre do grande peixe.

Trata-se de um texto que exige reflexões, porque o seu conteúdo espiritual não está aparente. Ao leitor desatento, a resposta de Jesus aos fariseus parece perfeita. Os fariseus pedem a Jesus um sinal e o Mestre lhes diz que o sinal será Sua ressurreição.

No entanto, a resposta dada aponta para um conteúdo espiritual que deve ser meditado, pois Jesus não proferiu uma única palavra que carecesse de um profundo ensinamento, e também não recorreu a expedientes para atender à hipocrisia dos fariseus.

A História de Jonas

A história está registrada no Velho Testamento, no livro de Jonas. Trata-se de um livro bastante breve, com apenas quatro capítulos, que narra uma história aparentemente simples, porém repleta de conteúdo espiritual profundo.

O profeta Jonas relata que Deus o incumbiu da missão de ir até a cidade pagã de Nínive, a capital da Assíria, que era habitada por pessoas perversas e más e que eram inimigas ferrenhas de Israel. A tarefa designada a Jonas consistia em pregar ao povo e adverti-los de que o Deus de Israel os destruiria devido ao seu comportamento imoral.

Jonas, contudo, recusa essa incumbência e foge da presença de Deus. Ele segue na direção oposta e desce ao porto de Jope, onde embarca no primeiro navio disponível, com destino a Tarsis. Enquanto está em alto mar, surge uma tempestade violenta que ameaça naufragar o navio.

Os marinheiros, em estado de desespero, começam a lançar ao mar as cargas pesadas para aliviar o peso da embarcação. Enquanto isso, Jonas permanece sem se preocupar e desce ao porão do navio, onde acaba adormecendo profundamente.

Diante da tempestade, os marinheiros, cada um invocando seu próprio deus, concluem que alguém a bordo deve estar provocando a ira divina, o que causa o caos no navio. Decidem então lançar sortes para determinar quem era o culpado por essa calamidade.

A sorte recai sobre Jonas, e eles o questionam a respeito de sua responsabilidade na situação. Jonas relata-lhes toda a sua história e a missão que Deus lhe confiara. Impressionados, os marinheiros lançam Jonas ao mar, buscando aplacar a cólera divina. Nesse exato momento, surge um grande peixe, enviado por Deus, que engole Jonas, onde ele permanece por três dias e três noites.

Durante esses três dias e três noites dentro do peixe, Jonas sente-se imerso no abismo, nas profundezas do inferno. Profundamente arrependido de suas ações, ele suplica por misericórdia divina. Nesse momento, o peixe vomita Jonas em terra firme. Deus, então, aparece novamente a Jonas e lhe reitera a mesma tarefa que ele havia abandonado, ordenando-o a pregar em Nínive.

Jonas, finalmente, decide obedecer e parte para Nínive. Lá, permanece por quarenta dias, pregando ao povo sobre a vontade de Deus e alertando sobre a iminente destruição da cidade. Os ninivitas, ao ouvirem a mensagem de Jonas, sentem-se profundamente tocados e começam a crer no Deus de Israel, mudando seus caminhos de forma definitiva.Diante desse arrependimento sincero, Deus demonstra misericórdia e não executa a destruição anunciada.

No entanto, Jonas fica descontente e inconformado com o fato de Deus ter poupado os ninivitas, que eram seus inimigos declarados. Ele expressa sua frustração em oração, pedindo que Deus lhe tire a vida, pois preferiria morrer a testemunhar a compaixão de Deus para com seus inimigos.

Deus, em resposta às súplicas de Jonas, não lhe retira a vida, mas faz crescer uma grande planta sobre sua cabana, proporcionando-lhe sombra e frescor. Jonas se alegra imensamente com isso. Entretanto, Deus envia um verme para destruir a planta, deixando Jonas novamente exposto ao sol escaldante.

Nesse momento, Jonas expressa sua frustração e pede novamente a Deus que lhe seja tirada a vida. Deus, por sua vez, questiona Jonas sobre sua intensa revolta diante da perda de uma simples árvore. Ele acentua que essa árvore não foi plantada por Jonas e surgiu e desapareceu em um único dia.

Deus utiliza essa situação para fazer Jonas compreender que se ele sentiu compaixão por uma planta, quanto mais Deus deve sentir compaixão pelo povo de Nínive, que é um povo que mal conhecia a diferença entre suas mãos.

E, assim, termina a história de Jonas.

Reflexões Espirituais

Alguns aspectos da história de Jonas merecem uma reflexão cuidadosa. Antes de tudo, é importante destacar que o final do texto, escrito aproximadamente entre o século V e VII a.C., apresenta uma visão de Deus diferente daquela revelada por Moisés.

O texto sugere um Deus de amor, paciente com todos, que não se cansa diante das fraquezas humanas, do egoísmo, da falta de vontade e do orgulho de seus filhos. Ele é retratado como um Deus que oferece oportunidades de recomeço e que nunca nos abandona, mesmo quando nos encontramos nas sombras devido à nossa própria rebeldia. Esse aspecto enfatiza a misericórdia e a compaixão divina, ressaltando o desejo de Deus de oferecer oportunidades para que as pessoas se redimam e se transformem.

O final do texto ressalta um padrão mental humano equivocado, marcado pelo egocentrismo e egoísmo. Mostra como muitos buscam o amor de Deus apenas para si mesmos, acreditando merecer perdão e misericórdia, enquanto secretamente desejam a punição daqueles que os ofenderam.

O início do texto, que apresenta a missão de Jonas, é de fato um ponto importante de reflexão. A missão atribuída a Jonas nos convida a refletir sobre nossa própria missão e propósito na vida, pois a cada ser humano é confiado uma missão singular que está alinhada com suas necessidades evolutivas.

Entre as diversas missões que Deus confia a Seus filhos, a mais relevante é a missão no lar, ao lado daqueles a quem Jesus colocou ao nosso lado, ou seja, nosso próximo mais próximo.

Jonas simboliza o psiquismo que decide rejeitar a missão divina que lhe foi confiada e faz uso equivocado do livre arbítrio, optando pela fuga. Ao evadir-se de sua tarefa, Jonas imediatamente inicia um processo de queda, revelando, assim, uma lei divina e universal. Três momentos evidenciam essas quedas de Jonas: ele desce a Jope, desce ao navio e desce ao porão da embarcação, entregando-se a um profundo sono, caracterizado pela inércia, irresponsabilidade e conformismo

Aplicação para Nossa Vida

É exatamente isso que acontece quando fugimos da missão que Deus nos confiou: fazemos um movimento de queda vibratória.

O lar é a nossa Nínive, onde estão aqueles espíritos ligados a nós pelos laços mais santos. Perdoar e servir a esposa ou o esposo complicado, o filho rebelde, o irmão ignorante e cheio de vícios, a sogra perturbada, o genro orgulhoso, a nora cega de vaidade, o pai e a mãe muitas vezes difíceis, incompreensíveis, insensíveis, castradores, entre outros, é realmente um desafio. Diante desse quadro, muitos optam por fugir.

Essa fuga se manifesta de diversas maneiras, como passar mais tempo fora de casa envolvido em diferentes atividades; em outras ocasiões, ocorre através do mergulho nos vícios, bem como em outros relacionamentos, ou até mesmo por meio de enfermidades. É notável quantas patologias podem ser entendidas como verdadeiras tentativas de escapar das responsabilidades e desafios que o convívio no lar e com aqueles que nos são mais próximos apresentam. No entanto, enfrentar essas situações de frente, com amor, paciência e compreensão, pode levar a um crescimento pessoal profundo e ao fortalecimento dos laços familiares, transformando o lar em um espaço de aprendizado e evolução espiritual.

Todas as nossas quedas morais resultam do uso equivocado do livre arbítrio, nos conduzindo por um caminho de descida e queda. No entanto, Deus nunca nos abandona. Ele proporciona novas oportunidades àqueles que cometem erros e caem. O recomeço coloca o viajante na mesma encruzilhada que antes recusou seguir. A mesma tarefa é novamente confiada a ele. Isso também aconteceu com Jonas; depois de reconhecer seu erro, pedir uma nova chance e passar por um longo período de quedas, tormentos e escuridão, Deus o enviou mais uma vez a Nínive.

Analisemos o perfil de Jonas e façamos uma reflexão bastante sincera, buscando identificar os traços de Jonas em nós. E tenhamos ânimo e coragem para sermos fiéis aos compromissos que Deus nos confiou, a fim de avançarmos, deixando para trás o ponto a que temos nos demorado tanto.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

A Porta Estreita

A Porta Estreita

A Porta Estreita

"Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela" (Mateus 7:13)

O Contexto Histórico de Jerusalém

Na época de Jesus, o povo da Palestina, embora moralmente endurecido, mantinha uma forte adesão e compromisso com os preceitos religiosos presentes na Torá.

Devido a essa orientação, os judeus demonstravam uma profunda reverência pela cidade de Jerusalém, a capital religiosa do judaísmo, considerada sagrada e divina. Isso ocorria principalmente porque lá se encontrava construído o único templo onde eles deveriam adorar a Deus.

Nas datas religiosas, os judeus de toda a Palestina deixavam suas cidades e peregrinavam até a cidade sagrada de Jerusalém para celebrar as festas no templo.

As Portas de Jerusalém e Seu Significado

Naquela época, as cidades importantes eram fortificadas e cercadas por altos muros, destinados à sua defesa. O acesso às cidades era possível apenas através de portas ou portões.

Em Jerusalém, existiam doze portas, cada uma com um propósito específico. Havia uma porta pela qual o lixo da cidade era retirado, a porta central que era utilizada pelos peregrinos em dias de festa, uma porta pela qual os produtos eram trazidos para serem comercializados e, além destas, havia também a porta através da qual as ovelhas eram conduzidas para serem sacrificadas.

Naquela época, os judeus praticavam o sacrifício de animais como uma forma de expressar adoração a Deus. Como muitos judeus eram pastores de ovelhas, eles frequentemente utilizavam esses animais nos rituais sagrados. Durante os dias de festas religiosas, a venda de animais para sacrifício era abundante nas proximidades das portas da cidade.

Os animais destinados ao sacrifício só podiam entrar na cidade por uma porta específica, conhecida como a Porta das Ovelhas ou a Porta do Sacrifício. Essa porta permitia acesso direto à área posterior do templo e era estreita e pequena, tornando difícil a passagem de pessoas.

O Simbolismo da Porta Estreita

Jesus, então, utiliza a simbologia presente na imagem da Porta das Ovelhas, que era estreita e reservada para o sacrifício, para transmitir ensinamentos sobre o processo de transformação moral.

A porta é um elemento que define a fronteira entre dois espaços e possibilita a passagem de um para outro lado. Ninguém pode transpor uma porta sem se colocar em movimento.

A reforma íntima é um processo individual que requer que as forças da alma sejam postas em movimento, permitindo abandonar um estágio evolutivo para ascender a outro.

Jesus frequentemente incentivava esse movimento com a frase: "Vai e não peques mais..."

O Caminho da Transformação

A porta, simbolicamente usada na lição, possui uma característica peculiar: é estreita. Para atravessá-la, é necessário percorrer o caminho do sacrifício.

O caminho da transformação moral é estreito e requer sacrifícios, o que faz com que poucos sejam capazes de percorrê-lo. Isso ocorre porque o processo de transformação moral exige a constante disciplina, a renúncia e o desapego.

Para os espíritos que estão acomodados em suas atitudes, a tarefa da reforma íntima parece pesarosa. No entanto, para aqueles que têm boa vontade, esse caminho se torna um roteiro de vida.

As Duas Portas: Escolhas e Consequências

A Terra é um planeta de provas e expiações, e, por isso, oferece aos seus habitantes inúmeras portas largas, que acessam o mundo exterior das ilusões e das seduções, verdadeiras possibilidades de se adensar as próprias imperfeições morais, como o orgulho, vaidade, egoísmo, viciações, hábitos equivocados etc.

A porta estreita, por outro lado, leva ao caminho da plenitude.

O Papel da Oração e da Vigilância

No entanto, para atravessá-la, é essencial possuir a disposição de olhar para dentro de si mesmo, mantendo a prática constante da oração e da vigilância.

O hábito contínuo da oração eleva o nível de vibração espiritual e estabelece uma conexão com esferas mais elevadas, das quais emanam as melhores inspirações para exercer o livre-arbítrio. Além disso, essa prática expande a visão interior, permitindo que o indivíduo identifique as dificuldades internas que carrega na alma.

Além da oração, é fundamental exercer a vigilância sobre os pensamentos, palavras e sentimentos, uma vez que o que é expresso por meio das palavras, emoções e sentimentos oferece uma melhor compreensão de si mesmo.

O Caminho do Autoconhecimento

A oração e a vigilância são caminhos que facilitam o processo de autoconhecimento. Sem esse autoconhecimento, a pessoa tende a agir sob a influência de sua natureza inferior, suas sombras e conteúdos psíquicos mais densos. A partir disso, a passagem pela porta larga se torna uma questão de oportunidade.

O percurso do autoconhecimento, apesar de desafiador, é o único capaz de guiar o ser humano em direção à felicidade e à perfeição espiritual. Sem a dedicação à renúncia, à superação do interesse pessoal e ao desapego, que são parte integrante do processo do autoconhecimento, é inviável atravessar a porta que, embora estreita, conduz a um novo horizonte - o horizonte da liberdade.