terça-feira, 26 de maio de 2015

JESUS E A MULHER SAMARITANA


O Evangelho de João 4, 5-15 narra o encontro de Jesus com uma mulher Samaritana na cidade de Sicar, na região da Samaria, cujo diálogo está repleto de conteúdos espirituais. Ao chegar na cidade da Samaria, chamada Sicar, Jesus, cansado da longa caminhada vinda de Jerusalém rumo a Galileia, se senta à beira do poço de Jacó para descansar, por volta do meio-dia.

Este quadro é simbólico. A imagem de Jesus, detentor de toda a sabedoria, sentado à beira de um poço, representa a ideia de um mestre à disposição de quem se propõe a aprender com Ele. A mulher que vai ao poço buscar água expressa o movimento do ser humano que, cansado das superficialidades da vida, procura um sentido mais profundo para a própria existência. A fonte, ou o poço, adquire uma simbologia que aponta para o conhecimento. E, é por isso, que a mulher que vai à fonte para saciar sua sede é convidada por Jesus a despertar para o amor próprio.

Ao se aproximar do poço com um jarro em suas mãos para colher a água, Jesus surpreende a mulher, dizendo-lhe: 'Dá-me de beber.' A mulher, surpresa, responde ao Mestre: 'Como sendo tu judeu, me pedes de beber, a mim, que sou mulher samaritana?' (Porque os judeus não se comunicam com os samaritanos).

A proposta de Jesus - 'Dá-me de beber' – é um convite. O Mestre a convida a estabelecer um relacionamento com Ele para iniciar seu aprendizado da Verdade. Mas ela, num primeiro momento, ao invés de estar receptiva ao convite, não O entende, pois embora estivesse pronta para o despertamento, ainda se prendia às questões superficiais da vida.

Jesus propõe à mulher uma comunhão, mas ela permanece ligada às questões culturais de seu tempo e de seu povo, focada nas aparências preconceituosas. Esse é exatamente o perfil da superficialidade.

A mulher Samaritana queria permanecer nas discussões estéreis da superficialidade, por isso questiona: 'Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?' O que importava para ela era a rixa entre os povos e não o convite de Jesus. Ela resiste a ter intimidade com Ele. Apesar de sua necessidade, ela reluta em aceitar o convite ao aprendizado.

No nosso plano, somos constantemente convidados por Deus a assumirmos as rédeas do processo evolutivo, trabalhando pelo próprio aprimoramento moral. No entanto, muitos preferem permanecer no plano da superficialidade.

A mulher, estranhando o pedido de Jesus, responde a Ele que os Judeus não deveriam falar com Samaritanos. Jesus então lhe disse: 'Se tu soubesses quem Sou, era tu que me pedirias água, e a água viva que eu te desse, tu jamais padecerias sede.'

Ao oferecer água viva à mulher, Jesus reforça a Sua condição de Mestre, convidando-a mais uma vez à comunhão com Ele.

A mulher, por sua vez, responde: 'Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, conseguirá a água viva?

Sabe-se que água viva é a água mais pura e cristalina que permanece no fundo de qualquer poço. Quando o Mestre oferece água viva, Ele está propondo um mergulho interior, com o propósito do autoconhecimento. Isto porque, conforme ensina o Livro dos Espíritos, nas questões 919 e 919ª, o autoconhecimento é ferramenta eficaz de evolução. 

O autoconhecimento permite que se cuide das próprias feridas, sem ocultá-las de si mesmo. Durante o processo, é possível reconhecer os acertos e os erros praticados na vida, compreendendo que se os acertos impulsionam o ser para frente, os erros também o fazem quando o ser se compromete a refletir sobre seus atos, com o fim de aprender e repará-los. 

O aprendiz da Vida não estaciona na superficialidade, mas aprofunda-se dentro de si. Em vez de se entristecer com as limitações que encontra, regozija-se com isso, e, notando uma ferida interna, ao invés de disfarçá-la com uma pomada anestesiante, recorre ao unguento do amor para curá-la.

Ao ouvir a proposta de Jesus de que Ele poderia lhe dar água viva, a mulher questionou se Ele era maior do que Jacó, que havia dado àquele povo o poço de onde eles tiravam água.

Jesus, porém, sem dizer se era ou não maior que Jacó, respondeu à mulher que qualquer um que bebesse da água do poço de Jacó voltaria a ter sede, mas aquele que bebesse da água que Ele dava jamais padeceria sede, porque a água dada por Jesus se tornaria uma fonte jorrando para a vida eterna.

A expressão "água viva que sacia a sede" corresponde à frase dita por Cristo em João 8:32: "conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." O espírito, livre de suas amarras internas, está pronto para o exercício do amor e do amor próprio.

A mulher, então, lhe pediu: "Senhor, dá-me dessa água para que eu não tenha mais sede e não precise mais vir até esse poço para tirá-la.

A samaritana ainda resistia ao aprendizado com Jesus ao confundir a "água viva" com a água do poço. Jesus estava falando com ela sobre a sede do espírito, não a sede do corpo. A tentativa de aplacar a sede da alma com coisas materiais é um movimento ilusório do ser equivocado, porque, em vez de saciar-se, encontrará-se ainda mais sedento.

Jesus, com o objetivo de despertá-la, ordenou: "Vai, chama o teu marido e volta aqui." A mulher, espantada, respondeu: "Não tenho marido." Jesus lhe disse: "Falaste a verdade. De fato, não tens marido, porque já tiveste cinco maridos, e o homem com quem estás agora não é teu marido; nisso falaste com sinceridade."

Apesar de a samaritana ter tido relacionamentos conjugais por seis vezes, ainda estava sedenta de amor, cheia de carências e em busca de plenitude. Ela procurava o amor e a realização no outro, e, por isso, já estava no sexto relacionamento sem se sentir amada. O amor é uma fonte que jorra na alma de quem ama. A necessidade de ser amado, querido e protegido é uma dependência psicológica que resulta da imaturidade. Quanto mais maduro o indivíduo, mais independente se torna.

O convite de Jesus aponta para a busca da plenitude sem depender de outros seres, pois, por mais que nos amem, eles não podem nos dar o autoamor, que é a verdadeira fonte da água viva.

Ao dizer a ela: "De fato, não tens marido, porque tiveste cinco maridos, e o homem que agora está contigo também não é teu marido; isto disseste com verdade", Jesus procurava levá-la a entrar em contato com a verdade dentro de si, reconhecendo o padrão de superficialidade em que vivia.

Caindo em si, a samaritana despertou: "Senhor, vejo que és um profeta." A partir desse momento, ela percebeu a superioridade de Jesus e aprofundou a conversa, questionando-O sobre o grande dilema que separava judeus e samaritanos: onde adorar a Deus? Os samaritanos adoravam a Deus no monte Garazin, enquanto os judeus o faziam no templo em Jerusalém.

Jesus respondeu que em nenhum lugar externo encontraríamos Deus para adorá-Lo, porque Deus é Espírito e deve ser adorado em Espírito e Verdade. Isso só seria possível quando o ser humano conseguisse libertar-se dos processos externos, superar a superficialidade e se dispusesse a evoluir na vertical da vida.

A mulher deixou seu cântaro e correu à cidade, chamando as pessoas para banquetear-se com Jesus.

A imagem do cântaro é, de fato, significativa. Como um recipiente para água, ele simboliza a busca pelo amor e pela satisfação nos outros, na materialidade e nas crenças religiosas. No entanto, ao deixar cair o cântaro, a samaritana se liberta de qualquer dependência material, afetiva ou religiosa. Ela compreende que a felicidade e a plenitude podem ser alcançadas dentro de si mesma, por meio da transformação interior. Ela se torna a própria fonte de amor e autoestima. Ao amar a si mesma, ela se torna capaz de compartilhar esse amor com os outros e convida outras pessoas a buscar sua identidade com Jesus.

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