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domingo, 22 de janeiro de 2017

Legião, Porque Somos Muitos

Legião, Porque Somos Muitos

Legião, Porque Somos Muitos

Jesus passava pela região dos gadarenos quando um homem emergiu das sepulturas e correu ao Seu encontro assim que O avistou. Esse não era um homem comum; há muito tempo estava possuído por demônios. De aparência desgrenhada, parcialmente despido, com olhos vitrificados e alimentando-se de restos, ele habitava o local destinado às sepulturas.

Ao ver Jesus, o homem correu e prostrou-se diante da Luz do Mundo, exclamando: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Peço que não me atormentes." Jesus perguntou: "Qual é o teu nome?" Ele respondeu: "Legião é o meu nome, pois somos muitos."

Naquele momento, uma manada de porcos passava por ali. O homem implorou a Jesus que não os expulsasse da província. Os demônios rogaram: "Envia-nos para os porcos, para que entremos neles." Jesus consentiu, e os espíritos imundos entraram nos porcos. A manada se precipitou por um despenhadeiro no mar e se afogou.

O Significado Espiritual da Narrativa

O texto conduz a lições profundas que vão além da narrativa aparente. Literalmente, a história fala de um homem vítima de obsessão espiritual. No entanto, ao encontrar Jesus, a personificação do amor, ele corre ao Seu encontro, suplicando que o deixe em paz, pois seu tempo ainda não havia chegado (Mt 8:29).

O diálogo se estabelece com a legião de espíritos que sugavam as energias vitais do homem (Mc 5:9-13). Eles pedem a Jesus que lhes permita entrar nos porcos que passavam por ali, e o Mestre concede. Consumada a transferência, a manada se atira penhasco abaixo e se afoga no mar.

Reflexão e Autoconhecimento

O texto nos convida a um autoexame. Questiona o cultivo de "sepulcros" internos, onde abrigamos paixões, pensamentos e emoções infelizes. O autoconhecimento é uma recomendação constante nas mensagens de Jesus. Contudo, muitos, ocupados com as trivialidades do mundo, negligenciam essa prática. E quando a morte chega, surpreendem-se ao perceber que sua mente foi um depósito de cadáveres emocionais, alimentando longos processos de auto-obsessão.

Emmanuel, no livro "Pão Nosso", capítulo 32, reflete sobre o tema:

"Luta contra os cadáveres de qualquer natureza que se abriguem em teu mundo interior. Deixa que o divino sol da espiritualidade te penetre, pois, enquanto fores ataúde de coisas mortas, serás seguido, de perto, pelas águias da destruição."

Consciência e Evolução Espiritual

É preciso questionar quem está no comando de nossas ações, pensamentos e desejos. Estamos sendo guiados por nossa consciência divina ou pelas nossas imperfeições morais e vícios? Essas imperfeições consomem as energias sutis da alma e estabelecem conexões com mentes que vibram na mesma frequência, levando a processos obsessivos difíceis de romper.

Por outro lado, é crucial refletir que, embora o ser humano encarnado necessite da matéria para sua evolução, o culto ao material e ao impermanente cria amarras que o aprisionam. Isso o situa em uma faixa vibratória tão densa que sua condição se assemelha à do homem obsidiado de Gadareno. Nada conseguia libertá-lo dessa situação, pois todas as tentativas de removê-lo dali foram em vão; ele estava profundamente atado às suas próprias trevas. Ele só se libertou quando a legião de espíritos que o atormentava foi transferida para uma manada de porcos. A imagem da manada de porcos se atirando do penhasco simboliza as múltiplas reencarnações do espírito, necessárias para a superação das imperfeições morais.

O Desafio Contemporâneo

O Evangelho de Jesus é o maior tesouro enviado pelo Pai para despertar as almas do sono profundo da ignorância. No entanto, dois mil anos se passaram, e a humanidade ainda exibe os mesmos defeitos: orgulho, egoísmo, vaidade, impaciência e ignorância diante dos desafios da vida.

Quando procrastinamos a mudança de um comportamento reconhecidamente errôneo, a voz do homem de Gadareno ressoa em nosso íntimo: "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?"

Conclusão e Chamado à Ação

O momento para a mudança é agora, não amanhã. Jesus desafia as consciências daqueles que já são capazes de entender Seu Evangelho, mas relutam em viver de acordo com Seus ensinamentos. Eles preferem permanecer, como o homem de Gadareno, nos sepulcros de suas imperfeições, vivendo com uma legião de vícios e fraquezas morais.

Lembremos do apóstolo Paulo que nos convida a despertar.

"Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará" (Efésios 5:14)

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Amor ao Próximo

O Amor ao Próximo

O Amor ao Próximo

O Evangelho segundo Mateus, capítulo XXII, versículos 34-40, relata que, certa vez, um doutor da lei, no meio da multidão, questionou Jesus: "Mestre, qual é o maior mandamento da lei?"

Em resposta, Jesus lhe disse: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é amarás ao teu próximo como a ti mesmo." Jesus concluiu afirmando que esses dois mandamentos englobam toda a lei.

A Essência do Amor

De fato, toda a doutrina de Jesus está fundamentada no amor. No entanto, parece-nos improvável que alguém possa amar a Deus sem antes amar o seu próximo como a si mesmo.

O amor é o único caminho que possibilita a verdadeira felicidade, pois representa a maior conquista do espírito. Nenhum outro valor espiritual terá importância se o amor por si mesmo e pelo próximo não habitar em nossos corações.

O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, foi enfático a esse respeito:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor não é invejoso, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. O amor tudo supera, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba.

A Prática do Amor

Jesus nos apresentou uma fórmula muito simples sobre como amar o próximo: fazer a ele tudo aquilo que desejamos para nós mesmos. No entanto, a inferioridade moral que caracteriza os seres humanos muitas vezes influencia as relações com o próximo de maneira diferente, levando-nos a exigir muito dos outros ou a dar somente na medida em que recebemos.

O amor exemplificado por Jesus se traduz em doação total, sem a expectativa de qualquer retorno. Esta lição pode parecer dura no início, mas se torna mais fluida quando exercitada.

A Lenda da Transformação pelo Amor

Para ilustrar essa ideia, uma lenda chinesa conta a história de uma jovem chamada Lin, que se casou e foi viver com seu marido na casa da sogra. Com o tempo, Lin percebeu que não se adaptava à mãe de seu esposo. Seus temperamentos eram muito diferentes, e a jovem ficava irritada com muitos dos hábitos e costumes da sogra, criticando-os cada vez mais frequentemente.

Com o passar dos meses, as coisas foram piorando gradualmente a ponto de a convivência naquela casa se tornar insuportável. No entanto, de acordo com as antigas tradições da cultura chinesa, a nora tinha o dever de servir a sogra e obedecer a ela em tudo.

Diante dessa situação, a jovem Lin, incapaz de suportar a ideia de continuar vivendo com aquela mulher, tomou a decisão de consultar em segredo um Mestre, que era um velho amigo de seu pai. Após ouvir a jovem, o Mestre Huang pegou um ramalhete de ervas medicinais e disse a ela:

"Para se livrar de sua sogra, você não deve usar estas ervas de uma única vez, pois isso poderia causar suspeitas. Em vez disso, misture-as com a comida aos poucos, dia após dia, para que ela seja envenenada lentamente. E para ter certeza de que, quando ela morrer, ninguém suspeitará de você, deverá tratá-la sempre com amizade. Evite discussões e ajude-a a resolver seus problemas."

No entanto, é importante notar que esta história não promove ou incentiva ações prejudiciais a outras pessoas. Ela serve apenas como uma ilustração de uma situação difícil e como um exemplo de como a compaixão e a paciência podem ser alternativas mais positivas para resolver conflitos familiares.

A Transformação pelo Amor

A história de Lin continua, mostrando que ela ficou muito contente e voltou entusiasmada com o projeto de melhorar seu relacionamento com a sogra, não de assassiná-la. Durante várias semanas, Lin serviu uma refeição especial à sogra, alternando os dias. Ela sempre tinha em mente a recomendação do Mestre Huang de evitar suspeitas, controlando seu temperamento, obedecendo à sogra em tudo e tratando-a como se fosse sua própria mãe.

Com o passar de seis meses, a família inteira passou por uma transformação notável. Lin aprendeu a controlar seu temperamento e raramente se irritava. Durante esse período, ela não teve uma única discussão com a sogra, que também se tornou muito mais amável. As atitudes da sogra mudaram a ponto de ambas começarem a se tratar como mãe e filha. Esta história destaca como a compreensão, a paciência e a empatia podem transformar relacionamentos conflituosos em laços familiares mais fortes.

A Revelação Final

Nesse dia, Lin procurou o Mestre Huang para pedir ajuda:

"Mestre, por favor, ajude-me a evitar que o veneno que estou dando à minha sogra a mate. Ela se tornou uma mulher tão agradável, e agora gosto dela como se fosse minha mãe. Não quero que ela morra por causa do veneno que tenho dado."

Mestre Huang sorriu e balançou a cabeça:

"Lin, não se preocupe. Sua sogra não mudou. Quem mudou foi você. As ervas que lhe dei são vitaminas para melhorar a saúde. O veneno estava em suas atitudes, mas foi gradualmente substituído pelo amor e carinho que você começou a dedicar a ela."

Essa história ilustra como o amor, assim como todas as outras virtudes da alma, se desenvolve por meio do autoconhecimento e da prática constante. Mostra que a mudança positiva nas relações e a transformação pessoal podem ser alcançadas através do cuidado, compreensão e empatia em vez de atitudes prejudiciais.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Amor aos Inimigos

Amor aos Inimigos

Se o amor ao próximo constitui o princípio da caridade, o amor aos inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, pois a aquisição dessa virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.

No entanto, a tarefa é de difícil realização. Talvez nenhum ensinamento de Jesus seja tão difícil de ser seguido quanto o mandamento "amai os vossos inimigos". Há mesmo quem, sinceramente, julgue impossível colocá-lo em prática. Consideramos fácil amar quem nos ama, mas nunca aqueles que, aberta ou insidiosamente, procuram nos prejudicar.

Definindo o Conceito de Inimigo

Já sabemos que o próximo é todo aquele que está ou se coloca à nossa volta. Mas e o inimigo? Quem é o inimigo? No dicionário Aurélio, encontramos o seguinte conceito, dentre outros: inimigos são aqueles que nos fizeram algum mal. Pessoa nociva.

Jesus, aparentemente, pede para amarmos aqueles que nos fizeram mal. Como podemos sentir afeição por alguém cujo intento é nos esmagar ou colocar inúmeros e perigosos obstáculos em nosso caminho? Como podemos gostar de quem ameaça os nossos filhos ou assalta as nossas casas?

O Verdadeiro Significado do Amor aos Inimigos

Quando Jesus disse: "Amai os vossos inimigos", Ele não ignorava a dificuldade dessa imposição e conhecia bem o significado de cada uma das suas palavras. A responsabilidade que nos cabe, como cristãos, é descobrir o significado desse mandamento e procurar vivê-lo durante toda a nossa vida.

"O Evangelho Segundo o Espiritismo", ao tratar do tema, esclarece que há um equívoco no tocante ao sentido da palavra amar. Jesus, ao falar assim, não pretendeu que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança. Ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que ela lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela um sentimento de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude.

A Lei da Assimilação e Repulsão dos Fluidos

Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam das mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir, ao estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.

Além disso, a repulsa que naturalmente se sente na presença de um inimigo resulta mesmo de uma lei da física: a lei da assimilação e da repulsão dos fluidos. Sabemos que o pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não significa que não podemos fazer diferença alguma entre eles e os amigos.

A Prática do Amor aos Inimigos

Amar os inimigos não é ir ao encontro deles, abraçá-los e beijá-los. Isso é tarefa para os milênios futuros. Amar os nossos inimigos, se os tivermos, ainda que supostamente gratuitos, é jamais lhes guardar ódio, é perdoá-los sem pensamentos ou intenções ocultas, é nunca lhes opor obstáculo à reconciliação, desejando-lhes sempre o bem e até vibrando de contentamento, quando formos informados de um grande bem que lhes advenha; numa palavra, não guardar contra eles qualquer ressentimento.

Sempre que nos surpreendermos na emissão natural ou espontânea de um pensamento de amor, em favor de alguém que haja procedido mal para conosco, recolheremos o testemunho de um coração em processo de espiritualização.

O Apostolado do Cristo na Prática

Diante de um mal que alguém nos faça, deixar de pensar em vingança, deixar de nutrir ódio e ressentimento, trabalhar os sentimentos para vencer a dor que o mal nos causou, significa cumprir o apostolado do Cristo. Quem age assim está amando o inimigo, conforme nos ensinou Jesus.

São muitos os que dizem trazer Jesus no coração, mas isso não basta. É preciso colocar Jesus em nosso comportamento e retribuir o mal com o bem. E Ele disse ainda: "Não resistais ao mal que vos queiram fazer; se alguém vos bater numa face, apresentai-lhe a outra."

A Interpretação Correta dos Ensinamentos

É claro que este preceito não deve também ser interpretado literalmente. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da natureza, obsta que alguém estenda o pescoço ao assassino. Ao enunciar aquela máxima, Jesus não pretendeu proibir o ato de defesa, mas condenar a vingança. Quando disse para darmos a outra face àquele que nos haja batido numa, quis dizer, na verdade, que não se deve pagar o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que seja de molde a lhe abater o orgulho; que maior glória terá ao ser ofendido do que ofender, que mais felicidade terá ao suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganar, ser arruinado do que arruinar os outros.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Maria de Magdala

Maria de Magdala

Ninguém lhe conhecia a origem. Ela aparecera em Magdala, numa ocasião em que a cidade transbordava de estrangeiros, vindos das festas de Jerusalém e de caravanas carregadas de especiarias do Egito.

Magdala era uma aldeia de pescadores, na beira ocidental do lago de Genesaré, onde os palácios se erguiam, ao longo da praia, entre os leques das palmeiras e a sombra dos jardins.

Nas ruas calçadas, trafegam os mercadores, soldados de escudo e lança, publicanos, o povo. Pelas mãos circulam dracmas, sestércios, denários e papiros cambiais aos sons do hebraico, aramaico, grego e latim.

A Vida em Magdala

Ela chegara e logo adquirira fama: Maria. Logo se lhe acrescentara à denominação, o nome da cidade: de Magdala. Era uma mulher de grandes olhos nostálgicos e de longos cabelos caídos sobre as espáduas, como onda escura de ouro.

Seu palácio era procurado pelos príncipes das sinagogas, ricos negociantes, opulentos senhores de terras e de escravos, funcionários de alta categoria da administração herodiana, que lhe depositavam no regaço moedas de ouro, joias, dracmas de prata, perfumes raros, presentes exóticos.

Ela se dava ao luxo de escolher quem lhe aprouvesse e se tornou detentora dos segredos dos fariseus, aqueles que baixavam a cabeça na rua, com ares pudicos, mas que a buscavam, embuçados em mantos negros, a horas mortas.

A Tristeza Interior

Maria, de Magdala ou Madalena, contudo, não era feliz. Surda tristeza a minava, entregando-se, por vezes, dias seguidos, à profunda amargura. Espíritos infelizes a tomavam, em noites variadas, deixando-a alheada, olhos perdidos no mistério de insondáveis distâncias.

Nessas horas, as servas despediam, do átrio, todos os que a buscassem. Alguns homens, sentindo-se preteridos, dobravam as ofertas pelas horas de prazer que anteviam. Tudo em vão.

O Encontro com Jesus

"Numa noite de perfumes primaveris, instada por uma serva de confiança, dedicada e fiel, permitiu um diálogo" sobre o Rabi que andava pelas estradas da Galileia e da Judeia.

Sentiu a esperança renascer, ante a informação de que aquele Rabi convivia com os pecadores, os excluídos. Ele viera para encontrar o que estava perdido.

Numa noite que "balouçava luzes miúdas no firmamento escuro", servindo-se de uma embarcação, atravessou o lago e foi ter com Ele, em Cafarnaum.

O Banquete de Simão

Quando Ele veio a Magdala, ela tomou de um vaso de alabastro que continha o perfume do lótus. Custara-lhe o preço de um campo. Era seu presente ao Amigo.

Sabendo-O em casa de Simão, para lá se dirigiu. Como bom fariseu, Simão experimentava um gozo particular em ostentar virtudes e recepcionar amigos, apresentando, em seu palácio, personalidades que, por qualquer motivo, se tornaram famosas.

Durante meses, após um banquete, os comentários persistiam na cidade, acerca dos personagens que sua casa acolhera.

Com Jesus não fora diferente. Ele e dois de seus discípulos haviam "merecido" a distinção de um banquete na rica vivenda de Simão.

A Transformação

Quase ao seu final, ouviram-se gritos e altercações. Depois, rompendo a segurança, Madalena irrompe na sala.

Tudo se deu tão rápido! Ela se arroja aos pés do Rabi que permanece impassível, na posição em que se encontrava.

Surdos cochichos perpassam pelo ambiente. Simão se enche de cólera, ante o epílogo desastroso do seu jantar. Teme mandar expulsá-la, porque sabe da sua coragem e ousadia. Ela o conhece muito bem, bem como a tantos outros que ali se apresentam como homens de honra

Jesus serve-se do momento para ensinar o Amor, exaltando o gesto daquela mulher que ajoelhada a seus pés, rega-os com suas lágrimas, enxuga-os com seus cabelos e os unge com o excelso perfume que impregna todo o ambiente, concluindo:

"Por isso te digo que os seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas aquele a quem pouco é perdoado, pouco ama." (Lucas, VII, 47)

Ergue-se a voz de Jesus com infinita majestade:

"Mulher, a tua fé te salvou; vai-te em paz." (Lucas, VII, 48)

Nova Vida

Na manhã seguinte Magdala soube, pasmada, a notícia da conversão da pecadora. Distribuíra tudo quanto possuía e, com o estritamente necessário, iniciara nova vida.

As vozes da desonra e do despeito sussurravam que ela voltaria às noites de prazer, que enlouquecera, que sempre fora louca.

Ela se juntou aos que seguiam o Mestre. Discreta, mais de uma vez, recebeu a bofetada da desconfiança. Sabia que não confiavam em sua renovação, nem se davam conta de quantas tentações ela estava procurando sublimar.

A Crucificação e Ressurreição

Chegados os dias da denúncia de Judas, a prisão de Jesus, o julgamento arbitrário, ei-la, caminhando para o Gólgota, acompanhando-O.

Permaneceu ao pé da cruz, junto a Maria e o discípulo João. Quando a cabeça D'Ele pendeu, desejou cingir-lhe outra vez os pés e osculá-los com ternura, mas se sentiu imobilizada.

No domingo, indo ao túmulo com Joana de Cusa, Maria, a mãe de Marcos e outras mulheres, encontrou a pedra do sepulcro removida, dobrados os lençóis que lhe haviam envolvido o corpo.

Ela temeu que os judeus houvessem roubado o seu corpo. Enquanto as demais mulheres retornaram a Jerusalém a informar o ocorrido, ela permaneceu no jardim, a chorar.

A saudade feita de dor lhe estrangulava o peito, quando ouviu a voz d'Ele, chamando-a pelo nome. O Mestre estava ali, vivo, radioso como a madrugada recém-nascida.

Os Últimos Dias

Foi anunciar o fato aos discípulos, que não creram. Por que haveria Jesus de aparecer a ela, logo para ela? Somente Maria, a mãe d'Ele a abraçou e lhe pediu detalhes.

Os dias que se seguiram foram de saudades e recordações. As notícias lhe chegavam doces. O encontro com os jornaleiros dos caminhos de Emaús. A pesca incomparável. A jornada a Betânia.

Após 40 dias, no Monte das Oliveiras, junto aos quinhentos discípulos, O viu ascender lentamente, as mãos voltadas para eles, como num gesto de afago, as vestes luminosas, desaparecendo ante seus olhos.

O Legado Final

Desejou então seguir com os novos disseminadores da Boa Nova. Temeram que sua presença pudesse ser perniciosa, semeando desconfiança, naqueles dias incipientes das luzes do novo Reino.

Ela experimentou soledade e abandono e, para arrefecer a imensa saudade do Rabi passou a andar pelas longas praias que tanto O recordavam.

Numa dessas tardes, encontrou leprosos que vinham de muito longe buscar o socorro da cura.

Ela os abraçou, dizendo-lhes que Jesus já partira. Deteve-se por horas a falar, saudosa, do que aprendera com quem era o Caminho, a Verdade e a Vida.

Depois, seguiu com eles ao vale dos imundos.

Sentindo que a seiva da vida diminuía em suas veias, desejou rever a doce Mãe de Jesus, aquela que tanto a afagara em suas amarguras, e foi a Éfeso, morrendo às portas da cidade, sendo brandamente recolhida nos braços do Amor não Amado.