terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A Parábola do Bom Samaritano

A Parábola do Bom Samaritano

Certa vez, ao ser interrogado por um doutor da lei sobre quem seria seu próximo, Jesus poderia, simplesmente, ter explicado que o próximo é todo aquele que se aproxima de nós. No entanto, Ele preferiu contar uma parábola rica em ensinamentos, de modo que, ao nos recordarmos dela, todo o seu conteúdo nos venha à mente, e jamais nos esqueçamos dessa referência valiosa.

A Narrativa de Jesus

"Descia um homem de Jerusalém para Jericó quando caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. Ocasionalmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e vendo-o, passou de largo. E, de igual modo, também um levita, chegando àquele lugar, vendo-o, passou de largo. Mas, um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele, e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem, e cuidou dele. E, partindo ao outro dia, tirou dois dinheiros, e deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu te pagarei quando voltar".

O Simbolismo das Cidades

A parábola se inicia fazendo referência ao movimento de um homem: ele descia de Jerusalém a Jericó. É interessante a utilização do verbo "descer", quando o mais natural seria dizer que o homem ia ou viajava de Jerusalém a Jericó.

Todavia, Jerusalém é uma cidade alta na Judeia, enquanto Jericó está situada mais abaixo. Geograficamente, qualquer pessoa que vai de Jerusalém a Jericó estará, de fato, descendo.

Para os judeus, a cidade de Jerusalém possuía uma simbologia especial, sendo considerada sagrada e santa. Era lá que estava localizado o maior templo judaico, o Templo de Salomão, que foi destruído várias vezes ao longo da história. Ainda hoje, os judeus lamentam a queda do templo junto à única parede que restou dele, conhecida mundialmente como o Muro das Lamentações.

Jerusalém era, portanto, a cidade mais sagrada de toda a Judeia, correspondendo, nas devidas proporções, ao que o Vaticano representa para os católicos nos dias de hoje. Foi por isso que Jesus mencionou que o homem descia de Jerusalém; Ele poderia ter dito que o homem descia de qualquer outra cidade alta da Judeia, mas escolheu referenciar a mais relevante, a capital espiritual do Judaísmo.

A Descida Vibratória

Por outro lado, Jericó era a cidade mais próspera da Judeia, sendo o centro dos negócios, dos cambistas e dos grandes mercados, onde ocorriam trocas de dinheiro e onde residiam as grandes personalidades do mundo dos negócios. Seria, numa comparação com os dias de hoje, como a cidade de São Paulo, Tóquio, Nova Iorque, enfim, uma dessas cidades onde o dinheiro circula com facilidade.

Por isso, quando Jesus cita Jerusalém, Ele se refere a uma cidade espiritualizada e, ao mencionar Jericó, Ele evoca uma cidade ligada às coisas materiais, ao dinheiro, ao poder, sem vínculo com as questões espirituais.

Neste contexto, destaca-se a referência à "descida". É a descida vibratória a que Jesus se referia, e não meramente geográfica. Qualquer um que deixa Jerusalém em busca de Jericó está, espiritualmente, baixando sua vibração; pois qualquer pessoa que abandona os interesses espirituais para buscar os prazeres materiais realiza um movimento de descida.

E, nessa descida vibratória, todo e qualquer caminhante sofre assaltos da perturbação, fica tombado, sob obsessão, necessitando do auxílio alheio, do socorro de terceiros. Isso porque, na maioria das vezes, a criatura caída, tombada, assaltada, obcecada pelo caminho que escolheu, não consegue, por si só, sair do estado em que se encontra.

Os Personagens e seus Significados

Pontuando sua narrativa para nos deixar profundos ensinamentos, Jesus ressalta que o homem tombado, assaltado, caído à beira da estrada, precisa de ajuda. Então, Ele elege, coincidentemente, o sacerdote para ser o primeiro a encontrar o necessitado.

Para o judaísmo, o sacerdote era um dos indivíduos que viviam a intimidade dos conhecimentos da maior sinagoga. Ele detinha o conhecimento das coisas espirituais, embora esses conhecimentos ainda não tivessem despertado sua sensibilidade, como frequentemente acontece.

Na questão 780, do Livro dos Espíritos, os imortais nos ensinam que o progresso moral nem sempre acompanha o progresso intelectual, embora decorra deste. Ao adquirir conhecimentos, é importante aplicá-los e vivenciá-los. Contudo, há muitos que possuem o conhecimento mas não o vivem. Por isso, o sacerdote, que sabia tantas coisas de Deus, viu o homem caído na estrada e não se sensibilizou a ponto de socorrê-lo.

Logo depois, prossegue Jesus, vinha um levita. Mas o que era um levita? Era também um sacerdote do templo, de um grau mais avançado que o primeiro. O levita era o sacerdote que reunia um profundo conhecimento da legislação judaica.

Era um homem muito culto e respeitado na sociedade judaica. No entanto, apesar de sua cultura, amparar e socorrer um caído no caminho não era para ele, evidenciando assim que todo o conhecimento que acumulava não lhe tocava o coração.

O Significado do Samaritano

Jesus, que jamais pronunciou uma palavra que não tivesse um profundo sentido, se vale de uma situação histórica do povo judeu para contar que, depois dos dois sacerdotes, vinha um samaritano. O Mestre poderia ter dito apenas que, depois dos sacerdotes, cheios de conhecimento e sem tempo para socorrer o caído no caminho, vinha um homem. Poderia ter dito que era um homem desconhecido, mas Ele fez questão de acentuar que o homem caridoso foi um Samaritano.

É que havia uma rixa muito grande e secular entre judeus e samaritanos. Ambos procediam do mesmo tronco, da mesma raça, mas entre esses dois povos havia um desentendimento quanto à forma de adorar a Deus. Os judeus, que adoravam a Deus no Templo de Salomão, na maior sinagoga, nutriam um grande desprezo pelos samaritanos, considerados pessoas vulgares, da pior espécie, porque os samaritanos adoravam a Deus no Monte Gerizim e não no templo maior.

Por isso, Jesus utilizou um samaritano para ser o personagem caridoso, com a missão de socorrer o próximo. Ele poderia ter se referido a um homem de qualquer outra cidade, mas fez questão de mencionar alguém de Samaria. Jesus quis mostrar que aquele homem, contra quem os judeus tinham todas as reservas, possuía um coração capaz de servir.

O Verdadeiro Valor

Com isso, Jesus nos ensinou que o verdadeiro valor de uma pessoa não está nas posses materiais, nas roupas que veste ou nos títulos que ostenta, mas na essência que carrega em seu interior. Na parábola, os sacerdotes eram figuras de grande prestígio e respeito na sociedade da época, reverenciados pelo povo e cercados de honrarias. Contudo, Jesus os retrata como insensíveis, enquanto exalta um indivíduo desprezado socialmente, o samaritano, como exemplo de compaixão e serviço ao próximo.

Infelizmente, a humanidade ainda caminha por trilhas semelhantes. Até hoje, tendemos a valorizar as aparências: atribuímos maior mérito às pessoas de vestimenta elegante, posição social elevada e títulos acadêmicos ou profissionais, em detrimento daquelas com aparência simples e condição humilde.

Quantas vezes encontramos pessoas necessitadas de ajuda e desviamos o olhar, fingindo não as ver, apenas porque oferecer auxílio pode nos dar trabalho? Quantas vezes, diante de alguém em sofrimento material ou psicológico, seguimos em frente como fizeram os sacerdotes da parábola, justificando-nos com a pressa ou os compromissos? Apesar dos ensinamentos da doutrina espírita que adquirimos, muitas vezes esses conhecimentos permanecem superficiais. Quando nos deparamos com o necessitado, somos rápidos em alegar falta de tempo ou priorizar nossos próprios afazeres, tal como o sacerdote e o levita.

O samaritano, por outro lado, ao encontrar o homem ferido e caído, interrompeu sua jornada. Desceu de sua montaria, tratou das feridas do necessitado e não parou por aí. Ele poderia ter deixado o homem após os primeiros socorros, satisfeito por ter feito "sua parte". Mas não o fez. Sua compaixão foi além: ele o amparou, cuidou e garantiu sua recuperação.

Quantas vezes limitamos nossa ajuda ao mínimo necessário? Damos um prato de comida a quem tem fome, oferecemos uma palavra de consolo a quem sofre, ou cobrimos alguém com frio. No entanto, como o samaritano nos ensina, cumprir a "nossa parte" não deve ser apenas um gesto pontual, mas um chamado à verdadeira empatia e entrega, que transforma tanto quem dá quanto quem recebe.

A Lição da Caridade

Com esta parábola, Jesus nos ensina que nossas ações diante do próximo devem ser movidas pela verdadeira caridade, que não se limite a mera assistência. E a caridade requer acompanhamento. Por isso, o Mestre prossegue a narrativa, dizendo que o samaritano, além de cuidar das feridas do homem, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele.

Não basta apenas atender ao necessitado; é preciso cuidar dele, fazer com que ele sinta que pensamos nele, que nos preocupamos com ele e que desejamos intensamente o seu bem. Esse é o verdadeiro sentido da caridade, conforme Jesus nos ensinou.

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