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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

PARÁBOLA DA SEMENTE QUE CRESCE EM SEGREDO

 

O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra. Quer ele esteja acordado, quer ele esteja dormindo, ela brota e cresce, sem ele saber como isso acontece. É a própria terra que dá o seu fruto: primeiro aparece a planta, depois a espiga, e, mais tarde, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas ficam maduras, o homem começa a cortá-las com a foice, pois chegou a hora da colheita. (Marcos 4::26–29)

Nesta parábola, Jesus compara o Reino de Deus a uma semente que cresce em segredo. Uma vez semeada, ela se desenvolve independentemente de o semeador estar acordado ou dormindoNo Reino de Deus, que abrange todo o universo infinito, sementes são lançadas à terra pelo cultivador divino e se desenvolvem sem qualquer chance de fracassar. No mundo material, contudo, nem todas as sementes lançadas pelo agricultor germinarão.

Por meio desta parábola, Jesus elucida uma lei divina; a lei da evolução.  Esta determina que, uma vez criado o espírito, simples e ignorante, está destinado a perfeição, sem qualquer chance de retrocesso.

Esta verdade, enfatizada por Jesus, foi corroborada pelos espíritos responsáveis pela codificação espírita. Conforme evidenciado na resposta à pergunta 118 do 'Livro dos Espíritos', eles afirmam que, uma vez criado, o espírito simples e ignorante tem sua trajetória definida sempre em direção ao progresso e elevação, sem qualquer possibilidade de regresso.

118 - Os Espíritos podem se degenerar?

Não; à medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito acaba uma prova, fica com o conhecimento que adquiriu e não o esquece mais. Pode ficar estacionário, mas retroceder, não retrocede.

Por essa razão, a semente cresce e se desenvolve além da compreensão do semeador. Isso ocorre porque, uma vez criado, o espírito nunca morre; ao invés disso, ele é lançado às experiências existenciais[1] e continuará a evoluir, mesmo que não tenha consciência de sua própria trajetória evolutiva sob a tutela de Deus.

A figura do homem na parábola simboliza o espírito em seu trajeto evolutivo. A semente lançada ao solo é uma metáfora para o potencial divino intrínseco a cada ser. Assim como a minúscula semente contém em seu interior o potencial para se tornar uma árvore ou planta, o espírito carrega consigo as potencialidades divinas que gradualmente se revelarão à medida que ele evolui.

Aprofundando-se nos ensinamentos transmitidos pela parábola, percebe-se que o espírito, criado à imagem e semelhança de Deus, caminhará em direção a Ele, cumprindo o propósito para o qual foi criado – orbitar ao redor de Deus. Isso ocorre independentemente de seu estado de consciência, seja ele desperto ou adormecido, fenômeno que se manifesta tanto de dia quanto de noite.

Na parábola, o verbo 'dormir' carrega um significado espiritual, não se referindo a um estado fisiológico, mas a um estado de sono psíquico. Da mesma forma, 'desperto' alude a um estado de consciência alerta.

Esses estados de consciência são mencionados diversas vezes no Evangelho de Jesus. Um exemplo é a passagem em Mateus 8:22, que diz "deixe os mortos enterrar seus mortos". Essa frase só pode ser compreendida considerando-se que Jesus se referia a estados psíquicos, e não fisiológicos."

No livro 'O Ser Consciente', o espírito Joana de Angelis detalha minuciosamente esses estados de consciência aos quais Jesus se referia.

Deve-se considerar que muitas pessoas encarnadas se encontram em um profundo estado de sono espiritual. Estas são aquelas que nascem e reencarnam repetidamente com a consciência insensível aos valores espirituais. Por não compreenderem que as vivências são lições valiosas para seu amadurecimento espiritual, enfrentam suas experiências evolutivas com grande sofrimento. Assim, sem essa compreensão, sofrem, adoecem e se tornam infelizes.

Assim, esse ser, em estado de consciência adormecida, não compreende por que adoece e se revolta contra Deus. Não entende por que a vida colocou em seu lar pessoas desafiadoras e, muitas vezes, acaba por abandoná-las. Não consegue discernir por que seus sonhos não se concretizam, tampouco por que é vítima de violência ou foi abandonado por quem ama, entre outras adversidades.

Sem entender as experiências da vida, o ser humano passa por inúmeras existências físicas, acumulando ressentimentos, desafios, sofrimento e dor. Contudo, mesmo assim, evolui, muitas vezes de maneira inconsciente, pois mesmo em um estado de consciência adormecida, segue avançando. As experiências árduas e dolorosas da vida possuem justamente esse propósito: romper a casca que protege a essência divina presente em cada ser.

Neste estado, o trajeto evolutivo pode se estender por milênios. Contudo, esse percurso pode ser abreviado assim que o ser desperta para sua natureza espiritual e toma consciência de sua jornada em direção ao Pai.

A pergunta e resposta 169, do Livro dos Espíritos, é esclarecedora neste sentido:

169 - O número de encarnações é o mesmo para todos os Espíritos?

R. – Não; aquele que caminha rápido se poupa das provas.

A questão que nos surge é como caminhar mais rápido?

A resposta a esta pergunta é a grande mensagem que Jesus nos deixa na parábola.

A semente realiza parte de seu desenvolvimento no interior da terra, rompe a casca que a envolve na escuridão do solo, e, como diz Emmanuel, em Fonte Viva, cap. 171,  para isso sofre a ação dos detritos da terra, afronta a lama, o frio, a resistência do chão, mas somente quando rompe todos os obstáculos passa a se orientar para cima, na direção do Sol. E a partir daí nascem-lhe as folhagens e depois os frutos.

A imagem do ser em um estado de consciência adormecida é análoga ao desenvolvimento da semente sob a terra. Na parábola, isso é representado pela semente que cresce durante a noite, enquanto o homem está adormecido.

Por outro lado, a imagem da semente que cresce durante o dia, enquanto o homem está acordado, faz uma analogia à segunda etapa do desenvolvimento da semente. Nesta fase, ela se liberta da casca protetora, rompe o solo e se volta em direção ao Sol. Isso representa o estado de consciência desperta.

Caminhar desperto significa orientar-se pelo grandioso Sol que ilumina a humanidade: Jesus. É compreender a finalidade das adversidades, como a doença, aceitando-as com gratidão e buscando aprender a partir da experiência. Significa amar e compreender aqueles que caminham ao nosso lado, seja no lar, no trabalho ou em qualquer ambiente de aprendizado e serviço. Devemos reconhecer que, em um planeta de provas e expiações, o mal ainda prevalece. Por isso, a violência pode surgir como uma visita inesperada, servindo como uma lição valiosa ou uma oportunidade de exercitar virtudes, conforme exemplificado por Jesus.

O ser que desperta reencarna e valoriza todas as experiências que a vida oferece. Ao enfrentar adversidades, busca extrair aprendizados, sem desfalecer diante das provas mais árduas. Ele tem a plena consciência de sua jornada em direção a Deus. Com tal entendimento, sua trajetória evolutiva torna-se mais ágil e plenamente mais feliz.

Para concluir a parábola, Jesus enfatiza que é a terra que produz seus frutos: primeiro surge a folha, em seguida a espiga e, finalmente, o grão que preenche essa espiga. Quando o fruto atinge sua maturidade, chega o momento da colheita.

É este o destino da humanidade: evoluir gradualmente até atingir a essência do Cristo, a máxima expressão do amor. A capacidade de doação desinteressada é a mais nobre manifestação desse amor. Ao vivenciar genuinamente o amor por si mesmo, pelo próximo e por Deus, o ser torna-se semelhante à espiga repleta de grãos, pronta para ser colhida e saciar a fome alheia.

Somente ao elevar-se a Deus, através do amor incondicional por todos, é que o ser humano se torna instrumento de Jesus, o Pão da Vida. Assim, ele passa não apenas a saciar sua própria fome espiritual, mas também a auxiliar o próximo a fazer o mesmo. Esse, afinal, é o objetivo maior da vida: produzir frutos em abundância.

O Reino de Deus é semelhante a um homem que lança a semente sobre a terra.  Quer ele esteja acordado, quer ele esteja dormindo, ela brota e cresce, sem ele saber como isso acontece. É a própria terra que dá o seu fruto: primeiro aparece a planta, depois a espiga, e, mais tarde, os grãos que enchem a espiga. Quando as espigas ficam maduras, o homem começa a cortá-las com a foice, pois chegou a hora da colheita.


Nesta parábola, Jesus compara o Reino de Deus a uma semente que cresce em segredo. Uma vez semeada, ela se desenvolve independentemente de o semeador estar acordado ou dormindo.

No Reino de Deus, que abrange todo o universo infinito, sementes são lançadas à terra pelo cultivador divino e se desenvolvem sem qualquer chance de fracassar. No mundo material, contudo, nem todas as sementes lançadas pelo agricultor germinarão.

Por meio desta parábola, Jesus elucida uma lei divina; a lei da evolução.  Esta determina que, uma vez criado o espírito, simples e ignorante, está destinado a perfeição, sem qualquer chance de retrocesso.

Esta verdade, enfatizada por Jesus, foi corroborada pelos espíritos responsáveis pela codificação espírita. Conforme evidenciado na resposta à pergunta 118 do 'Livro dos Espíritos', eles afirmam que, uma vez criado, o espírito simples e ignorante tem sua trajetória definida sempre em direção ao progresso e elevação, sem qualquer possibilidade de regresso.

118 - Os Espíritos podem se degenerar?

Não; à medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito acaba uma prova, fica com o conhecimento que adquiriu e não o esquece mais. Pode ficar estacionário, mas retroceder, não retrocede.

Por essa razão, a semente cresce e se desenvolve além da compreensão do semeador. Isso ocorre porque, uma vez criado, o espírito nunca morre; ao invés disso, ele é lançado às experiências existenciais[1] e continuará a evoluir, mesmo que não tenha consciência de sua própria trajetória evolutiva sob a tutela de Deus.

A figura do homem na parábola simboliza o espírito em seu trajeto evolutivo. A semente lançada ao solo é uma metáfora para o potencial divino intrínseco a cada ser. Assim como a minúscula semente contém em seu interior o potencial para se tornar uma árvore ou planta, o espírito carrega consigo as potencialidades divinas que gradualmente se revelarão à medida que ele evolui.

Aprofundando-se nos ensinamentos transmitidos pela parábola, percebe-se que o espírito, criado à imagem e semelhança de Deus, caminhará em direção a Ele, cumprindo o propósito para o qual foi criado – orbitar ao redor de Deus. Isso ocorre independentemente de seu estado de consciência, seja ele desperto ou adormecido, fenômeno que se manifesta tanto de dia quanto de noite.

Na parábola, o verbo 'dormir' carrega um significado espiritual, não se referindo a um estado fisiológico, mas a um estado de sono psíquico. Da mesma forma, 'desperto' alude a um estado de consciência alerta.

Esses estados de consciência são mencionados diversas vezes no Evangelho de Jesus. Um exemplo é a passagem em Mateus 8:22, que diz "deixe os mortos enterrar seus mortos". Essa frase só pode ser compreendida considerando-se que Jesus se referia a estados psíquicos, e não fisiológicos."

No livro 'O Ser Consciente', o espírito Joana de Angelis detalha minuciosamente esses estados de consciência aos quais Jesus se referia.

Deve-se considerar que muitas pessoas encarnadas se encontram em um profundo estado de sono espiritual. Estas são aquelas que nascem e reencarnam repetidamente com a consciência insensível aos valores espirituais. Por não compreenderem que as vivências são lições valiosas para seu amadurecimento espiritual, enfrentam suas experiências evolutivas com grande sofrimento. Assim, sem essa compreensão, sofrem, adoecem e se tornam infelizes.

Assim, esse ser, em estado de consciência adormecida, não compreende por que adoece e se revolta contra Deus. Não entende por que a vida colocou em seu lar pessoas desafiadoras e, muitas vezes, acaba por abandoná-las. Não consegue discernir por que seus sonhos não se concretizam, tampouco por que é vítima de violência ou foi abandonado por quem ama, entre outras adversidades.

Sem entender as experiências da vida, o ser humano passa por inúmeras existências físicas, acumulando ressentimentos, desafios, sofrimento e dor. Contudo, mesmo assim, evolui, muitas vezes de maneira inconsciente, pois mesmo em um estado de consciência adormecida, segue avançando. As experiências árduas e dolorosas da vida possuem justamente esse propósito: romper a casca que protege a essência divina presente em cada ser.

Neste estado, o trajeto evolutivo pode se estender por milênios. Contudo, esse percurso pode ser abreviado assim que o ser desperta para sua natureza espiritual e toma consciência de sua jornada em direção ao Pai.

A pergunta e resposta 169, do Livro dos Espíritos, é esclarecedora neste sentido:

169 - O número de encarnações é o mesmo para todos os Espíritos?

R. – Não; aquele que caminha rápido se poupa das provas.

A questão que nos surge é como caminhar mais rápido?

A resposta a esta pergunta é a grande mensagem que Jesus nos deixa na parábola.

A semente realiza parte de seu desenvolvimento no interior da terra, rompe a casca que a envolve na escuridão do solo, e, como diz Emmanuel, em Fonte Viva, cap. 171,  para isso sofre a ação dos detritos da terra, afronta a lama, o frio, a resistência do chão, mas somente quando rompe todos os obstáculos passa a se orientar para cima, na direção do Sol. E a partir daí nascem-lhe as folhagens e depois os frutos.

A imagem do ser em um estado de consciência adormecida é análoga ao desenvolvimento da semente sob a terra. Na parábola, isso é representado pela semente que cresce durante a noite, enquanto o homem está adormecido.

Por outro lado, a imagem da semente que cresce durante o dia, enquanto o homem está acordado, faz uma analogia à segunda etapa do desenvolvimento da semente. Nesta fase, ela se liberta da casca protetora, rompe o solo e se volta em direção ao Sol. Isso representa o estado de consciência desperta.

Caminhar desperto significa orientar-se pelo grandioso Sol que ilumina a humanidade: Jesus. É compreender a finalidade das adversidades, como a doença, aceitando-as com gratidão e buscando aprender a partir da experiência. Significa amar e compreender aqueles que caminham ao nosso lado, seja no lar, no trabalho ou em qualquer ambiente de aprendizado e serviço. Devemos reconhecer que, em um planeta de provas e expiações, o mal ainda prevalece. Por isso, a violência pode surgir como uma visita inesperada, servindo como uma lição valiosa ou uma oportunidade de exercitar virtudes, conforme exemplificado por Jesus.

O ser que desperta reencarna e valoriza todas as experiências que a vida oferece. Ao enfrentar adversidades, busca extrair aprendizados, sem desfalecer diante das provas mais árduas. Ele tem a plena consciência de sua jornada em direção a Deus. Com tal entendimento, sua trajetória evolutiva torna-se mais ágil e plenamente mais feliz.

Para concluir a parábola, Jesus enfatiza que é a terra que produz seus frutos: primeiro surge a folha, em seguida a espiga e, finalmente, o grão que preenche essa espiga. Quando o fruto atinge sua maturidade, chega o momento da colheita.

É este o destino da humanidade: evoluir gradualmente até atingir a essência do Cristo, a máxima expressão do amor. A capacidade de doação desinteressada é a mais nobre manifestação desse amor. Ao vivenciar genuinamente o amor por si mesmo, pelo próximo e por Deus, o ser torna-se semelhante à espiga repleta de grãos, pronta para ser colhida e saciar a fome alheia.

Somente ao elevar-se a Deus, através do amor incondicional por todos, é que o ser humano se torna instrumento de Jesus, o Pão da Vida. Assim, ele passa não apenas a saciar sua própria fome espiritual, mas também a auxiliar o próximo a fazer o mesmo. Esse, afinal, é o objetivo maior da vida: produzir frutos em abundância.


[1] Ver questão 132 e 167 do Livro dos Espíritos



quinta-feira, 18 de outubro de 2018

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO


A parábola do rico e Lázaro, registrada no Evangelho de Lucas, capítulo 16, versos 19 a 31, ressalta a possibilidade da comunicação entre os mortos e os vivos, as diferenças vibratórias entre os espíritos e a lei de causa e efeito. O cerne dessa parábola, entretanto, é a indiferença moral, que se revela como uma característica predominante nos habitantes do planeta Terra, dificultando o seu progresso em direção a Deus.
Emmanuel, no livro "O Consolador", na questão 180, afirma que a indiferença é a cristalização do sentimento. O benfeitor ressalta que a indiferença é um dos piores estados psíquicos da alma, uma vez que anula as possibilidades de progresso do espírito, bloqueando os germes de sua perfeição
No capítulo IX, item 8, do "Evangelho Segundo o Espiritismo," o espírito comunicante, coincidentemente chamado Lázaro, registra que a civilização planetária atualmente apresenta a atividade intelectual como virtude,  enquanto mantém a indiferença moral como vício.
A humanidade, sem dúvida, tem progredido de maneira admirável no campo do conhecimento, na pesquisa científica e na tecnologia. Entretanto, juntamente com essas conquistas tecnológicas surpreendentes, a indiferença moral em relação às necessidades dos outros também é impressionante.
A indiferença moral pode ser observada nas ruas tanto dos pequenos quanto dos grandes centros urbanos, acompanhando em silêncio a ativa atividade intelectual humana. Entre prédios, veículos, construções e equipamentos públicos, permanecem invisíveis os necessitados que estão presentes por toda parte: nos semáforos, nas calçadas, nas portas de bancos, lojas e restaurantes, estendendo suas mãos em busca de ajuda, enquanto aqueles que passam por eles seguem indiferentes.
A indiferença moral também se manifesta nos comportamentos humanos que optam por não cumprimentar um conhecido, agindo como se não o vissem. Ela está presente nos comportamentos que negam a um pai, irmão, filho, amigo ou até a um desconhecido qualquer forma de auxílio, seja material ou intelectual.
Foi por isso que Jesus contou esta parábola:
“havia um homem rico que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele. E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico e foi sepultado. No Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão e Lázaro, no seu seio. E, clamando, disse: Abraão, meu pai, tem misericórdia de mim e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, somente males; e, agora, este é consolado, e tu, atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá, passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, Abraão, meu pai; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos Profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

As parábolas de Jesus são convites à reflexão, orientados para o processo de transformação moral. Diante deste texto, é relevante questionarmo-nos se nos identificamos com algum dos personagens ou com os conteúdos e símbolos apresentados.
O personagem rico na parábola representa a indiferença diante das necessidades alheias. Apesar de ser retratado como alguém rico em recursos materiais, é crucial considerar todas as demais riquezas que Deus concede ao espírito para sua jornada evolutiva bem-sucedida. Todas as pessoas possuem talentos e possibilidades diversificadas, muitas vezes não compartilhadas com os outros devido à indiferença e ao egoísmo que as aprisionam
Por outro lado, os "Lázaros" das necessidades podem ser qualquer pessoa em dificuldade ou necessidade, buscando auxílio dos outros, mas encontrando apenas indiferença e frieza por parte daqueles a quem pedem ajuda. São indivíduos que Deus espera serem socorridos por meio do auxílio de outros, mas que não encontram nos corações daqueles que possuem a capacidade de ajudar a boa vontade necessária para se tornarem instrumentos de apoio aos necessitados.
O grande desafio apresentado pela parábola é a capacidade de reconhecer, no íntimo de cada ser, a presença da indiferença, buscando dissolvê-la. Essa ação permitirá libertar-se das correntes do egoísmo, um vício de caráter que colocou o rico da parábola em um estado doloroso de consciência, que se assemelha ao inferno. Este é o destino de todos aqueles que conduzem suas vidas na direção oposta à lei do Amor.
O rico, da parábola, desperta no mundo espiritual em uma situação dolorosa, resultado direto do egoísmo que guiou o uso dos talentos que Deus lhe concedeu. Ele percebe que Lázaro está em uma condição melhor do que a sua e é informado de que isso ocorre porque Lázaro enfrentou as provações de sua vida miserável com resignação. Em meio à profunda amargura, ele suplica por ajuda a Abraão, que na parábola representa um benfeitor espiritual.
Contudo, Abraão não pode socorrê-lo naquele momento, sendo-lhe impossível. Um abismo existe entre aqueles que se atormentam com a culpa em suas consciências e aqueles que aprenderam a amar e a servir.
Deus cuida de todos os Seus filhos, atendendo às suas necessidades verdadeiras, não aos seus desejos superficiais. No caso do rico, sua impossibilidade de receber socorro naquele momento decorre dos desígnios da lógica divina, que muitas vezes são desconhecidos e inacessíveis aos seres humanos. Em algumas ocasiões, a maior dor e o mais intenso sofrimento na vida de uma pessoa podem ser os instrumentos que a conduzirão a uma conexão mais profunda com Deus.
O apóstolo Paulo, na segunda carta aos Coríntios, capítulo 12, versos 7 e 8, faz referência a um "espinho na carne" que o atormentava constantemente. Ele havia suplicado a Deus para ser libertado desse sofrimento. Contudo, a resposta divina foi negar seu pedido, pois esse "espinho" era aquilo que o mantinha espiritualmente vigilante e atento.
Isso ilustra que nem sempre a remoção imediata do sofrimento é o melhor caminho, pois às vezes é através dessas dificuldades que somos impulsionados a crescer espiritualmente e a desenvolver uma maior proximidade com Deus.
Léon Denis, no livro "O Problema do Ser, do Destino e da Dor," destaca a importância da dor no processo de renovação moral. Ele descreve a dor como uma ferramenta divina capaz de purificar o coração humano, eliminando o mal que a consciência não reconheceu.
O egoísmo do rico na parábola se manifesta mesmo quando ele está enfrentando o sofrimento. Ele está disposto a rogar por bênçãos divinas somente para seus entes queridos, demonstrando esquecimento em relação às demais criaturas humanas, que também são filhas do mesmo Pai. Ele pede a Lázaro, em espírito, que retorne para alertar seus irmãos sobre as verdades da vida após a morte. No entanto, sua preocupação está apenas com sua família, ignorando as necessidades de todas as outras criaturas. O egoísmo ainda prevalece em seus impulsos, e ele não percebe que é exatamente esse egoísmo que é a raiz de toda a dor e sofrimento que está vivenciando.
Abraão respondeu, afirmando que os familiares do rico já tinham à disposição Moisés e os Profetas, e que eles deveriam estudar esses ensinamentos, pois nada do que estava ocorrendo era novo; todas essas verdades já haviam sido transmitidas pelos missionários que vieram antes de Jesus.
O rico possuía as revelações divinas deixadas pelos Profetas, mas negligenciou a oportunidade de se aprofundar nessas sábias palavras e permitir que elas guiassem sua vida.
A humanidade tem no Evangelho de Jesus um guia para a sua evolução espiritual, e na Doutrina Espírita um manual para percorrer esse caminho. Conhecer, refletir e aplicar os ensinamentos que Jesus nos deixou é uma escolha individual que compete a cada um fazer.

terça-feira, 3 de julho de 2018

OS TRABALHADORES DA VINHA




Pois o Reino dos Céus é semelhante ao homem, pai de família, que saiu de ao raiar do dia a assalariar trabalhadores para a sua vinha. Depois de ajustar com os trabalhadores um denário por dia, os enviou para sua vinha. E tendo saído por volta da terceira hora, viu outros, que estavam de pé na praça, desocupados, e disse a esses: Ide vos também para a vinha, e o que for justo vos darei. E, eles foram. Novamente, saindo por volta da sexta e nona hora, procedeu da mesma forma. Tendo saído por volta da undécima hora, encontrou outros, que estavam de pé, e diz para eles: por que ficastes de pé, aqui, o dia inteiro, desocupados? Eles lhe dizem: Porque ninguém nos assalariou. Ele lhe diz: Ide vos também para a vinha. Chegado ao fim da tarde, o senhor da vinha diz ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando dos últimos até os primeiros. Vindo os da undécima hora, receberam um denário, cada um. Vindo os primeiros, pensaram que receberiam mais; todavia, também eles receberam um denário, cada um. Ao receberem, murmuraram contra o senhor da casa, dizendo: Estes últimos fizeram só uma hora, e tu os fizestes iguais a nós, que carregamos o peso do dia e o calor ardente. Em resposta, disse a um deles: Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não ajustaste comigo um denário? Toma o teu e vai-te; quero dar a este último tanto quanto a ti. Não me é lícito fazer o que quero com o que é meu? Ou o teu olho é mau, por que eu sou bom? Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serões últimos. Mateus 20:1-16.


Nas parábolas de Jesus, o Reino dos Céus frequentemente é equiparado a um estado íntimo de consciência. Esta condição de plenitude espiritual, no contexto da parábola, se assemelha ao trabalho: enquanto no plano material ele impulsiona o progresso do mundo, no âmbito interno, catalisa o desenvolvimento espiritual. A vinha, ao representar o âmbito de atuação do espírito imortal, simboliza tanto o mundo tangível quanto o universo íntimo de cada ser.

Em todos os planos da vida, Deus nos convida ao trabalho. No mundo, somos encorajados a contribuir para o progresso material; internamente, somos convocados a laborar no terreno de nossos corações, cultivando virtudes que nos elevam a níveis superiores. 

Na parábola, o trabalho assume um matiz espiritual, refletindo como Jesus fala aos nossos corações. O Pai de família, que busca trabalhadores em diferentes momentos do dia, ilustra que Deus, incessantemente, convoca seus filhos ao árduo trabalho de transformação moral.

No entanto, há aqueles que acolhem o chamado divino mais cedo, enquanto outros o fazem mais tarde. Porém, todos, inevitavelmente, despertarão. E a recompensa para todos os trabalhadores será a mesma, independentemente de quando começaram sua jornada de regeneração. 

O versículo 08 destaca o momento do pagamento aos trabalhadores: a noite. Como a noite simboliza o término do dia, a parábola sugere o final de um ciclo ou etapa evolutiva.

No capítulo 20 do 'Evangelho Segundo o Espiritismo' (ESE), a parábola é analisada por quatro espíritos, incluindo o Espírito da Verdade. Eles afirmam que ela antecipa momentos decisivos que a humanidade enfrentará, visto que está nos planos divinos a transição da Terra para a categoria de mundo de regeneração. Isso significará que nosso planeta deixará de ser um refúgio para espíritos que precisam de um mundo de provas e expiações para evoluírem 

Os espíritos destacam que novos tempos se aproximam para a humanidade. Estamos, assim, nas últimas horas de um ciclo, aguardando o alvorecer de uma nova era, e é por isso que Jesus enfatiza tanto a importância do trabalho de transformação moral. 

No "Evangelho Segundo o Espiritismo" (ESE), na página 221, ao discorrer sobre esta parábola, o espírito Erasto exorta: "Arme-se de decisão e coragem, ó vossa legião! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra, preparada: Arai."

A 'terra preparada', moldada pelas lutas e experiências de inúmeras encarnações passadas, simboliza o coração. O 'arado', por sua vez, representa a vontade. Portanto, com a vontade determinada, podemos trabalhar nosso interior, removendo imperfeições que obstruem o desenvolvimento de virtudes. Estas virtudes nos preparam para herdar a Terra.

Na parábola, Jesus sinaliza a iminência dos tempos delineados por Deus. A Terra está predestinada aos mansos e pacíficos, conforme proclamou no Sermão do Monte. Este é, de fato, o ponto ápice da parábola, ressaltando a imperativa necessidade de reflexão sobre esse ensinamento. 

Os primeiros trabalhadores, apesar de sua prolongada dedicação na vinha, ainda não haviam cultivado a mansidão e a paz interior. Embora tenham atendido ao chamado do Senhor da Vinha e se dedicado por mais tempo, não estavam aptos a herdar a terra. 

O tratamento igualitário dispensado pelo Senhor da Vinha aos trabalhadores que chegaram posteriormente causou inconformismo nos que haviam chegado mais cedo, levando-os a questionar o Senhor. Esse ato revelou um coração tomado pela inveja. Assim, a resposta veio: 'Companheiro, não estou sendo injusto contigo. Não ajustaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai. Quero dar a este último tanto quanto a ti. Não posso fazer o que desejo com o que é meu? Teu olho é invejoso porque eu sou generoso? 

Um coração dominado por inveja e ciúme não vibra em sintonia com a mansidão. A parábola nos convida a refletir sobre esta imperfeição moral, que ainda marca presença em muitos de nós que habitam a Terra.

A inveja difere da cobiça. Enquanto a cobiça é o desejo de possuir o que pertence a outro — e, apesar de negativa, é um mal menor — a inveja é a perversa satisfação em ver ou causar a ruína da felicidade alheia, seja em conquistas morais ou materiais.

A inveja é uma profunda falha de caráter, um veneno que corrompe o coração. É uma enfermidade altamente nociva, pois é matriz de muitos males. Inclusive, foi essa falha que motivou o exílio de muitos espíritos para nosso planeta, incluindo os capelinos. 

O canto de dor dos espíritos exilados encontra-se representada nos primeiros capítulos da Bíblia. As imagens simbólicas de Adão e Eva, expulsos do paraíso, e de Caim, que mata Abel movido pela inveja, servem como advertências às futuras gerações: um aviso para não caírem nos mesmos padrões comportamentais que os distanciaram de Deus. 

A inveja é um sentimento presente apenas nos corações dos espíritos menos evoluídos. Isso é evidenciado na resposta à questão 970 do 'Livro dos Espíritos'. Como a Terra está destinada a elevar-se na hierarquia dos mundos, cabe a nós aprimorar nosso padrão vibratório. Apenas assim estaremos aptos a continuar nossas reencarnações neste planeta. 

À medida que nosso planeta avança rumo a uma nova Era, apenas os espíritos que se libertarem das amarras do mal continuarão a reencarnar aqui. A inveja, destacada na parábola, é uma raiz do mal, surgindo do orgulho, vaidade e egoísmo.

Na questão 933 do 'Livro dos Espíritos', é afirmado que a inveja e o ciúme são como torturas da alma; são como vermes que corroem e destroem psicologicamente quem os sente.

Dessa forma, a parábola funciona como um chamado de Jesus para superarmos a inveja dentro de nós, assumindo, com humildade, o reconhecimento de que ainda carregamos essa imperfeição em nossos corações

Reconhecer a existência do mal, sua magnitude e esfera de influência, é essencial para compreendê-lo e, consequentemente, dominá-lo. Um guerreiro está preparado para combater apenas os inimigos que reconhece. Admitir a presença do mal em nosso coração é o primeiro passo rumo à sua superação.

O subsequente e crucial passo para subjugar esse adversário interno é a conscientização de nossa dependência da graça divina. Ao orarmos a Deus, solicitando Sua ajuda para superar as mazelas da inveja e do ciúme, conectamo-nos às forças cósmicas que sustentam a harmonia do universo. 

Joana de Angelis, no livro 'Em Busca da Verdade', aconselha-nos a cultivar sentimentos nobres com genuína alegria. Devemos encontrar satisfação na felicidade alheia, especialmente se almejamos seguir os ensinamentos de Jesus





sábado, 19 de maio de 2018

PARÁBOLA DAS DEZ VIRGENS



O reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo. E cinco delas eram prudentes, e cinco insensatas. As insensatas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas. E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram. Mas à meia-noite ouviu-se um clamor: Aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro. Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós. E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta. E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos. E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis nem o dia e nem a hora. Mateus 25, 1-13.

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 Embora muitas interpretações desta parábola tenham um enfoque escatológico, as palavras de Jesus oferecem múltiplas perspectivas. É plenamente possível entendê-la não apenas como uma visão do fim dos tempos, mas também como um convite ao autoconhecimento. 

Ao utilizar elementos de um casamento tradicional judeu como pano de fundo, Jesus destaca a ideia de uma união cósmica e de uma conexão profunda, como um pilar que sustentará todas as outras imagens e mensagens contidas no texto. 

A parábola descreve o encontro de dez virgens com o noivo. Segundo a tradição judaica, durante a cerimônia de casamento, a noiva era acompanhada por suas amigas no trajeto até o noivo. Este, por sua vez, também caminhava em direção à casa da noiva, ladeado por seus amigos. 

No entanto, na parábola, Jesus omite qualquer menção à noiva, focando apenas em suas amigas, as virgens. Isso se dá porque Jesus não alude a um casamento terreno, mas sim à união entre a humanidade — o Seu rebanho — e Ele mesmo, o divino pastor..

Simbolicamente, Jesus é retratado como o noivo da humanidade, conforme evidenciado em Mateus 9:14-17. Essa representação também é reforçada na resposta à questão 309 do livro "O Consolador", ditado pelo espírito Emmanuel e psicografado por Chico Xavier.

Um dos pontos centrais da parábola é a analogia do reino dos céus com as dez virgens que se dirigem ao encontro do noivo. Jesus frequentemente se referiu ao "reino dos céus", utilizando diversas metáforas e elementos cotidianos da vida do povo judeu para facilitar a compreensão. Em Lucas 17:20-21, o Mestre clarifica sua mensagem, declarando que o reino não se localiza externamente, mas reside no interior de cada indivíduo. Isso sublinha que o "reino dos céus" não é um lugar físico, mas sim um estado interno de harmonia, equilíbrio e regência pelo amor incondicional.

É fascinante observar que as virgens, quando comparadas ao reino dos céus, avançam em direção ao noivo. Isso sugere que esse estado interno de harmonia, equilíbrio e domínio pelo amor incondicional não é algo passivamente recebido, mas sim uma conquista ativa. Está intrinsecamente ligado aos movimentos e esforços da alma em sua jornada evolutiva. 

Destaca-se, neste prisma, os movimentos pelo autoconhecimento. Sem essa introspecção e esforço consciente, é impossível transformar emoções e sentimentos desequilibrados em estados mais harmoniosos.

A escolha do número dez na parábola também é significativa. Na tradição judaica, os números carregam profundos significados simbólicos. O número dez, em particular, representa perfeição e totalidade. Assim, as dez virgens podem ser vistas como um símbolo da busca completa e perfeita pela harmonia interior e pelo amor incondicional.

Na parábola, as dez virgens não representam uma unidade perfeita e coesa, pois enquanto metade delas é descrita como prudente, a outra metade é caracterizada como imprudente. Assim, a imagem das dez virgens ilustra uma totalidade que, apesar de completa, possui suas metades em desequilíbrio.

Esta analogia pode ser estendida à humanidade atualmente encarnada no planeta. Em um mundo de provas e expiações como o nosso, o psiquismo humano, devido aos seus inúmeros conflitos internos, apresenta-se fragmentado. Existe uma parte de nós que é consciente e conhecida, enquanto outra permanece oculta e misteriosa. Há uma faceta que age com prudência e discernimento, e outra que pode ser impulsiva e até assustadora. Da mesma forma, enquanto uma parte de nós consegue controlar e dominar nossas tendências, a outra pode estar repleta de imperfeições e vícios que, por vezes, sobrepõem-se à nossa razão. Esta dualidade reflete a contínua luta interna que muitos enfrentam em sua jornada espiritual e evolutiva.

Joana de Angelis, através da série psicológica psicografada por Divaldo Franco, faz alusão ao pensamento de Carl Jung para elucidar aspectos profundos da psique humana. Segundo essa perspectiva, a parte desconhecida da personalidade abriga conteúdos psíquicos que o EU (ou SELF, conforme a terminologia junguiana) não reconhece conscientemente. Estes conteúdos estão armazenados no que é chamado de inconsciente profundo.

Este repositório oculto do inconsciente muitas vezes exerce uma influência poderosa sobre nossas ações e decisões, levando-nos, em certas ocasiões, a agir de maneiras que nos surpreendem e até mesmo contradizem nosso entendimento consciente de nós mesmos. É como se houvesse uma força interna, muitas vezes não reconhecida, que direciona certos aspectos de nossa vida.

Dada a influência profunda e, por vezes, misteriosa do inconsciente sobre o comportamento humano, não é surpreendente que o autoconhecimento tenha sido um tema recorrente nas parábolas de Jesus. Ele enfatizou a importância de olhar para dentro, de reconhecer e integrar todas as partes de nós mesmos, para viver uma vida mais plena e alinhada com o amor e a verdade divinos. 

Outro aspecto marcante da parábola é o sono que acomete todas as virgens. Mesmo estando equipadas com suas lamparinas, em determinado ponto da espera pelo noivo, todas adormecem devido à sua demora.

O sono, neste contexto, pode ser interpretado como uma metáfora para a inércia espiritual. Representa a estagnação e a inatividade do espírito, simbolizando a ausência do esforço contínuo e necessário para o autoconhecimento. Esse estado de "sono" reflete o comodismo, o desinteresse e o descaso na jornada de despertar da consciência. É uma postura passiva diante da vida e da evolução espiritual.

Essa inércia, simbolizada pelo sono, prende o ser humano ao estágio evolutivo em que se encontra, atuando como uma espécie de anestesia para a vontade e o ímpeto de crescimento. Em vez de avançar e buscar a iluminação e o entendimento, a alma permanece adormecida, perdendo oportunidades valiosas de evolução e aprendizado.

O momento em que as virgens são despertadas pela chegada inesperada do noivo é, sem dúvida, o clímax da parábola. Jesus, em sua maestria, utiliza simbolismos profundos e transcendentais para transmitir seus ensinamentos. A chegada do noivo à meia-noite não é um detalhe trivial. A meia-noite, marcada pelo encontro dos ponteiros do relógio, simboliza o fim de um ciclo e o início de outro. 

Dentro desse contexto, a chegada do noivo nesse momento específico sugere que o despertar espiritual pode ocorrer justamente quando menos esperamos, no limiar entre duas fases de nossa existência. É um lembrete de que a oportunidade para a transformação e o crescimento espiritual pode surgir a qualquer momento, e que devemos estar sempre preparados e vigilantes para recebê-la.

Nas cartas de Paulo aos Romanos, capítulo 13, versos 11-12, destaca-se a advertência do apóstolo do Cristo: “Reconheceis o momento em que viveis, já é hora de despertar do sono. A noite está avançada, o dia se aproxima. Rejeitemos, pois, as obras das trevas, e vistamo-nos das armas da luz.”

A parábola aponta para o despertar da consciência, porque a humanidade já se encontra em condições de realizá-la. Ao despertarem, as virgens percebem que não podem mais seguir juntas, porque durante o sono suas lamparinas se apagaram e metade delas não tinha azeite suficiente para mantê-las acesas.

 As virgens insensatas representam as máscaras que criamos para sustentar nossas pseudo-virtudes. Quando o ser humano não busca o autoconhecimento, quando se recusa a aceitar-se, quando não se perdoa, alimenta para si falsas virtudes, numa tentativa ilusória de compensar-se, acreditando ser o que não é. 

Todo movimento ilusório, do ponto de vista psicológico, um dia perde o combustível e não consegue sustentar-se, levando o ser a experimentar, muitas vezes, um despertar doloroso, como aconteceu com as virgens que, só então, perceberam o quanto se equivocaram.

Surge, novamente, a necessidade de se autodescobrir, para o trabalho de transformação moral, abandonando as máscaras e todos os outros artifícios psicológicos que evitam o despertar da consciência, rumo a plenitude espiritual.

Por fim, pondere-se que a separação das virgens, retrata a divisão de um todo. No caso da parábola, metade luz, metade trevas. Neste aspecto, já advertira o Cristo: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído. Toda cidade, toda casa dividida contra si mesma não pode subsistir”. Mateus 12:25.

Jesus termina a parábola recomendando orai e vigiai porque não sabemos o dia e a hora.

Aproveitar a encarnação para o exercício do autoconhecimento é missão de todos aqueles que buscam os patamares superiores da vida. O relógio da imortalidade já marcou meia noite. É chegada a hora!




 

 

domingo, 22 de abril de 2018

PARÁBOLA DO GRANDE BANQUETE




Um certo homem preparou um grande banquete e convidou a muitos. Na hora do banquete, enviou seu servo avisar os convidados: Vinde, já está preparado. E todos, um após um, foram se desculpando. O primeiro disse: Comprei um terreno e preciso examiná-lo; por favor, aceite minhas desculpas. O segundo disse, comprei cinco juntas de bois e vou prová-los por favor, aceite minhas desculpas. O terceiro disse: acabo de casar e não posso ir. O Servo voltou para informar o senhor. Então o senhor da casa, irritado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e vielas da cidade e trazei para cá os pobres, mutilados, cegos e coxos.  O servo lhe disse: Senhor, foi feito como ordenastes, e ainda sobra lugar. O senhor disse ao servo: Sai pelos caminhos e atalhos e obriga-os a entrar, para que a minha casa se encha. Lucas 14:16-24.


A parábola congrega elementos com o objetivo de ilustrar a realidade do espírito imortal, que, por iniciativa própria, deve caminhar em direção a Deus, buscando a perfeição. Nesta longa e desafiadora jornada, o espírito reencarna diversas vezes em mundos materiais que espelham seu universo íntimo. Nestes mundos, ele vivencia experiências condizentes com seu estágio evolutivo, capacitando-se para habitar em esferas mais elevadas. Ao alcançar a perfeição, finalmente compreenderá Deus. 
Todos os seres criados por Deus têm como destino a perfeição. É uma fatalidade da qual ninguém pode escapar. O ser humano pode estacionar em sua jornada, mas não pode evitar o progresso, pois Deus exerce sobre todos os seus filhos uma força magnética à qual, cedo ou tarde, ninguém consegue resistir. Evoluir em direção a Deus é o destino de todos, seja através das experiências do amor ou pelas lições da dor.
O grande tema da parábola do grande banquete é justamente esse. O homem que organizou o banquete simboliza Deus. A ideia do banquete foi empregada para representar a comunhão. Para os judeus, um banquete era uma ocasião especial, reservada apenas para convidados de grande importância, com os quais o anfitrião desejava estabelecer uma relação íntima. 
A imagem de um homem que organiza um banquete e convida muitos ilustra a concepção de que Deus espera por todos os seus filhos para uma profunda comunhão. Esta comunhão plena só será alcançada quando o espírito atingir a perfeição, conforme abordado na questão 11 do Livro dos Espíritos.
11. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?
Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá. 
Na parábola, o homem prepara o banquete e envia seu servo para convidar e informar a muitos que tudo estava pronto. Os dois verbos iniciais, "convidar" e "avisar", simbolizam os chamados e os alertas do amor. 
O primeiro servo da parábola personifica o convite de Deus para a evolução através do amor. Cada experiência vivenciada pelo ser em sua trajetória é um chamado de Deus, incentivando-o a evoluir pelo caminho do amor. 
Todas as oportunidades que o ser tem para interagir no mundo são instrumentos providenciados por Deus para ajudá-lo na missão de refinar sentimentos e adquirir conhecimentos. No entanto, muitas vezes, essas oportunidades são desperdiçadas em busca de ilusões e devaneios pessoais.  
Na parábola, o primeiro servo, simbolizando o amor, sai para avisar os convidados de que o banquete estava pronto. Contudo, todos, sem exceção, declinam o convite, alegando estarem imersos em compromissos mundanos, como cuidar do patrimônio, dedicar-se ao trabalho e manter relações afetivas. 
É interessante perceber que as responsabilidades atribuídas por Deus aos espíritos que habitam mundos de provas e expiações, como a Terra, estão intrinsecamente ligadas ao trabalho, relações afetivas e gestão do patrimônio. 
É justamente nessas áreas de atuação que o ser encarnado tem a oportunidade de aprimorar suas virtudes ou, em contrapartida, acumular sérias dívidas diante da lei divina. Torna-se evidente que todos os equívocos e transgressões humanas, assim como todas as suas vitórias morais, ocorrem no âmbito do patrimônio, das relações afetivas e do trabalho
Na parábola, os convidados declinam o convite para o banquete, pois todos eles colocavam o trabalho, o patrimônio e as relações afetivas como centrais em suas vidas. Em outras palavras, todos os interesses dos convidados orbitavam em torno desses três pilares.
Neste aspecto, a parábola serve como um aviso. Trabalho, dinheiro, família e relações afetivas são, de fato, oportunidades evolutivas para o espírito encarnado em mundos de provas e expiações. Eles representam valiosa oportunidade de crescimento espiritual. No entanto, não devem ter um poder tão dominante sobre o ser humano a ponto de estagnar seu progresso em direção a Deus.
Quando o servo retorna e relata que os convidados declinaram o convite para o banquete, o homem ordena que ele saia novamente e traga os pobres, mutilados, cegos e coxos. 
O significa isso? Quem é o segundo servo? 
Ao desperdiçar oportunidades de evolução através do exercício de virtudes e da aquisição de conhecimentos nas experiências vividas no âmbito do trabalho, patrimônio e relações afetivas, o indivíduo acumula sérios débitos para consigo mesmo. Assim, mais tarde, ele é conduzido, e não apenas convidado, a evoluir por meio de experiências expiatórias
O segundo servo simboliza a expiação. Por essa razão, Jesus emprega o verbo 'trazer' (ou 'buscar', dependendo da tradução do texto) ao se referir a ele. Esse uso verbal destaca uma certa imposição. Daí a menção aos pobres, cegos, coxos e mutilados. Estes não representam deficiências físicas, mas sim espirituais. Em expiação, encontram-se aqueles que são pobres em amor ao próximo, cegos de espírito, mutilados de coração e coxos em seus sentimentos, todos por não terem aproveitado adequadamente as oportunidades de caminharem em direção a Deus por meio do amor.
As experiências agora são difíceis porque o orgulho cegou a alma, a vaidade mutilou os sentimentos e o egoísmo impediu o amor de expressar-se fraternalmente como Jesus ensinou. 
As experiências expiatórias despertam na alma humana dois sentimentos distintos: resignação e revolta.
A resignação conduz o espírito de volta ao caminho do amor, pois reconhece que os desafios presentes são reflexos de erros passados. Essa aceitação diante das adversidades é a manifestação da compreensão profunda das palavras de Cristo: "Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.
Já a revolta tem um efeito paralisante sobre o espírito, fazendo-o estagnar em sua jornada. Esse estado perdura até que, eventualmente, o espírito seja compelido a prosseguir em sua caminhada evolutiva.
O segundo servo, conforme instruído por seu senhor, conduz os sofredores e, ao perceber que ainda havia espaço, foi orientado a sair pelos caminhos e compelir todos a entrar. A escolha do verbo 'forçar' por Jesus não foi aleatória. Ele quis enfatizar que todas as criaturas, inevitavelmente, alcançarão a perfeição, seja pelo caminho do amor ou pelo da dor.
Quando as oportunidades de evolução pelo amor são negligenciadas, o ser é impelido a crescer através de experiências expiatórias. Estas, gradualmente e por meio da resignação, o reconduzirão ao caminho do amor. 
Contudo, se, diante da expiação, a alma opta por nutrir uma revolta silenciosa contra todos e contra Deus, resistindo ao crescimento espiritual, ela será compelida a avançar sob o peso da dor e do sofrimento, em múltiplas vivências, até que reencontre o caminho do amor.
Por isso, na parábola, o último servo tem a missão de, por meio do sofrimento, conduzir todas as almas revoltadas, rebeldes e persistentes no erro a marcharem rumo a Deus.