quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

DOR E SOFRIMENTO



Por que sofremos? Por que, às vezes, as crianças desde tenra idade, inclusive recém-nascidas, parecem carregar consigo um destino de sofrimento? Por que tanto a natureza quanto os animais sofrem? Jesus nos ensinou que o amor é a lei do Universo e que foi por amor que Deus criou todos os seres. Então, por que ainda sofremos?
A pergunta levanta um problema angustiante que pode levar ao pessimismo e à dúvida sobre a existência de Deus. No entanto, o espiritismo surge como uma resposta para as inquietações mais profundas da alma humana, incluindo o problema da dor e do sofrimento.
No capítulo V do livro "O Evangelho Segundo o Espiritismo", no item 2, os Espíritos que colaboraram na codificação do Espiritismo esclarecem que a consolação para todos os sofrimentos está fundamentada na fé inabalável e na confiança na Justiça Divina.
Diante dessa revelação, é crucial compreender o significado de ter uma fé inabalável no futuro e confiar na Justiça de Deus. Esses dois elementos se apresentam como faróis capazes de iluminar a compreensão humana sobre a razão da dor e do sofrimento no mundo.
A fé no futuro está relacionada à certeza da existência das múltiplas reencarnações da alma humana. Essa compreensão nos permite adotar um olhar sereno em relação aos nossos erros, sem cultivar uma consciência de culpa que pode corroer a alma e desencadear diversas enfermidades.
A fé inabalável no futuro nos permite compreender que a reparação dos nossos equívocos é possível, tanto nesta vida atual quanto em futuras existências. 
O correto entendimento da fé no futuro e na justiça divina amplia nossa visão íntima, permitindo-nos compreender nossa condição de espíritos imperfeitos, obras inacabadas de Deus. Essa compreensão nos leva a reconhecer que somos seres suscetíveis à ação de instrumentos necessários para nosso aprimoramento contínuo como seres eternos.
A dor é um dos instrumentos modeladores da alma humana, conforme ensinado por Jesus: "Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados."
A confiança na Justiça de Deus é uma conquista do espírito quando ele compreende que Deus não é um ser vingador que castiga as criaturas pecadoras, mas um Pai Amoroso que educa Seus filhos.
 Por isso, a ideia de castigo divino é uma criação humana. Deus não pune nem castiga, mas educa de acordo com a Lei de Justiça, Amor e Caridade que permeia todo o infinito universo.
Allan Kardec, em seu estudo sobre o sofrimento, no livro "O Espiritismo em sua Expressão Mais Simples", esclarece que além da função educativa, o sofrimento também pode ter a função de cura. Diz o texto:
"As aflições na Terra são os remédios da alma; elas salvam para o futuro, assim como uma operação cirúrgica dolorosa salva a vida de um doente e lhe restitui a saúde."
O médium inesquecível Francisco Cândido Xavier recebeu várias mensagens do mundo espiritual esclarecendo que a dor e o sofrimento são instrumentos que atuam na alma humana com a função de educar, curar e despertar o ser para sua verdadeira realidade espiritual.
A dor e o sofrimento, depois do amor, são forças capazes de transformar profundamente o mundo íntimo da criatura humana. Tanto é assim que inúmeras pessoas mudaram completamente suas vidas após passarem por sofrimentos dignamente suportados.
No capítulo 19 do best-seller "Nosso Lar", o benfeitor espiritual Druso, que é um instrutor na colônia espiritual com o mesmo nome, esclarece que a dor é um ingrediente crucial na economia da vida em expansão. Ele classifica a dor em três categorias.
1   Dor evolução: é a dor que impulsiona o ser em direção ao futuro, buscando seu aprimoramento de acordo com a lei do progresso, e é por isso que se manifesta em todos os seres vivos. Isso também se aplica ao ser humano em suas sucessivas reencarnações. Se a alma vivesse livre de aflições desde suas primeiras experiências na Terra, ela permaneceria inerte, passiva e ignorante das verdades profundas e das forças morais latentes em seu interior. A dor evolução são, portanto, experiencias dolorosas que levam o ser humano a aprimorar a inteligência, completa León Denis, no livro O Problema do ser, do destino e da dor.
Dor-expiação: relaciona-se com o passado espiritual, marcando o ser humano no caminho dos séculos, resgatando-o dos erros cometidos para regenerá-lo perante a Justiça Divina. Decorre do mau uso do livre arbítrio contra si mesmo ou lesando os outros. É na luta do presente que corrigimos as lutas de ontem. 
Dor auxílio: manifesta-se no presente. São provas que enfrentamos sem qualquer relação com nossos enganos praticados no passado. A dor auxílio tem a finalidade de limitar nossas ações por meio de enfermidades prolongadas e dolorosas, com o objetivo evitar que nos endividemos mais. Tem também a finalidade de preparar o ser para a desencarnação.
Pode-se dizer, assim, que a dor evolução aprimora o ser para o futuro, a dor expiação resgata o ser de seu passado, e, a dor auxílio fortalece e prepara o ser para o presente.
É importante ressaltar que o "Evangelho Segundo o Espiritismo" esclarece que nem toda dor e sofrimento são necessariamente resultado da aplicação direta da Justiça Divina.
Há dores e sofrimentos que são  decorrência natural do mal que impera em mundos primitivos e em mundos de provas e expiações.  Há outras, ainda, que estão relacionadas às necessidades da criatura humana na atual existência, sem qualquer vínculo com provas ou expiações.
Neste sentido, recomenda-se a leitura do texto em João 9:1-3, que relata o encontro de Jesus com o cego de nascença. Além disso, sugere-se a leitura do livro "Missionários da Luz", especificamente o capítulo 12, escrito por Francisco Cândido Xavier. Essas fontes proporcionarão insights e reflexões sobre o tema abordado.
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Não basta sofrer simplesmente para acender à glória espiritual. Indispensável é saber sofrer, extraindo as bênçãos de luz que a dor oferece ao coração sequioso de paz. Emmanuel, Vinha de Luz, cap. 80