quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

AUXÍLIO ESPIRITUAL



Diante das adversidades que enfrentamos, devemos superá-las sozinhos, ou podemos esperar a intervenção divina em nossas vidas?

A trajetória da humanidade no planeta revela que, desde tempos imemoriais, o ser humano sempre buscou o auxílio de entidades imateriais para suas questões mais profundas. Assim, o intercâmbio espiritual é uma prática antiga, não exclusiva da doutrina espírita.

Contudo, é a Doutrina Espírita que nos esclarece sobre este assunto, pois muitas vezes rogamos por socorro divino em nossas aflições, e o auxílio, tal como esperamos, não se manifesta. Certamente, muitos já ouviram ou proferiram frases como: "Se Deus realmente existisse, não permitiria que eu passasse por tal dificuldade." Há quem questione a aparente prosperidade dos injustos em contraste com o sofrimento dos justos.

No entanto, o espiritismo revela que não estamos desamparados no mundo. O auxílio espiritual é constantemente oferecido. Todos temos um mentor espiritual dedicado à nossa proteção. "O Livro dos Espíritos" traz esclarecimentos valiosos a este respeito, explicando a natureza e a missão dos Espíritos protetores.

Pergunta 489: Há Espíritos que se ligam particularmente a um indivíduo para protegê-lo?” Resposta: Há o irmão espiritual, o que chamais o bom Espírito ou o bom gênio.

(Pergunta 490) Que se deve entender por anjo de guarda ou anjo guardião? Resposta: “O Espírito protetor, pertencente a uma ordem elevada.

(Pergunta 491) “Qual a missão do Espírito protetor?” Resposta: A de um pai com relação aos filhos; a de guiar o seu protegido pela senda do bem, auxiliá-lo com seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, levantar-lhe o ânimo nas provas da vida.

(Pergunta 492) “O Espírito protetor se dedica ao indivíduo desde o seu nascimento?” Resposta: Desde o nascimento até a morte e muitas vezes o acompanha na vida espírita, depois da morte, e mesmo através de muitas existências corpóreas, que mais não são do que fases curtíssimas da vida do Espírito.

O benfeitor espiritual Emmanuel, no livro "Caminho, Verdade e Vida", psicografado por Francisco Cândido Xavier, nos alerta sobre a tendência de buscar socorro espiritual apenas em momentos de dificuldade.

O espiritismo nos assegura que os amigos espirituais, autorizados pelas Esferas Superiores, estão sempre prontos a nos auxiliar. Não há mal algum em pedir a Deus, a Jesus ou aos espíritos amigos por ajuda em nossas dificuldades.

Jesus, em Mateus 7:7-11, nos encoraja a pedir, buscar e bater, assegurando que receberemos, encontraremos e nos será aberto. No entanto, é crucial entender que o auxílio divino nem sempre se manifesta conforme nossos desejos. Muitas vezes, não compreendemos que as aflições podem ser degraus essenciais em nossa evolução espiritual.

Os espíritos esclarecem que não é lógico esperar que tudo o que pedimos em prece seja concedido imediatamente, e seria injusto acusar a Providência por não atender a todas as súplicas. Deus, como um pai amoroso, sabe o que é melhor para nós e, muitas vezes, permite o sofrimento como parte de um processo de cura e crescimento.

Há uma história vivida por Chico Xavier quando tinha apenas 5 anos de idade, narrada no livro "Lindos Casos de Chico Xavier". Quando Chico tinha 5 anos, sua mãe desencarnou, e como seu pai tinha que trabalhar o dia todo, não podia cuidar dos 10 filhos que ficaram órfãos. Então, ele distribuiu os filhos entre os parentes. Chico foi entregue à sua madrinha, Dona Rita de Cássia, uma pessoa bastante destemperada e espiritualmente perturbada. Devido a suas perturbações, ela frequentemente agredia Chico com varas de marmelo e o feria com a ponta de um garfo, deixando o corpo do menino todo machucado.

Um dia, exausto de tanto sofrer, Chico orou fervorosamente a Deus, suplicando por socorro. Foi então que o espírito de sua mãe apareceu. Ele a abraçou, feliz, e lhe disse:

  • Mamãe, não me deixe aqui... Leve-me com a senhora...
  • Não posso, - respondeu a entidade, tristemente.
  • Estou apanhando muito, mamãe! - Chico exclamou. Dona Maria, então, acariciou-o e explicou:
  • Tenha paciência, meu filho. Você precisa crescer mais forte para o trabalho. E quem não sofre, não aprende a lutar.
  • Mas, - insistiu a criança - minha madrinha diz que estou com o diabo no corpo.
  • Que tem isso? Não se incomode. Tudo passa, e se você não mais reclamar, se tiver paciência, Jesus ajudará para que estejamos sempre juntos.

Vejam o conselho da mãe a ele: tudo passa, tenha paciência, quem não sofre não aprende a lutar.

Imaginem o quanto aquela mãe se afligiu ao ver as lágrimas do filhinho de apenas 5 anos, sofrendo verdadeira tortura pela madrinha desequilibrada. Imaginem o quanto ela gostaria de carregá-lo no colo e tirá-lo dali imediatamente. Mas Chico tinha uma missão, e ele precisava aprender a suportar, a perdoar e a ser forte desde pequeno

A história de Chico Xavier, desde sua infância, é um exemplo poderoso de paciência e fé diante do sofrimento. Suas experiências nos ensinam que muitos dos nossos problemas são lições necessárias para nossa evolução.

Quando compreendemos que a ajuda não vem como pedimos e que os problemas são necessários ao nosso aprendizado como espíritos imortais, o auxílio divino se manifesta, clareando nossa visão e acalmando nosso coração. O problema pode persistir, mas nossa capacidade de enfrentá-lo muda drasticamente.

O livro "Ceifa de Luz" nos lembra que toda dor e dificuldade traz uma lição necessária ao nosso crescimento espiritual. Paulo, em suas epístolas, também reflete sobre a importância do sofrimento e a força que Deus nos oferece para superá-lo.

Emmanuel conclui, enfatizando que, embora os auxílios do invisível sejam incontestáveis, é essencial que não nos tornemos dependentes dessa forma de cooperação. Devemos aprender a caminhar sozinhos, utilizando nossa independência e vontade para o que é justo e útil, conscientes de que estamos no mundo para aprender e não podemos esperar que a espiritualidade resolva problemas que são nossos para solucionar.

Somos, portanto, eternos aprendizes das Leis divinas e não podemos esquecer que não devemos esperar da espiritualidade a solução dos problemas que competem a nós, como alunos, solucionar.