A Transição Planetária: Uma Análise Espírita da Renovação da Terra
Vivemos atualmente os primeiros dias do terceiro milênio no nosso planeta, assim como o fenômeno da grande transição, conforme enunciado por Jesus no discurso escatológico, registrado pelos evangelistas Marcos, Mateus e Lucas.
A transição planetária sugere que o planeta está deixando para trás milênios de provas e expiações, ingressando lentamente em uma nova era, em conformidade com a lei do progresso. Isso porque nada e ninguém escapa às leis divinas.
O fenômeno transcorre marcado pelas características das duas etapas, onde os elementos de uma fase se misturam com os da outra. É por essa razão que o mundo vivencia extremos: presenciamos perversidades e crueldades sem precedentes, mas, simultaneamente, testemunhamos expressões de amor e fraternidade em uma intensidade nunca vista.
A Lei da Transição na Natureza
Ao observarmos a natureza, a lei da transição se torna evidente em todos os seus fenômenos. O dia não cede espaço à noite sem a transição do crepúsculo. Da mesma forma, as estações do ano, o ciclo lunar e as fases da vida humana, do nascimento à velhice, são marcados por nítidos períodos de mudança.
Sendo Deus o autor de todo o universo, todos os planetas estão também submetidos à lei do progresso. Assim, entre um ciclo planetário e outro, existe um período de transição, como o que atualmente vivenciamos na Terra.
A Visão Espírita da Transição
A Terra esteve material e moralmente num estado inferior ao em que hoje se acha, e atingirá, sob esse duplo aspecto, um grau mais elevado. Ela chegou a um dos seus períodos de transformação, em que, de mundo expiatório, tornar-se-á mundo regenerador. Os homens, então, serão felizes na Terra, porque nela reinará a lei de Deus.
Allan Kardec, no livro Gênese, cap. 18, item 08, reproduz o relato do espírito Arago:
"Quando se vos diz que a Humanidade chegou a um período de transformação e que a Terra tem que se elevar na hierarquia dos mundos, nada de místico vejais nessas palavras; vede, ao contrário, a execução da uma das grandes leis fatais do Universo, contra as quais se quebra toda a má vontade humana".
Os Evangelhos e a Transição
Os Evangelhos de Marcos 13, Mateus 24 e Lucas 21 registram o discurso escatológico de Jesus. Nesses textos, os discípulos perguntam ao Mestre sobre como identificar os sinais do fim do mundo. Jesus, então, esclarece-lhes, apontando os sinais dos tempos.
É importante destacar que as expressões bíblicas "fim do mundo", "consumação dos séculos" e "fins dos tempos" não indicam um final do mundo no sentido de uma destruição definitiva. Isso porque não existe um "fim" per se, mas um eterno ciclo de recomeços. O término de um ciclo ou de uma fase é simultâneo ao início do próximo. Caso contrário, não faria sentido Jesus prometer, em seu discurso sobre as bem-aventuranças, que os mansos herdarão a Terra. A promessa de que os mansos herdarão a Terra sugere que o planeta não será destruído.
A Terra não será destruída; ao contrário, será renovada. Essa ideia é refletida em muitas das parábolas de Jesus, incluindo a parábola da rede, a do festim de noivas, a do joio e do trigo, e a dos trabalhadores da última hora, dentre outras.
A Renovação da Terra
A Terra renovada servirá como refúgio para espíritos que buscam sua própria renovação moral. Enquanto isso, aqueles que ainda não se sintonizaram com essa nova realidade serão transferidos para outro planeta.
É exatamente isto que Jesus ensina na parábola da rede, que diz o seguinte:
O reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanha toda a qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia; e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora. Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos, e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes.
Interpretação da Parábola da Rede
Na parábola, alguns pontos se destacam para reflexão. O primeiro é a aferição de valores que ocorrerá no final dos tempos. Isso fica evidente quando a rede é lançada ao mar, recolhendo peixes de todas as espécies e quantidades, para somente depois proceder à sua separação. Essa mesma lógica é vista na parábola do joio e do trigo, onde ambos crescem juntos, sendo separados apenas posteriormente.
A Terra pode ser comparada a uma rede lançada ao mar, que reuniu uma vasta quantidade de espíritos. Atualmente, somos pouco mais que 7 bilhões, todos aqui para trabalhar pelo nosso próprio aperfeiçoamento moral dentro de um prazo estabelecido por Deus. Esse momento chegou; é o tempo de avaliação de valores e de separação.
A Aferição de Valores
O segundo ponto de destaque na parábola refere-se à separação entre os espíritos ruins dos justos. Esta diferenciação ocorre entre aqueles comprometidos com sua própria transformação moral e os que persistem no mal. Esta tarefa de separação é realizada por anjos, ou seja, espíritos puros que detêm as rédeas diretoras do planeta Terra.
Isto porque, entre as principais características da transição planetária, destaca-se a aferição de valores morais dos habitantes da Terra. Neste processo, os Espíritos verdadeiramente comprometidos com sua evolução moral herdarão o planeta renovado. Por outro lado, aqueles que conscientemente escolhem persistir no erro e no mal serão naturalmente conduzidos a reencarnar em outro mundo, onde conviverão com Espíritos de similar padrão evolutivo. É importante compreender que este exílio não constitui uma punição, mas representa uma manifestação do amor infinito e da misericórdia do Pai, que proporciona a cada filho as condições mais adequadas para seu progresso espiritual.
Emmanuel, no livro a Caminho da Luz, esclarece que "na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma comunidade de Espíritos puros e eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias".
O Exílio Espiritual
Emmanuel também afirma que, no distante passado, essa comunidade de espíritos puros se reuniu com o propósito de trazer à Terra os espíritos exilados do sistema Capela. Essa decisão ocorreu quando um dos orbes daquele sistema planetário estava passando por uma transição.
As grandes comunidades espirituais, que dirigem o cosmos, decidiram, então, enviar aquelas entidades, persistentes no crime, para esta Terra distante. Aqui, através da dor e dos laboriosos desafios do ambiente, elas aprenderiam as nobres conquistas do coração, impulsionando, ao mesmo tempo, o avanço dos seus irmãos mais atrasados.
O Simbolismo do Fogo e da Renovação
O terceiro ponto que se destaca na parábola é a menção às expressões "fogo e ranger de dentes". Elas são simbólicas, proferidas numa era em que a mentalidade limitada das pessoas não conseguia compreender o significado cósmico embutido nelas.
Quando Jesus afirma que os anjos separarão os maus dos justos e os lançarão na fornalha de fogo, onde haverá pranto e ranger de dentes, Ele está se referindo simbolicamente ao destino dos espíritos persistentes no mal. Esses espíritos reencarnarão em um mundo habitado por muitos outros semelhantes a eles, todos teimosos em suas inclinações negativas. Em mundos de provas e expiações, assim como em mundos primitivos, o mal prevalece.
Naturalmente, em um planeta onde o mal predomina, o sofrimento e a dor são inevitáveis, tal como descrito por Jesus com as palavras "choro e ranger de dentes". A "fornalha de fogo" pode ser entendida como a consciência da culpa. Todo indivíduo que pratica atos de maldade e perversidade, mais cedo ou mais tarde, se vê consumido pelo remorso e pela culpa. E, mesmo que essa consciência cause dor e queime intensamente, ela também possui um poder purificador. Esse fogo interior, por um lado, causa sofrimento, mas por outro, conduz o ser a uma transformação, redirecionando o curso de sua vida rumo a Deus.
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